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Opinião

Música erudita também é coisa de evangélico

A importância dos evangélicos na formação de músicos eruditos [e profissionais da música]

Por Gutierres Fernandes Siqueira

O compositor Johann Walter (1496-1570) foi o primeiro mentor da música erudita na Reforma Protestante. Walter, que também era poeta, declarou que “onde a Palavra de Deus o coração inflama, bem ali a música logo se encontra”. Martinho Lutero (1483-1546), ao enfatizar a importância do culto na língua do povo, também acabou trazendo para o seio da liturgia a musicalidade popular das ruas e praças. Em nossos dias, a paixão pela música continua no protestantismo evangelical. Embora a face mais visível e midiática da música evangélica seja o worship – uma mistura de rock alternativo e pop-rock –, a música erudita encontra ainda grande espaço em igrejas grandes e pequenas, catedrais e salões da periferia. Como na Reforma do século 16, os protestantes continuam a misturar o erudito com o popular com relativo sucesso, mas também com a tensão sempre presente entre a tradição e o contemporâneo.

Quando falamos em música erudita, as igrejas pentecostais se destacam. A Assembleia de Deus mantém desde 1941, no bairro do Belém, em São Paulo, SP, a Orquestra Filarmônica Evangélica Jahn Sörheim, composta por oitenta músicos, e desenvolve um repertório sacro-erudito de primeira linha. A orquestra até gravou um CD no final dos anos 1990 nas dependências do Teatro Municipal de São Paulo. Na mesma igreja funciona a Associação Musical Jahn Sörheim, escola de música que ensina regência, técnica vocal e prática de coral e orquestra, além dos instrumentos. Sörheim, homenageado pela organização, foi um missionário e compositor norueguêsque pertencia ao Exército de Salvação e que chegou ao Brasil em 1924 para auxiliar as Assembleias de Deus. Essa orquestra forma diversos músicos que desenvolvem seus aprendizados em igrejas da periferia. Os músicos não ficam presos ao repertório de músicas evangélicas, mas aprendem peças de Johann Christian Bach (1735-1782), George Frideric Handel (1685-1759), Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) e, também, bossa nova e música popular brasileira (MPB). A Congregação Cristã no Brasil e a Igreja Cristã Maranata, organizações pentecostais mais coesas liturgicamente, mantêm pequenas orquestras em praticamente todas as igrejas – mesmo nos interiores do Brasil.

A tradição de orquestra e música clássica é tão forte no meio evangélico, que muitos músicos se profissionalizam na área, como o maestro Roberto Minczuk, que hoje é um dos mais respeitados músicos do país e diretor emérito da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB). Minczuk foi criado na Assembleia de Deus Russa de São Paulo e teve o primeiro contato com a música ainda nessa igreja, influenciado pelo pai – que era militar e músico da banda da polícia. Em entrevista ao portal da associação Mozarteum Brasileiro em 2015, Minczuk declarou: “Em todas as orquestras profissionais brasileiras há músicos que vêm das igrejas evangélicas porque no ensino público são poucas as escolas que oferecem essa possibilidade de aulas de música, de ter acesso a um instrumento”. Seu irmão Arcádio Minczuk, que também aprendeu a tocar oboé na igreja, é um dos músicos mais antigos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). Na edição da revista Veja de 6 de junho de 2007, calculava-se que 35% dos músicos da OSESP eram evangélicos – número que certamente é maior passados quinze anos. Esse dado é difícil de mensurar porque, claro, a organização não faz senso religioso.



O jornalista e teólogo Silas Daniel, autor do livro História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CPAD) lembra: “A Assembleia de Deus é a igreja que mais forma instrumentistas. São escolas, muitas vezes, com pouca estrutura física, mas com baixo custo e ótima qualidade, que preparam profissionais para o mercado de trabalho”. Em relação ao mercado, Silas Daniel diz: “Além da participação na igreja e em orquestras, o músico formado na igreja tem um leque na sua trajetória profissional. São instrumentistas, maestros, arranjadores, produtores, entre outros”. Daniel complementa: “Um ambiente onde também é comum encontrar músicos evangélicos é o das bandas sinfônicas das Forças Armadas”.

No passado, quem sustentava as escolas de música eram jovens de classe média alta, mas hoje são crianças e jovens evangélicos – muitos de origem periférica. Em 1524, ainda solteiro, Martinho Lutero, em seu escrito Aos Concelhos de Todas as Cidades da Alemanha, para que Criem e Mantenham Escolas, observou: “Se eu tivesse filhos e tivesse condições, não deveriam aprender apenas as línguas e história, mas também deveriam aprender a cantar e estudar música com toda a matemática. Pois, sendo tudo isso senão meras brincadeiras de criança nas quais os gregos outrora educaram suas crianças e do que resultaram pessoas excelentes, preparadas para toda sorte de atividades”. É interessante observar que muitos pais evangélicos pobres hoje pensam igual ao reformador alemão: a música é educação, oportunidade de servir a Deus e de crescer na vida profissional.

Gutierres Fernandes Siqueira é jornalista e teólogo. É autor de cinco livros, entre eles Quem Tem Medo dos Evangélicos? – Religião e democracia no Brasil de hoje (Mundo Cristão).

Artigo originalmente publicado na edição 399 de Ultimato.

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