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Opinião

Identidades Evangélicas

O culto foi a experiência religiosa central do protestantismo brasileiro, responsável pela construção de sua(s) identidade(s). Ao lado das crenças, das teologias, das instituições e dos discursos, os rituais de culto com sua hinologia e suas formas, foram um dos instrumentos principais de fixação da identidade evangélica primitiva. Por sua vez, os comportamentos sociais reproduziram estas identidades sempre dinâmicas no tempo.
 
De maneira geral, o culto evangélico no Brasil “... procedeu de diferentes canais da tradição das Igrejas livres pós-Reforma e, principalmente, dos re-avivamentos ingleses e americanos somados às formas de culto das fronteiras da expansão norte-americana para o oeste. No Brasil, essas formas de culto se juntaram às condições peculiares da sociedade brasileira, tanto legais como sociais, do século XIX” (MENDONÇA, 1990, p. 172).
 
Os rituais de culto protestante com distintos entendimentos doutrinários foram introduzidos trazendo já uma diversidade interna, oriunda da experiência plural estrangeira. Eles foram praticados inicialmente nas devoções familiares por meio do culto doméstico, reforçados pelo legado pietista e missionário, tendo a pregação e o ensino como momentos centrais da sequência litúrgica. 
 
Portanto, o espaço doméstico foi, por excelência, o primeiro lugar de adoração e de evangelização protestante, que começou sem templos, nas casas e nas ruas, nos relacionamentos no cotidiano, inserindo uma linguagem distinta das religiosidades estabelecidas. Sob a ameaça das perseguições e com as dificuldades de reuniões públicas em locais próprios, os missionários introduziram um padrão de culto marcado pela simplicidade, pelos cânticos traduzidos e pela austeridade na estética (HAHN, 1989). Além disso, os protestantes estavam proibidos, no período imperial, de terem templos à semelhança aos católicos romanos, inclusive com a simbologia da cruz. 
O culto transmitiu e contribuiu na formação de um ethos protestante voltado para a conversão, para a santificação e para o trabalho religioso. Estavam excluídas as dimensão lúdicas da cultura nativa interpretada como pecaminosa, sobretudo o entrudo e o carnaval. O que reforçava esta identidade primitiva era também o ensino por meio das escolas dominicais com o estudo sistemático das escrituras.
 
Sendo assim, a identidade evangélica brasileira foi sendo construída e reforçada pelo culto padronizado e com discursos racionalizados voltados para uma prática que se diferenciava do contexto religioso e social mais amplo. Um contexto marcadamente católico e ausente de regras morais muito claras, sincrético em suas práticas e heranças indígenas e africanas. Ser protestante, então, era ser diferente. E esta ética da diferença formal e exterior expressa no culto e no comportamento fixou-se na sua identidade religiosa e social.
 
No entanto, as condições peculiares da sociedade brasileira criaram formas originais ou determinaram posturas, pensamentos, comportamentos e visões de mundo não diluídas pela imposição de uma ritualística estrangeira. Em outras palavras, os fiéis reinventaram o culto e os rituais, com suas demandas existenciais, heranças culturais e necessidades concretas. Os modos de ser protestante no Brasil foram elaborados historicamente por aqueles que tomaram para si o direito e a reivindicação de fazer o culto.  
 
Ao lado dos outros espaços próprios criados tais como igrejas, templos, associações, hospitais, sociedades bíblicas e missionárias, escolas, seminários teológicos, comitês cooperativos e congressos, os protestantes construíram as suas identidades. Estas instituições formaram ilhas de sentido para a afirmação de um modo de ser que lidava de forma singular com o sagrado (SANTOS, 2006).
 
As identidades mudam de acordo com as mudanças dos modos de se cultuar. É o que presenciamos hoje no mundo evangélico.
 
Fontes Consultadas
ALVES, Rubem. Protestantismo e repressão. São Paulo: Teológica; Loyola, 2005.
VELASQUES FILHO, Prócoro & MENDONÇA, Antonio Gouvêa. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola; Ciências da Religião, 1990.
HAHN, Carl Joseph. História do culto protestante no Brasil. Trad. Antonio Gouvêa Mendonça. São Paulo: ASTE, 1989.
SANTOS, Lyndon de A. As outras faces do sagrado: protestantismo e cultura na primeira república brasileira. São Luis: EDUFMA; São Paulo: Ed. ABHR, 2006.
Lyndon de Araújo Santos é historiador, professor universitário e pastor da Igreja Evangélica Congregacional em São Luís, MA. Faz parte da Fraternidade Teológica Latino-americana - Setor Brasil (FTL-Br).
  • Textos publicados: 35 [ver]

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