Opinião
22 de julho de 2025- Visualizações: 3367
comente!- +A
- -A
-
compartilhar
Fé, perdão e esperança em meio à perseguição na Nigéria
Quando você age com amor, as pessoas começam a perceber que o amor é mais forte que o rancor
Por Marcelo Santos
Entrevista
Fred Williams, 56, pastor, atualmente residente em Londres, compartilhou sua jornada dolorosa e transformadora durante a celebração dos 70 anos da Portas Abertas. Com um relato vívido das dificuldades enfrentadas na Nigéria, Fred detalhou como a fé e o perdão têm sido forças poderosas, tanto em sua vida quanto na vida dos cristãos perseguidos na região.
Ultimato: Pastor Fred, sua jornada na Nigéria é marcada por muita resistência. Como você começou sua missão no país e o que o motivou a continuar, mesmo diante de tanta violência?
Fred Williams: Minha jornada missionária começou nos anos 90, após ser ordenado pastor em 1993. Desde o início, me envolvi na plantação de igrejas no norte da Nigéria, uma região marcada por violência e divisão religiosa. Joss, a cidade onde vivi, era um alvo constante de ataques, principalmente nas décadas de 90 e 2000, devido à forte presença muçulmana. Apesar disso, eu sentia que a missão de espalhar o Evangelho era maior do que qualquer medo. Sabíamos que a perseguição estava ao nosso redor, mas nossa convicção era de que a palavra de Cristo precisava ser ouvida.
Ultimato: Em 2001, sua igreja foi atacada. Pode nos descrever o que aconteceu e como isso impactou sua visão sobre a missão e a fé?
Fred Williams: Em 2001, nossa igreja foi atacada por militantes. Eles chegaram gritando "Allahu Akbar" e rapidamente começaram a incendiar tudo. As igrejas e as propriedades cristãs. Quando vi o fogo e o caos, peguei um rifle, pronto para defender minha família e minha comunidade. Mas naquele momento, Deus me falou: "Em quem você quer atirar, Cristo morreu por eles também". Isso mexeu profundamente comigo. Como poderia eu agir com violência em nome de Cristo? Foi um momento de grande crise espiritual. A decisão de não revidar, apesar do medo e da dor, foi difícil, mas foi a vontade de Deus.
Ultimato: Como você lidou com o trauma e a dor após o ataque, e o que o manteve firme na fé?
Fred Williams: Lidar com o trauma foi difícil. Vi cenas que não consigo esquecer: crianças decapitadas, homens eviscerados e mulheres queimadas vivas. Isso nos marca profundamente. No entanto, o ensinamento de Cristo me sustentou. Sabia que não podia deixar o ódio tomar conta do meu coração. Deus me orientou a não usar a arma, mas a câmera. Decidi documentar o que estava acontecendo para que o mundo visse a realidade da nossa dor. Isso se tornou uma maneira de trazer luz ao mal que estávamos vivendo.

Ultimato: Você tem uma história significativa sobre a sua interação com os pastores Fulani. Quem são os Fulani e como o perdão e a reconciliação se tornaram parte do seu trabalho com eles?
Fred Williams: Os Fulani são um grupo étnico muçulmano, predominantemente nômade, que tem sido responsável por muitos dos ataques a comunidades cristãs na Nigéria. Eles têm invadido vilarejos cristãos, destruindo propriedades e matando famílias. No entanto, após viver toda essa violência, eu senti o impulso de agir de forma diferente. Decidi visitar as vilas Fulani e levar ajuda prática. Instalamos painéis solares em vilarejos para que as pessoas pudessem carregar seus celulares, já que muitos desses locais não têm acesso à eletricidade. No começo, eles estavam muito desconfiados, pois nós, cristãos, éramos os inimigos deles. Mas com o tempo, o relacionamento foi mudando, pois oferecemos algo sem esperar nada em troca. Hoje, estamos começando a construir uma escola para as crianças Fulani. Esse processo de reconciliação e perdão é o que tem o poder de quebrar o ciclo de ódio. Quando você age com amor, as pessoas começam a perceber que o amor é mais forte que o rancor.
Ultimato: A perseguição religiosa na Nigéria continua a aumentar. Como você vê a situação atualmente e o que pode ser feito para ajudar os cristãos que enfrentam esse sofrimento?
Fred Williams: A perseguição nunca foi tão violenta. Grupos como Boko Haram e os pastores Fulani continuam a atacar e matar cristãos, destruir vilarejos e deslocar famílias. A situação está muito mais grave. Mas, apesar disso, a Igreja na Nigéria continua a crescer. Eles não desistem. Mesmo em face da morte, eles se reúnem, oram e continuam a confiar em Deus. O que precisamos agora é de mais oração e apoio internacional. A Portas Abertas tem sido essencial nesse apoio. Continuar a documentar essas atrocidades e fazer com que o mundo saiba o que está acontecendo é fundamental para que a situação não seja ignorada.
Ultimato: Qual é a sua mensagem para os cristãos no Brasil e para todos que acompanham o trabalho da Portas Abertas?
Fred Williams: Minha mensagem é clara: não podemos nos calar diante do sofrimento dos nossos irmãos. Os cristãos perseguidos precisam da nossa voz e das nossas orações. Não podemos nos afastar enquanto nossas irmãs e irmãos estão sendo mortos e torturados por sua fé. A missão da Portas Abertas é vital, e todos devemos continuar a apoiar os cristãos perseguidos em qualquer parte do mundo. A luz de Cristo brilha nas trevas, e onde a luz brilha, as trevas não podem prevalecer. Se nos unirmos, podemos realmente fazer a diferença na vida desses cristãos.
REVISTA ULTIMATO – ADOLESCÊNCIA – ONLINE E OFFLINE
Muito já se falou da adolescência como uma fase crítica da vida, em que as dificuldades próprias da idade inspiram cuidados especiais – o que é ainda mais importante hoje.
Os adolescentes desta geração são o grupo mais impactado pelo ritmo acelerado das mudanças. A matéria dessa edição oferece subsídio para melhor conhecer e atuar com esse grupo. Nos depoimentos dos 12 adolescentes que participam eles pedem: “Acreditem em nós!”.
É disso que trata a edição 414 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Sangue, Sofrimento e Fé – a missão cristã em contextos de perseguição, Antonia Leonora van der Meer | William Taylor | Reg Reimer, ORG.
» O Mundo – uma missão a cumprir, John Stott e Tim Chester
» Um sobrevivente dos ataques do Boko Haram. “Marcado por ser cristão”, Entrevista
» Programa de atendimento a crianças da JMM é atacado por terroristas na Nigéria, Notícia
» Como devemos responder à perseguição de cristãos?, por Yousaf Sadiq
Por Marcelo Santos
Entrevista
Fred Williams, 56, pastor, atualmente residente em Londres, compartilhou sua jornada dolorosa e transformadora durante a celebração dos 70 anos da Portas Abertas. Com um relato vívido das dificuldades enfrentadas na Nigéria, Fred detalhou como a fé e o perdão têm sido forças poderosas, tanto em sua vida quanto na vida dos cristãos perseguidos na região.Ultimato: Pastor Fred, sua jornada na Nigéria é marcada por muita resistência. Como você começou sua missão no país e o que o motivou a continuar, mesmo diante de tanta violência?
Fred Williams: Minha jornada missionária começou nos anos 90, após ser ordenado pastor em 1993. Desde o início, me envolvi na plantação de igrejas no norte da Nigéria, uma região marcada por violência e divisão religiosa. Joss, a cidade onde vivi, era um alvo constante de ataques, principalmente nas décadas de 90 e 2000, devido à forte presença muçulmana. Apesar disso, eu sentia que a missão de espalhar o Evangelho era maior do que qualquer medo. Sabíamos que a perseguição estava ao nosso redor, mas nossa convicção era de que a palavra de Cristo precisava ser ouvida.
Ultimato: Em 2001, sua igreja foi atacada. Pode nos descrever o que aconteceu e como isso impactou sua visão sobre a missão e a fé?
Fred Williams: Em 2001, nossa igreja foi atacada por militantes. Eles chegaram gritando "Allahu Akbar" e rapidamente começaram a incendiar tudo. As igrejas e as propriedades cristãs. Quando vi o fogo e o caos, peguei um rifle, pronto para defender minha família e minha comunidade. Mas naquele momento, Deus me falou: "Em quem você quer atirar, Cristo morreu por eles também". Isso mexeu profundamente comigo. Como poderia eu agir com violência em nome de Cristo? Foi um momento de grande crise espiritual. A decisão de não revidar, apesar do medo e da dor, foi difícil, mas foi a vontade de Deus.
Ultimato: Como você lidou com o trauma e a dor após o ataque, e o que o manteve firme na fé?
Fred Williams: Lidar com o trauma foi difícil. Vi cenas que não consigo esquecer: crianças decapitadas, homens eviscerados e mulheres queimadas vivas. Isso nos marca profundamente. No entanto, o ensinamento de Cristo me sustentou. Sabia que não podia deixar o ódio tomar conta do meu coração. Deus me orientou a não usar a arma, mas a câmera. Decidi documentar o que estava acontecendo para que o mundo visse a realidade da nossa dor. Isso se tornou uma maneira de trazer luz ao mal que estávamos vivendo.

Ultimato: Você tem uma história significativa sobre a sua interação com os pastores Fulani. Quem são os Fulani e como o perdão e a reconciliação se tornaram parte do seu trabalho com eles?
Fred Williams: Os Fulani são um grupo étnico muçulmano, predominantemente nômade, que tem sido responsável por muitos dos ataques a comunidades cristãs na Nigéria. Eles têm invadido vilarejos cristãos, destruindo propriedades e matando famílias. No entanto, após viver toda essa violência, eu senti o impulso de agir de forma diferente. Decidi visitar as vilas Fulani e levar ajuda prática. Instalamos painéis solares em vilarejos para que as pessoas pudessem carregar seus celulares, já que muitos desses locais não têm acesso à eletricidade. No começo, eles estavam muito desconfiados, pois nós, cristãos, éramos os inimigos deles. Mas com o tempo, o relacionamento foi mudando, pois oferecemos algo sem esperar nada em troca. Hoje, estamos começando a construir uma escola para as crianças Fulani. Esse processo de reconciliação e perdão é o que tem o poder de quebrar o ciclo de ódio. Quando você age com amor, as pessoas começam a perceber que o amor é mais forte que o rancor.
Ultimato: A perseguição religiosa na Nigéria continua a aumentar. Como você vê a situação atualmente e o que pode ser feito para ajudar os cristãos que enfrentam esse sofrimento?
Fred Williams: A perseguição nunca foi tão violenta. Grupos como Boko Haram e os pastores Fulani continuam a atacar e matar cristãos, destruir vilarejos e deslocar famílias. A situação está muito mais grave. Mas, apesar disso, a Igreja na Nigéria continua a crescer. Eles não desistem. Mesmo em face da morte, eles se reúnem, oram e continuam a confiar em Deus. O que precisamos agora é de mais oração e apoio internacional. A Portas Abertas tem sido essencial nesse apoio. Continuar a documentar essas atrocidades e fazer com que o mundo saiba o que está acontecendo é fundamental para que a situação não seja ignorada.
Ultimato: Qual é a sua mensagem para os cristãos no Brasil e para todos que acompanham o trabalho da Portas Abertas?
Fred Williams: Minha mensagem é clara: não podemos nos calar diante do sofrimento dos nossos irmãos. Os cristãos perseguidos precisam da nossa voz e das nossas orações. Não podemos nos afastar enquanto nossas irmãs e irmãos estão sendo mortos e torturados por sua fé. A missão da Portas Abertas é vital, e todos devemos continuar a apoiar os cristãos perseguidos em qualquer parte do mundo. A luz de Cristo brilha nas trevas, e onde a luz brilha, as trevas não podem prevalecer. Se nos unirmos, podemos realmente fazer a diferença na vida desses cristãos.
- Marcelo Santos é jornalista e escritor. Trabalha também como ghostwriter e possui passagens por diversos veículos evangélicos e seculares. Atualmente produz e faz as reportagens do programa de rádio Papo de Crente, veiculado, entre outras emissoras, na Rádio Nacional.
REVISTA ULTIMATO – ADOLESCÊNCIA – ONLINE E OFFLINEMuito já se falou da adolescência como uma fase crítica da vida, em que as dificuldades próprias da idade inspiram cuidados especiais – o que é ainda mais importante hoje.
Os adolescentes desta geração são o grupo mais impactado pelo ritmo acelerado das mudanças. A matéria dessa edição oferece subsídio para melhor conhecer e atuar com esse grupo. Nos depoimentos dos 12 adolescentes que participam eles pedem: “Acreditem em nós!”.
É disso que trata a edição 414 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Sangue, Sofrimento e Fé – a missão cristã em contextos de perseguição, Antonia Leonora van der Meer | William Taylor | Reg Reimer, ORG.
» O Mundo – uma missão a cumprir, John Stott e Tim Chester
» Um sobrevivente dos ataques do Boko Haram. “Marcado por ser cristão”, Entrevista
» Programa de atendimento a crianças da JMM é atacado por terroristas na Nigéria, Notícia
» Como devemos responder à perseguição de cristãos?, por Yousaf Sadiq
22 de julho de 2025- Visualizações: 3367
comente!- +A
- -A
-
compartilhar

Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Sessenta +
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Quem são e o que querem os evangélicos na COP30
- Dicas para uma aula de EBD (parte 1): Planeje a aula e o seu preparo pessoal
- Homenagem – Márcio Schmidel (1968–2025)
- Ultimato na COP30
- Vaticano limita a devoção a Maria na Igreja Católica
- Com Jesus à mesa: partilha que gera o milagre
- Acessibilidade no Congresso Brasileiro de Missões (CBM) 2025
- Sociedade Bíblica do Brasil dá início ao Mês da Bíblia 2025
- Geração Z – o retorno da fé?
- Dicas para uma aula de EBD (parte 2): Mostre o que há de melhor no conteúdo
(31)3611 8500
(31)99437 0043
Médicos de Cristo: a ética cristã e o compromisso com a vida humana
EU VI DEUS -- Embalado em caixas, sacos e pacotes de solidariedade, por Jorge Camargo
Tá doendo
Uma valsa da vida em três tempos





 copiar.jpg&largura=49&altura=65&opt=adaptativa)
