Palavra do leitor
- 21 de agosto de 2012
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A Difícil Arte da Prédica
[ou, a Alegoria em Lucas 7:17-23 por Timóteo Carriker]
O púlpito é alto e sobre a tampa do pódio está escrito, “Senhor, queremos ver a Jesus!”. Em formato de pirâmide, se ao pregador a ‘subida’ (alegoria, ‘exegese malfeita’) for penosa, a ‘descida’ (‘bobagem pregada’) será dolorosa. O risco do tombo é ‘feio’ (alegórico para, ‘falou bobagem’).
Alegoria é diferente de metonímia e consiste na representação de ideias. Na alegoria as figuras representam outra coisa: ‘caveira com dois ossos cruzados’ não é caveira e ossos, é símbolo alegórico para ‘pirataria’. No Rio de Janeiro, o ‘Caveirão’, é o símbolo para o ‘carro blindado’ da PM.
A realidade abstrata (‘pirataria’ e ‘caveirão’) é representada pela ‘caveira e ossos’. E a maneira mais comum de fazer isso é usar analogias, metáforas, imagens e comparação, criando assim uma representação simbólica, mas real. O exemplo clássico é Gálatas 4:21-31.
A alegoria no púlpito é o recurso mais usado hoje: basta uma boa imaginação (joga-se fora o estudo cuidadoso!); é simples e fácil (o povão adora e entende!). Com isso, alegoria, tornou-se tão permissiva, que é quase impossível achar outro substituto (dane-se a Bíblia!).
Uma variante da alegoria mais comum é aquela em que a ‘leitura’ de um texto bíblico é feita tanto mais longe quanto possível for do que Jesus disse, ou, do que os Evangelhos disseram.
Em seu lugar, entra a oferta de ‘reflexões pessoais’ (típica nos artigos do Carriker) como sendo a mais próxima possível, não do sentido dado por Jesus ou Lucas, mas injetando ao texto pensamentos subjetivos e pessoais. O texto serviria, assim, aos propósitos de quem predica.
É um risco enorme! Poucos conseguiram fazer isso com capacidade e inteligência para impedir que o texto servisse de mero pretexto.
C. S. Lewis tinha competência e conseguiu (“Crônicas de Nárnia”). Habilidoso, servia-se de alegorias para fazer uma ‘espécie’ de ‘exegese’, sem cair no erro da alegorização indiscriminada. Admito que seja essa a permanência e valor atual de suas obras.
Em um de seus artigos, carregados da ideia de ‘emoção’, Timóteo Carriker usa Lucas 7:17-23 e abusa da alegoria, começando com a seguinte retórica: “Alguém duvida que João Batista era [sic] homem de Deus?”.
Sacando desta pergunta retórica, esta apontaria para outra questão, segundo Carriker: se João é figura extraordinária, qual a razão da pergunta dos discípulos de João, “Tu [és]..., ou esperamos outro?” (v.19).
Sem firmar-se no texto e ouvir a Jesus em Lucas por boca dos discípulos de João, Carriker pergunta: “... se uma figura da estatura de João não poderia discernir com certeza a verdade a respeito de Jesus, o discernimento é mais fácil para nós, meros mortais?”.
A suposta insegurança de João Barista é representada alegoricamente por falta de percepção. A partir daí o texto discorre sobre discernimento.
E Jesus, disse o quê?
Segundo Carriker, Jesus apontou para as “evidências de seu ministério”. Segundo Lucas, porém, Jesus é aquele referido no livro do profeta Isaías: Deus e Messias. O buraco, portanto, é mais embaixo!
Lucas 4:17-19 (citando Isaías 61) aponta para a pessoa de Jesus, não para seu ministério; e muito menos para virtudes. Em Lucas, Jesus Cristo é o cumprimento do Reino em sua pessoa profetizados.
Lucas está a dizer que Jesus “É” (Deus) e não o que Jesus “faz” (ministério). Lucas é Cristocêntrico, amarrando a revelação do Velho com o Novo Testamento. Carriker vai de virtude.
Carriker não menciona Isaías em seu texto uma única vez. Foi de discernimento, ou, como ele mesmo escreveu, capacidade de “bom senso”.
E o que mais disse Jesus?
Lucas 7:24-28, citando Isaías, que é referido em Malaquias e repetido em Marcos, declara que Jesus aponta para João como aquele que anunciaria sua vinda (dele e do Reino): entre os nascidos de mulher, não há ninguém maior do que João, e o menor no reino é maior que ele (v.28).
Carriker, porém, vai de virtude, discernimento.
Obreiro notável, com larga folha de serviços prestados à igreja brasileira, PCA e IPI, preferiu terminar seu artigo com uma nota melancólica, ao som duvidoso do discernimento: “Nós que estamos no ministério "poderemos" [destaque meu] dizer o mesmo em relação ao nosso ministério?”
Com esse tipo de ‘discernimento’ alheio a Lucas, Marcos, Isaías, Malaquias, eu diria que ‘poderemos’ (futuro do presente) exprime é ‘incerteza’ ou ‘ideia de incerta’ para qualquer tipo de ministério!
Futuro de mera possibilidade, diante do texto de Lucas. O que Carriker obrou em alegoria, faltou-lhe em discernimento cristológico estampado no evangelho. Rendeu-se à alegoria da virtude moral, agora sim, sem discernir Lucas!
__________
PS. “Os neopentecostais não têm muito problema com a Bíblia. Eles a usam, mas como alegoria, e não exatamente o que a Bíblia ensina. Eles pegam um texto e extrapolam a sua mensagem.” (Russell Shedd, Frases, ULTIMATO, edição 337).
O púlpito é alto e sobre a tampa do pódio está escrito, “Senhor, queremos ver a Jesus!”. Em formato de pirâmide, se ao pregador a ‘subida’ (alegoria, ‘exegese malfeita’) for penosa, a ‘descida’ (‘bobagem pregada’) será dolorosa. O risco do tombo é ‘feio’ (alegórico para, ‘falou bobagem’).
Alegoria é diferente de metonímia e consiste na representação de ideias. Na alegoria as figuras representam outra coisa: ‘caveira com dois ossos cruzados’ não é caveira e ossos, é símbolo alegórico para ‘pirataria’. No Rio de Janeiro, o ‘Caveirão’, é o símbolo para o ‘carro blindado’ da PM.
A realidade abstrata (‘pirataria’ e ‘caveirão’) é representada pela ‘caveira e ossos’. E a maneira mais comum de fazer isso é usar analogias, metáforas, imagens e comparação, criando assim uma representação simbólica, mas real. O exemplo clássico é Gálatas 4:21-31.
A alegoria no púlpito é o recurso mais usado hoje: basta uma boa imaginação (joga-se fora o estudo cuidadoso!); é simples e fácil (o povão adora e entende!). Com isso, alegoria, tornou-se tão permissiva, que é quase impossível achar outro substituto (dane-se a Bíblia!).
Uma variante da alegoria mais comum é aquela em que a ‘leitura’ de um texto bíblico é feita tanto mais longe quanto possível for do que Jesus disse, ou, do que os Evangelhos disseram.
Em seu lugar, entra a oferta de ‘reflexões pessoais’ (típica nos artigos do Carriker) como sendo a mais próxima possível, não do sentido dado por Jesus ou Lucas, mas injetando ao texto pensamentos subjetivos e pessoais. O texto serviria, assim, aos propósitos de quem predica.
É um risco enorme! Poucos conseguiram fazer isso com capacidade e inteligência para impedir que o texto servisse de mero pretexto.
C. S. Lewis tinha competência e conseguiu (“Crônicas de Nárnia”). Habilidoso, servia-se de alegorias para fazer uma ‘espécie’ de ‘exegese’, sem cair no erro da alegorização indiscriminada. Admito que seja essa a permanência e valor atual de suas obras.
Em um de seus artigos, carregados da ideia de ‘emoção’, Timóteo Carriker usa Lucas 7:17-23 e abusa da alegoria, começando com a seguinte retórica: “Alguém duvida que João Batista era [sic] homem de Deus?”.
Sacando desta pergunta retórica, esta apontaria para outra questão, segundo Carriker: se João é figura extraordinária, qual a razão da pergunta dos discípulos de João, “Tu [és]..., ou esperamos outro?” (v.19).
Sem firmar-se no texto e ouvir a Jesus em Lucas por boca dos discípulos de João, Carriker pergunta: “... se uma figura da estatura de João não poderia discernir com certeza a verdade a respeito de Jesus, o discernimento é mais fácil para nós, meros mortais?”.
A suposta insegurança de João Barista é representada alegoricamente por falta de percepção. A partir daí o texto discorre sobre discernimento.
E Jesus, disse o quê?
Segundo Carriker, Jesus apontou para as “evidências de seu ministério”. Segundo Lucas, porém, Jesus é aquele referido no livro do profeta Isaías: Deus e Messias. O buraco, portanto, é mais embaixo!
Lucas 4:17-19 (citando Isaías 61) aponta para a pessoa de Jesus, não para seu ministério; e muito menos para virtudes. Em Lucas, Jesus Cristo é o cumprimento do Reino em sua pessoa profetizados.
Lucas está a dizer que Jesus “É” (Deus) e não o que Jesus “faz” (ministério). Lucas é Cristocêntrico, amarrando a revelação do Velho com o Novo Testamento. Carriker vai de virtude.
Carriker não menciona Isaías em seu texto uma única vez. Foi de discernimento, ou, como ele mesmo escreveu, capacidade de “bom senso”.
E o que mais disse Jesus?
Lucas 7:24-28, citando Isaías, que é referido em Malaquias e repetido em Marcos, declara que Jesus aponta para João como aquele que anunciaria sua vinda (dele e do Reino): entre os nascidos de mulher, não há ninguém maior do que João, e o menor no reino é maior que ele (v.28).
Carriker, porém, vai de virtude, discernimento.
Obreiro notável, com larga folha de serviços prestados à igreja brasileira, PCA e IPI, preferiu terminar seu artigo com uma nota melancólica, ao som duvidoso do discernimento: “Nós que estamos no ministério "poderemos" [destaque meu] dizer o mesmo em relação ao nosso ministério?”
Com esse tipo de ‘discernimento’ alheio a Lucas, Marcos, Isaías, Malaquias, eu diria que ‘poderemos’ (futuro do presente) exprime é ‘incerteza’ ou ‘ideia de incerta’ para qualquer tipo de ministério!
Futuro de mera possibilidade, diante do texto de Lucas. O que Carriker obrou em alegoria, faltou-lhe em discernimento cristológico estampado no evangelho. Rendeu-se à alegoria da virtude moral, agora sim, sem discernir Lucas!
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PS. “Os neopentecostais não têm muito problema com a Bíblia. Eles a usam, mas como alegoria, e não exatamente o que a Bíblia ensina. Eles pegam um texto e extrapolam a sua mensagem.” (Russell Shedd, Frases, ULTIMATO, edição 337).
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