Opinião
17 de setembro de 2025- Visualizações: 7837
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O crescimento do número de pessoas atípicas e o desafio para a igreja
A neurodiversidade não é uma ameaça à comunhão, é parte dela
Por Davi Nogueira Guedes
Tendências
Certamente você já ouviu acerca de famílias atípicas, referindo-se a famílias com pessoas neurodivergentes, e do crescimento significativo dos diagnósticos para transtornos da neurodiversidade, como autismo (TEA), déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), dislexia, dispraxias diversas, depressão, entre outras condições neuropsiquiátricas. Essa realidade não pode ser ignorada, particularmente falando de ambientes cristãos que ainda não sabem como lidar com essas diferenças cognitivas, comportamentais e emocionais de pessoas atípicas.
Segundo o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais – 5ª edição (DSM-5), publicado pela American Psychiatric Association (APA), o termo neurodivergente descreve pessoas cujas funções cognitivas se desenvolvem de maneira diferente da maioria, afetando a forma de pensar, sentir, comunicar, aprender e interagir. O termo “neuroatípico” é usado para indicar esse desvio da média, enquanto “neurotípico” refere-se a pessoas com funcionamento mental dentro dos padrões esperados pela sociedade.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 100 crianças está dentro do espectro autista. O Ministério da Saúde estima que, no Brasil, o número pode ultrapassar 2 milhões de pessoas com autismo, sem contar outras condições neurodivergentes, ampliando a discussão e compreensão sobre o assunto.
Este cenário exige uma resposta da igreja. O chamado do evangelho é acolher, amar e servir a todos, especialmente os mais vulneráveis. Jesus não evitava pessoas com limitações, comportamentos fora do padrão ou dificuldades sociais; ele as colocava no centro.
O Corpo de Cristo é composto por membros diversos (1Co 12). Assim, a neurodiversidade não é uma ameaça à comunhão, é parte dela. Significa que ignorar, excluir ou negligenciar o cuidado com essas pessoas é negar a diversidade inerente à igreja, reproduzindo padrões do mundo que Cristo veio transformar.
Pesquisas indicam que o nível de estresse vivido por famílias atípicas pode ser comparável ao de soldados em combate, enfrentando isolamento, cansaço extremo e dificuldades emocionais. Em vez de julgamento ou silêncio, essas famílias precisam de cuidado, e a igreja pode ser esse espaço de refúgio, inclusão e aprendizado mútuo.

É missão da igreja atuar também nesse segmento. Promover palestras e seminários de capacitação é um primeiro passo nessa direção. Líderes e voluntários precisam se informar sobre essa realidade, entender seus sinais e aprender como adaptar abordagens. Isso inclui desde evitar sobrecarga sensorial (luzes fortes, sons altos) até treinar professores de escola bíblica dominical para lidarem com diferentes ritmos de aprendizado.
Outra estratégia é exercer o acolhimento real, não apenas com placas de “você é bem-vindo”. É desafiador considerar mudanças estruturais, horários alternativos, linguagens e expressões e outras estratégias de enriquecimento ambiental em prol de pessoas neurodivergentes e famílias atípicas. É necessário investimento na promoção de inclusão, integração e participação com dignidade nos cultos e outras atividades.
Agindo assim, a igreja promove uma cultura de graça. Paulo diz que somos salvos pela graça, mediante a fé, que isso não vem de nós, é dom de Deus; e que não é fruto das nossas próprias obras – e acrescenta: “Pois somos feituras dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.8-10). Deus nos ofereceu um caminho para praticarmos as obras do reino, como expressão da salvação no exercício da missão. Para muitos, ainda impera a ideia de que espiritualidade se mede por comportamento padronizado. Isso exclui quem não consegue performar como o esperado. A igreja precisa redescobrir o evangelho da graça!
O tema ainda é novo, mas isso não pode silenciar a igreja. Rodas de conversa e grupos de apoio podem abrir espaço para escuta, ensino e cura. A sociedade está mudando e a compreensão sobre o funcionamento humano está se ampliando. Ser igreja hoje é também aprender a caminhar com os neurodivergentes, reconhecendo suas dores, dons e, acima de tudo, seu lugar no reino de Deus – afinal, Cristo não veio apenas para os que se encaixam nos padrões eclesiásticos que adotamos, mas para todos a quem ele chama pelo nome.
Artigo publicado originalmente na edição 415 de Ultimato.
REVISTA ULTIMATO – JESUS, A LUZ DO MUNDO
Jesus, o clímax da narrativa da redenção, é a luz do mundo. Não há luz que se compare a ele. Sua luz alcança todo o mundo.
Além de anunciar-se como Luz, Jesus declara que os seus seguidores são a luz do mundo. “Pois Deus que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo brilhou em nosso coração para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2Co 4.6).
É disso que trata a edição 415 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Pessoas: Humanas e Divinas – Ensaios sobre a natureza e o valor das pessoas, Peter van Inwagen
» O que o autismo tem me ensinado, por Davi Daniel de Oliveira
» Reflexões sobre a parentalidade atípica, por Davi Daniel de Oliveira
Por Davi Nogueira Guedes
Tendências
Certamente você já ouviu acerca de famílias atípicas, referindo-se a famílias com pessoas neurodivergentes, e do crescimento significativo dos diagnósticos para transtornos da neurodiversidade, como autismo (TEA), déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), dislexia, dispraxias diversas, depressão, entre outras condições neuropsiquiátricas. Essa realidade não pode ser ignorada, particularmente falando de ambientes cristãos que ainda não sabem como lidar com essas diferenças cognitivas, comportamentais e emocionais de pessoas atípicas.Segundo o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais – 5ª edição (DSM-5), publicado pela American Psychiatric Association (APA), o termo neurodivergente descreve pessoas cujas funções cognitivas se desenvolvem de maneira diferente da maioria, afetando a forma de pensar, sentir, comunicar, aprender e interagir. O termo “neuroatípico” é usado para indicar esse desvio da média, enquanto “neurotípico” refere-se a pessoas com funcionamento mental dentro dos padrões esperados pela sociedade.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 100 crianças está dentro do espectro autista. O Ministério da Saúde estima que, no Brasil, o número pode ultrapassar 2 milhões de pessoas com autismo, sem contar outras condições neurodivergentes, ampliando a discussão e compreensão sobre o assunto.
Este cenário exige uma resposta da igreja. O chamado do evangelho é acolher, amar e servir a todos, especialmente os mais vulneráveis. Jesus não evitava pessoas com limitações, comportamentos fora do padrão ou dificuldades sociais; ele as colocava no centro.
O Corpo de Cristo é composto por membros diversos (1Co 12). Assim, a neurodiversidade não é uma ameaça à comunhão, é parte dela. Significa que ignorar, excluir ou negligenciar o cuidado com essas pessoas é negar a diversidade inerente à igreja, reproduzindo padrões do mundo que Cristo veio transformar.
Pesquisas indicam que o nível de estresse vivido por famílias atípicas pode ser comparável ao de soldados em combate, enfrentando isolamento, cansaço extremo e dificuldades emocionais. Em vez de julgamento ou silêncio, essas famílias precisam de cuidado, e a igreja pode ser esse espaço de refúgio, inclusão e aprendizado mútuo.

É missão da igreja atuar também nesse segmento. Promover palestras e seminários de capacitação é um primeiro passo nessa direção. Líderes e voluntários precisam se informar sobre essa realidade, entender seus sinais e aprender como adaptar abordagens. Isso inclui desde evitar sobrecarga sensorial (luzes fortes, sons altos) até treinar professores de escola bíblica dominical para lidarem com diferentes ritmos de aprendizado.
Outra estratégia é exercer o acolhimento real, não apenas com placas de “você é bem-vindo”. É desafiador considerar mudanças estruturais, horários alternativos, linguagens e expressões e outras estratégias de enriquecimento ambiental em prol de pessoas neurodivergentes e famílias atípicas. É necessário investimento na promoção de inclusão, integração e participação com dignidade nos cultos e outras atividades.
Agindo assim, a igreja promove uma cultura de graça. Paulo diz que somos salvos pela graça, mediante a fé, que isso não vem de nós, é dom de Deus; e que não é fruto das nossas próprias obras – e acrescenta: “Pois somos feituras dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.8-10). Deus nos ofereceu um caminho para praticarmos as obras do reino, como expressão da salvação no exercício da missão. Para muitos, ainda impera a ideia de que espiritualidade se mede por comportamento padronizado. Isso exclui quem não consegue performar como o esperado. A igreja precisa redescobrir o evangelho da graça!
O tema ainda é novo, mas isso não pode silenciar a igreja. Rodas de conversa e grupos de apoio podem abrir espaço para escuta, ensino e cura. A sociedade está mudando e a compreensão sobre o funcionamento humano está se ampliando. Ser igreja hoje é também aprender a caminhar com os neurodivergentes, reconhecendo suas dores, dons e, acima de tudo, seu lugar no reino de Deus – afinal, Cristo não veio apenas para os que se encaixam nos padrões eclesiásticos que adotamos, mas para todos a quem ele chama pelo nome.
- Davi Nogueira Guedes é teólogo, pastor, escritor e palestrante. Casado com Lidiane Reis, neuropsicopedagoga, tem TDAH e é pai de Isabela e José, ambos autistas. Mora em Curitiba e é pastor da Igreja Presbiteriana de Curitiba.
Artigo publicado originalmente na edição 415 de Ultimato.
REVISTA ULTIMATO – JESUS, A LUZ DO MUNDOJesus, o clímax da narrativa da redenção, é a luz do mundo. Não há luz que se compare a ele. Sua luz alcança todo o mundo.
Além de anunciar-se como Luz, Jesus declara que os seus seguidores são a luz do mundo. “Pois Deus que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo brilhou em nosso coração para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2Co 4.6).
É disso que trata a edição 415 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Pessoas: Humanas e Divinas – Ensaios sobre a natureza e o valor das pessoas, Peter van Inwagen
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