Opinião
- 05 de janeiro de 2024
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O jovem e suas cargas emocionais
O jovem está diante de um mundo totalmente novo e cheio de possibilidades, mas também de confusão. Enquanto nós, adultos, já fizemos nossas escolhas mais importantes, ele ainda não
Por Lissânder Dias
Joana tem 21 anos, é criativa, engraçada e espontânea. Essas características deram a ela a possibilidade de trabalhar na área de comunicação, especialmente, com vídeos. Todos amam seu jeito original de contar uma história ou defender um argumento.
O que nem todo mundo sabe é que Joana sofre muito – e sofre por falta de saúde mental. Na época da pandemia de Covid-19, ela passava álcool em gel nas mãos a cada minuto, desenvolveu síndrome de pânico e entrou em uma tristeza profunda. Atualmente, melhorou, mas ainda sente os efeitos. Tem dias que não quer se levantar da cama, sofre com depressão e uma angústia intensa com a vida. Joana é evangélica e voluntária em um ministério que apoia jovens, mas a verdade é que faz tempo que não consegue se encaixar em nenhuma igreja. Crê em Deus, mas se sente deslocada - e até desiludida – com igrejas.
A Joana é real, mesmo que seu nome seja fictício (para preservar a identidade). Ela faz parte de uma parcela significativa de jovens que enfrentam problemas mentais, e não são devidamente considerados, nem cuidados.
Cenário
Por Lissânder Dias
Joana tem 21 anos, é criativa, engraçada e espontânea. Essas características deram a ela a possibilidade de trabalhar na área de comunicação, especialmente, com vídeos. Todos amam seu jeito original de contar uma história ou defender um argumento.
O que nem todo mundo sabe é que Joana sofre muito – e sofre por falta de saúde mental. Na época da pandemia de Covid-19, ela passava álcool em gel nas mãos a cada minuto, desenvolveu síndrome de pânico e entrou em uma tristeza profunda. Atualmente, melhorou, mas ainda sente os efeitos. Tem dias que não quer se levantar da cama, sofre com depressão e uma angústia intensa com a vida. Joana é evangélica e voluntária em um ministério que apoia jovens, mas a verdade é que faz tempo que não consegue se encaixar em nenhuma igreja. Crê em Deus, mas se sente deslocada - e até desiludida – com igrejas.
A Joana é real, mesmo que seu nome seja fictício (para preservar a identidade). Ela faz parte de uma parcela significativa de jovens que enfrentam problemas mentais, e não são devidamente considerados, nem cuidados.
Cenário
Segundo a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) da Organização Mundial de Saúde, as condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões em pessoas com idade entre 10 e 19 anos. E ainda: metade de todas as condições de saúde mental começam aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada.
Números1
• Uma em cada seis pessoas tem entre 10 e 19 anos.
• As condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões em pessoas com idade entre 10 e 19 anos.
• Metade de todas as condições de saúde mental começam aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada.
• Em todo o mundo, a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes.
• O suicídio é a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos.
Entre todos esses dados, o que mais me chama a atenção é que a maioria dos casos de saúde mental em jovens não é detectada nem tratada. Por ignorância ou descaso, subestimamos a dor do jovem e, muitas vezes, aumentamos a carga emocional sobre ele, ao invés de ajudá-lo a lidar com a que já tem.
O jovem com quem convivemos está diante de um mundo totalmente novo e cheio de possibilidades, mas também de confusão. Enquanto nós, adultos, já fizemos nossas escolhas mais importantes, ele ainda não. O problema é que as opções se multiplicaram tanto e tão rapidamente que ele parece estar – em um tipo de looping - num supermercado de infindáveis prateleiras. Ainda precisa saber o que fazer da vida (identidade, profissão, relacionamentos, dinheiro, fé, caráter...), mas tudo muda num instante. Deseja liberdade, mas suas raízes familiares estão ameaçadas e não sabe o que fazer com os desejos mais elementares. Quer sucesso, mas não consegue se concentrar para ler um simples livro.
Recursos para lidar com as perdas
A psicóloga e escritora Esther Carrenho explica que a saúde emocional não significa ausência de doença, mas sim ter recursos de enfrentamento e resiliência para lidar com ela. “Enfrentamento é ter recursos para enfrentar as decepções, as frustrações, as perdas, os desastres, enquanto estão ocorrendo. Resiliência é ter ferramentas para aproveitar o que restou depois da tempestade”. Quanto aos possíveis fatores que estão afetando a saúde emocional dos jovens, Esther acredita que as áreas familiar (crises nos casamentos e divórcios), social (pobreza, desigualdade social) e religiosa (decepção com as igrejas, fundamentalismo, manipulação) são fortes. Além delas, há as áreas profissional e emocional, que também – em caso de desequilíbrio - podem decepcionar os jovens, e eles não têm recursos para lidar.
Para a psicóloga (que está com um livro sobre saúde emocional no prelo), a esperança cristã é uma contribuição fantástica para a promoção da saúde mental. “Não é a esperança superficial, do tipo ‘dias melhores virão’, mas sim a esperança viva baseada na certeza de, mesmo diante de tragédias e perdas, há um Deus que me ama, que me acolhe e que tem algo melhor para mim”, diz Carrenho.
Vinde a mim
Enquanto escrevo, me vem à mente as doces palavras de Jesus:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”. (Mt 11.28-30 - ARA).
Aqui, o movimento de Jesus é de oferecer alívio para o peso da vida que carregamos sozinhos. Aqui, ele olha não somente para nosso feed, mas para as dores mais profundas do ser humano. Ele vai além, oferecendo seu próprio colo, seus braços, sua força e seu coração em nosso favor. Essa não é uma boa notícia?
Ao olhar para um jovem, faça como Jesus age com você. Ajude-o a carregar a carga emocional que o aflige e caminhe sinceramente ao seu lado. Isso é Evangelho.
Nota
1. OPAS/OMS
Versão ampliada do artigo O jovem e suas cargas emocionais, publicado na edição 405 de Ultimato.
REVISTA ULTIMATO | DOENÇAS QUE FAZEM SOFRER TAMBÉM OS QUE CREEM
Todas as pessoas – também os que creem – correm o risco de adoecer mentalmente. Há multidões na igreja lutando com problemas de saúde mental. Felizmente, há esperança e ajuda: profissionais da saúde, recursos terapêuticos e medicamentos. Os cristãos podem contar ainda com a ajuda extraordinária de seu Deus. E a igreja deve proporcionar um espaço seguro para estes.
É disso que trata a matéria de capa da edição 405 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais
» Saúde Emocional e Vida Cristã – Curando s feridas do coração, Esly Regina Carvalho
» Um Novo Dia – Deixando para trás ansiedade, fome, controle, vergonha, ira e desespero, Emma Scrivener
» Encorajamento que Vem do Alto – A vida nova que só Deus pode dar, Robert Liang Koo
Números1
• Uma em cada seis pessoas tem entre 10 e 19 anos.
• As condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões em pessoas com idade entre 10 e 19 anos.
• Metade de todas as condições de saúde mental começam aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada.
• Em todo o mundo, a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes.
• O suicídio é a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos.
Entre todos esses dados, o que mais me chama a atenção é que a maioria dos casos de saúde mental em jovens não é detectada nem tratada. Por ignorância ou descaso, subestimamos a dor do jovem e, muitas vezes, aumentamos a carga emocional sobre ele, ao invés de ajudá-lo a lidar com a que já tem.
O jovem com quem convivemos está diante de um mundo totalmente novo e cheio de possibilidades, mas também de confusão. Enquanto nós, adultos, já fizemos nossas escolhas mais importantes, ele ainda não. O problema é que as opções se multiplicaram tanto e tão rapidamente que ele parece estar – em um tipo de looping - num supermercado de infindáveis prateleiras. Ainda precisa saber o que fazer da vida (identidade, profissão, relacionamentos, dinheiro, fé, caráter...), mas tudo muda num instante. Deseja liberdade, mas suas raízes familiares estão ameaçadas e não sabe o que fazer com os desejos mais elementares. Quer sucesso, mas não consegue se concentrar para ler um simples livro.
Recursos para lidar com as perdas
A psicóloga e escritora Esther Carrenho explica que a saúde emocional não significa ausência de doença, mas sim ter recursos de enfrentamento e resiliência para lidar com ela. “Enfrentamento é ter recursos para enfrentar as decepções, as frustrações, as perdas, os desastres, enquanto estão ocorrendo. Resiliência é ter ferramentas para aproveitar o que restou depois da tempestade”. Quanto aos possíveis fatores que estão afetando a saúde emocional dos jovens, Esther acredita que as áreas familiar (crises nos casamentos e divórcios), social (pobreza, desigualdade social) e religiosa (decepção com as igrejas, fundamentalismo, manipulação) são fortes. Além delas, há as áreas profissional e emocional, que também – em caso de desequilíbrio - podem decepcionar os jovens, e eles não têm recursos para lidar.
Para a psicóloga (que está com um livro sobre saúde emocional no prelo), a esperança cristã é uma contribuição fantástica para a promoção da saúde mental. “Não é a esperança superficial, do tipo ‘dias melhores virão’, mas sim a esperança viva baseada na certeza de, mesmo diante de tragédias e perdas, há um Deus que me ama, que me acolhe e que tem algo melhor para mim”, diz Carrenho.
Vinde a mim
Enquanto escrevo, me vem à mente as doces palavras de Jesus:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”. (Mt 11.28-30 - ARA).
Aqui, o movimento de Jesus é de oferecer alívio para o peso da vida que carregamos sozinhos. Aqui, ele olha não somente para nosso feed, mas para as dores mais profundas do ser humano. Ele vai além, oferecendo seu próprio colo, seus braços, sua força e seu coração em nosso favor. Essa não é uma boa notícia?
Ao olhar para um jovem, faça como Jesus age com você. Ajude-o a carregar a carga emocional que o aflige e caminhe sinceramente ao seu lado. Isso é Evangelho.
Nota
1. OPAS/OMS
Versão ampliada do artigo O jovem e suas cargas emocionais, publicado na edição 405 de Ultimato.
REVISTA ULTIMATO | DOENÇAS QUE FAZEM SOFRER TAMBÉM OS QUE CREEM
Todas as pessoas – também os que creem – correm o risco de adoecer mentalmente. Há multidões na igreja lutando com problemas de saúde mental. Felizmente, há esperança e ajuda: profissionais da saúde, recursos terapêuticos e medicamentos. Os cristãos podem contar ainda com a ajuda extraordinária de seu Deus. E a igreja deve proporcionar um espaço seguro para estes.
É disso que trata a matéria de capa da edição 405 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais
» Saúde Emocional e Vida Cristã – Curando s feridas do coração, Esly Regina Carvalho
» Um Novo Dia – Deixando para trás ansiedade, fome, controle, vergonha, ira e desespero, Emma Scrivener
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Lissânder Dias do Amaral é jornalista, blogueiro, poeta e editor de livros. Integra o Conselho Nacional da Interserve Brasil e o Conselho da Unimissional. É autor de “O Cotidiano Extraordinário – a vida em pequenas crônicas” e responsável pelo blog Fatos e Correlatos do Portal Ultimato. É um dos fundadores do Movimento Vocare e ajudou a criar as organizações cristãs de cooperação Rede Mãos Dadas e Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS).
- Textos publicados: 122 [ver]
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Site: http://www.fatosecorrelatos.com.br
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