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Palavra do leitor

Meio-dia e meia-noite

Em seu estudo sobre a "Carta aos Romanos", o teólogo Karl Barth, dentre muitas frases que ressoarão pela eternidade, disse que Jesus é meio-dia e meia-noite. E eu só posso concordar. Jesus é meia-noite quando afirma que no mundo teremos aflições; quando nos pede para carregar a cruz; quando ascende aos céus deixando mais de uma centena de discípulos desapontados; quando chega depois que Lázaro já está morto; quando dorme em meio à tempestade; ou, ainda, quando se deixa prender tão facilmente. Jesus faz parte daquelas horas mais escuras também: horas de medo, de dúvida, de dor e de desespero ou, como já ouvi um dia e sempre repito, dos "getsêmanis" pessoais.

Jesus é meio-dia quando nos encoraja e nos anima afirmando que venceu o mundo; quando comprova que seu jugo é suave e que seu fardo é leve; quando diz que não nos deixará órfãos e que nos enviará o Espírito Consolador; quando manda remover a pedra e manda Lázaro sair; quando ordena aos ventos e eles O obedecem, trazendo calmaria ao mar; quando na cruz, dilacerado e moído, garante-nos a reconciliação com o Pai por meio de seu sangue. Jesus faz parte das horas mais confortantes também: as horas de alívio, de esperança, de afeto, de fé, e de regozijo.

É inevitável passarmos pelo meio-dia e pela meia-noite. Ambos são perigosos. O meio-dia pode turvar sua visão, fazendo com que você ache que mereça viver uma vida de meio-dia, fazendo com que você só seja grato em momentos ensolarados ou, ainda, provocando em você uma busca desenfreada, louca e pueril por meios-dias em todos os lugares e pessoas. Insolação também mata.

Já a meia-noite é fria, sombria e amarga nos lábios. Na névoa noturna você não consegue enxergar muito longe e quanto mais as horas avançam madrugada adentro, mais sozinho você parece estar. Aqui o cobertor é sempre curto e o frio é paralisante. Noites traiçoeiras, como diz a canção. Hipotermia também mata.

Afirmar que Jesus é meio-dia e meia-noite é afirmar que podemos contar com sua presença nos dois momentos. É compreender, assim como Paulo, a viver com escassez ou com fartura. É compreender que o ambiente e as condições que nos cercam não são os mais importantes. Mais importante do que o meio-dia e do que a meia-noite é quem escolhemos como companhia nesses momentos. Mais importante do que a tempestade que ameaça o barco e do que o barco que parece que será partido ao meio, é quem está conosco no barco, ainda que dormindo.

Se você está em Cristo, já há o suficiente para o meio-dia e para a meia-noite. Se você está em Cristo, poderá contar com a paz que excede todo o entendimento, poderá abraçar o sofrimento e saltar de alegria em dias dor e de lamento, poderá olhar para o céu e enxergar o Senhor, ainda que em meio a pedradas, como foi com Estevão. Chamamos disso de "a doce loucura do evangelho".

Rafael de Freitas
Capelão e Coordenador de Missões na Missão Cristo na Estrada
cristonaestrada.com
Queimados - RJ
Textos publicados: 9 [ver]
Site: http://cristonaestrada.com

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