Opinião
- 26 de março de 2021
- Visualizações: 5334
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Domingo de Ramos: da entrada "triunfante" ao abandono e humilhação
Por Luiz Fernando dos Santos
A multidão que ia adiante dele e os que o seguiam gritavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito é o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas! (Mt 21.9)
A economia litúrgica da igreja cristã chama o “Domingo de Ramos” de “Domingo da Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém”.
Alguém poderia pensar, e com razão, que a liturgia estivesse se referindo ao acontecimento em si, que foi mesmo apoteótico. Jesus entra na Cidade Santa aclamado como Rei e identificado por muitos como o Rei-Messias. As pessoas soltavam gritos e aclamações em louvor e saudação a Cristo e muitos espalhavam ramos e peças de roupa pelo chão, fazendo como que um tapete real para o solene desfile do sucessor de Davi.
Todavia, desde sempre a igreja reconheceu no domingo que antecede a ressurreição como o início das dores do Salvador, é o início da semana santa ou semana da paixão, cujo clímax, é a crucificação. Então, domingo em que Jesus entra em Jerusalém entre ‘hosanas e aleluias’, aclamado como Rei, é na verdade, quando a temperatura das suas humilhações começa a subir.
Aumentará a tensão com as autoridades religiosas dos judeus, judas se esgueirará nas sombras para pactuar a traição a Jesus e Ele mesmo [Jesus], se sentirá como rei rejeitado e chorará a insensibilidade dos habitantes da Cidade Santa por não o reconhecer, nem o receber. Então, o que há de ‘Triunfante’ nesse episódio de Ramos? Desde domingo até sexta-feira 14 de Nisã, a angústia de Jesus irá aumentando a cada momento e no final da história, a cruz destroçará qualquer expectativa humana de triunfo.
Entretanto, a Bíblia parece ter um enredo que permeia toda a sua narrativa. Antes de uma grande bênção, sempre haverá um tempo de provação, de teste, de humilhação como que preparando os homens para receberem com o devido reconhecimento, valor e gratidão a benfeitoria graciosamente recebida. Graciosamente na máxima acepção da palavra, isto é, um dom, uma dádiva, uma graça imerecida, inesperada, até.
Assim, o que é ‘Triunfal’ é o que acontece quando o enredo chega ao fim e o que acontece é inesperado, inescrutável, a ressureição de Jesus. Depois da traição, do abandono, do julgamento injusto, da rejeição por parte do seu povo, da humilhação sofrida nas mãos de bárbaros, desfilar quase nu pelas ruas carregando às costas a suprema ignomínia da cruz e ser crucificado entre ladrões, Jesus Triunfantemente ressuscitou! Não havia ninguém na terra que esperasse por isso. Alguns, claro haviam sido informados que isso aconteceria, mas seus corações estavam por demais embrutecidos pela violência sofrida pelo mestre. Seus olhos e seus sentimentos estavam por demais embotados para enxergar a verdade.
Prova disso é que as mulheres se dirigem ao túmulo e não levam roupas novas na expectativa da sua ressurreição, não. Vão para embalsamá-lo. Os amigos de Emaús dão as costas para Jerusalém e destruídos animicamente falando, tentam juntar os cacos de suas expectativas quebradas e tentam recomeçar a vida sem Jesus. Sem falar nos discípulos trancafiados por medo e especificamente de Tomé, que de tão confuso, sabe-se lá aonde deve ter ido chorar as suas mágoas. Ninguém, humanamente falando, estava esperando a sua ressurreição, não conscientemente. E, não é que triunfalmente ele se revela às mulheres, triunfalmente se revela aos discípulos na ceia de Emaús e triunfantemente não entra no recinto de portas e janelas fechadas onde os discípulos estavam? E assim, de triunfo em triunfo, durante quarenta dias foi dando inúmeras provas de sua vitória sobre o pecado, o mal e a morte. Podemos tirar uma grande e contextualizada lição deste dia de Ramos, da Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém.
Desde março de 2020, com a Pandemia, a quarentena se nos tornou uma longa quaresma. Estamos todos na expectativa que logo amanheça o dia que ponha fim a esta onipresença da morte e de mortos contados aos milhares a cada dia no mundo. Estamos desejosos e necessitados de que a vida ‘ressuscite’. E que lição seria essa? A de entrarmos com Jesus nas dores e na paixão do mundo. De irmos como igreja ao encontro das agonias dos homens e mulheres nesses dias difíceis, levando conosco a palavra do Evangelho, a mensagem de que a morte, a dor, a enfermidade não tem a última palavra. É necessário entrar nessa economia litúrgica da semana das dores e dizer aos homens e mulheres deste tempo que um tempo de graça, um tempo de bênçãos está sendo gestado no coração do Pai.
É nosso dever como comunidade de Jesus dizer a todos que mesmo os que tombarem nesses dias pandêmicos, nos inescrutáveis caminhos do Senhor, não permanecerão na morte, se adormecerem em Cristo, com Cristo triunfalmente serão ressuscitados. Entrar com Jesus em suas dores é desde agora ter a promessa que a agonia terá fim e a manhã da ressurreição Já nos está reserva e isso, é triunfal!
>> Conheça o livro Os Últimos Dias de Jesus, de N. T. Wright e Craig A. Evans
A multidão que ia adiante dele e os que o seguiam gritavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito é o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas! (Mt 21.9)
A economia litúrgica da igreja cristã chama o “Domingo de Ramos” de “Domingo da Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém”.
Alguém poderia pensar, e com razão, que a liturgia estivesse se referindo ao acontecimento em si, que foi mesmo apoteótico. Jesus entra na Cidade Santa aclamado como Rei e identificado por muitos como o Rei-Messias. As pessoas soltavam gritos e aclamações em louvor e saudação a Cristo e muitos espalhavam ramos e peças de roupa pelo chão, fazendo como que um tapete real para o solene desfile do sucessor de Davi.
Todavia, desde sempre a igreja reconheceu no domingo que antecede a ressurreição como o início das dores do Salvador, é o início da semana santa ou semana da paixão, cujo clímax, é a crucificação. Então, domingo em que Jesus entra em Jerusalém entre ‘hosanas e aleluias’, aclamado como Rei, é na verdade, quando a temperatura das suas humilhações começa a subir.
Aumentará a tensão com as autoridades religiosas dos judeus, judas se esgueirará nas sombras para pactuar a traição a Jesus e Ele mesmo [Jesus], se sentirá como rei rejeitado e chorará a insensibilidade dos habitantes da Cidade Santa por não o reconhecer, nem o receber. Então, o que há de ‘Triunfante’ nesse episódio de Ramos? Desde domingo até sexta-feira 14 de Nisã, a angústia de Jesus irá aumentando a cada momento e no final da história, a cruz destroçará qualquer expectativa humana de triunfo.
Entretanto, a Bíblia parece ter um enredo que permeia toda a sua narrativa. Antes de uma grande bênção, sempre haverá um tempo de provação, de teste, de humilhação como que preparando os homens para receberem com o devido reconhecimento, valor e gratidão a benfeitoria graciosamente recebida. Graciosamente na máxima acepção da palavra, isto é, um dom, uma dádiva, uma graça imerecida, inesperada, até.
Assim, o que é ‘Triunfal’ é o que acontece quando o enredo chega ao fim e o que acontece é inesperado, inescrutável, a ressureição de Jesus. Depois da traição, do abandono, do julgamento injusto, da rejeição por parte do seu povo, da humilhação sofrida nas mãos de bárbaros, desfilar quase nu pelas ruas carregando às costas a suprema ignomínia da cruz e ser crucificado entre ladrões, Jesus Triunfantemente ressuscitou! Não havia ninguém na terra que esperasse por isso. Alguns, claro haviam sido informados que isso aconteceria, mas seus corações estavam por demais embrutecidos pela violência sofrida pelo mestre. Seus olhos e seus sentimentos estavam por demais embotados para enxergar a verdade.
Prova disso é que as mulheres se dirigem ao túmulo e não levam roupas novas na expectativa da sua ressurreição, não. Vão para embalsamá-lo. Os amigos de Emaús dão as costas para Jerusalém e destruídos animicamente falando, tentam juntar os cacos de suas expectativas quebradas e tentam recomeçar a vida sem Jesus. Sem falar nos discípulos trancafiados por medo e especificamente de Tomé, que de tão confuso, sabe-se lá aonde deve ter ido chorar as suas mágoas. Ninguém, humanamente falando, estava esperando a sua ressurreição, não conscientemente. E, não é que triunfalmente ele se revela às mulheres, triunfalmente se revela aos discípulos na ceia de Emaús e triunfantemente não entra no recinto de portas e janelas fechadas onde os discípulos estavam? E assim, de triunfo em triunfo, durante quarenta dias foi dando inúmeras provas de sua vitória sobre o pecado, o mal e a morte. Podemos tirar uma grande e contextualizada lição deste dia de Ramos, da Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém.
Desde março de 2020, com a Pandemia, a quarentena se nos tornou uma longa quaresma. Estamos todos na expectativa que logo amanheça o dia que ponha fim a esta onipresença da morte e de mortos contados aos milhares a cada dia no mundo. Estamos desejosos e necessitados de que a vida ‘ressuscite’. E que lição seria essa? A de entrarmos com Jesus nas dores e na paixão do mundo. De irmos como igreja ao encontro das agonias dos homens e mulheres nesses dias difíceis, levando conosco a palavra do Evangelho, a mensagem de que a morte, a dor, a enfermidade não tem a última palavra. É necessário entrar nessa economia litúrgica da semana das dores e dizer aos homens e mulheres deste tempo que um tempo de graça, um tempo de bênçãos está sendo gestado no coração do Pai.
É nosso dever como comunidade de Jesus dizer a todos que mesmo os que tombarem nesses dias pandêmicos, nos inescrutáveis caminhos do Senhor, não permanecerão na morte, se adormecerem em Cristo, com Cristo triunfalmente serão ressuscitados. Entrar com Jesus em suas dores é desde agora ter a promessa que a agonia terá fim e a manhã da ressurreição Já nos está reserva e isso, é triunfal!
>> Conheça o livro Os Últimos Dias de Jesus, de N. T. Wright e Craig A. Evans
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
- Textos publicados: 105 [ver]
- 26 de março de 2021
- Visualizações: 5334
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Brasileiros em Lausanne 4: a alegria, a irreverência e o potencial missionário verde-amarelo
- Queimadas devastadoras e a missão da igreja
- Oitava edição do Fórum Refugiados reflete sobre acolhimento e apoio a migrantes e refugiados no Brasil
- Dê licença, vou gritar!
- A oração de Estêvão e a conversão de Paulo: um fruto inesperado da Graça
- Filantropia como missão
- Vocare lança podcasts sobre vocação
- Vai começar o Congresso Lausanne 4
- O que você diria a um evangélico na hora de votar?
- Quatro modos em que o Congresso de Lausanne anterior moldou minha visão