Opinião
08 de novembro de 2017- Visualizações: 47078
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Como iniciar um ministério com surdos na igreja
Por Saulo Xavier de Souza
Ultimamente, as igrejas brasileiras vêm sendo encorajadas a enxergar e alcançar os segmentos menos evangelizados. Nesse grupo, estão os surdos que, hoje, perfazem quase 5% da população. Porém, antes de pensar ministerialmente sobre eles, é preciso entendê-los.
Dentro do universo de 9,7 milhões de pessoas, segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE [1], existem diferentes subgrupos, que incluem as pessoas com alguma dificuldade de ouvir, como também aquelas com grande dificuldade de ouvir, e ainda, as que não conseguem ouvir de modo algum. No caso dos que nada escutam, sabe-se que somavam, em 2010, 347.481 pessoas. Geralmente, essas são usuárias da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como instrumento de comunicação e se entendem como possuidoras de uma identidade cultural própria. Inclusive, há vários jovens nesse grupo, outros com escolarização entre Ensino Médio e Superior Completos e ainda, os que dispõem de um alto grau de engajamento social e político com seus pares. Mas, como alcançaremos esse grupo que, hoje, tem 0,28% de crentes em Jesus entre eles? Quais seriam os primeiros passos para começar um ministério com surdos na igreja local?
Para evitar prescrições estritas, trago aqui dicas básicas. O primeiro deles é de âmbito pastoral: conscientizar a igreja, por meio da Bíblia, sobre o seu papel acolhedor da comunidade. É muito importante partir dessa premissa, porque, a partir dela, pode-se gerar um ambiente acolhedor na igreja local para todos os segmentos minoritários.
Em segundo lugar, dando um passo mais técnico, pode-se preparar a igreja para o desenvolvimento do Ministério com Surdos, com orientações especializadas, como também, por intermédio de cursos de Libras. Vale lembrar que o foco é entender que o Surdo quer se sentir acolhido, tanto no aspecto cultural e linguístico quanto no emocional e espiritual, assim como qualquer pessoa que anseia conhecer mais de Deus e de Sua Palavra junto ao Seu povo.
Finalmente, um terceiro passo seria mais prático e voltado a desenvolver um plano de ação para a igreja a fim de acolher, tanto os Surdos quanto seus familiares, envolvendo-os desde a tradução de cultos e outras programações até o engajamento na igreja, a partir da atuação de pessoas preparadas para esse ofício ministerial. Vale lembrar que, como agentes de reconciliação, a igreja local pode ser um espaço em que eles são amados como são: como surdos brasileiros. Por isso, um plano de ação de acolhimento é fundamental!
Essas três dicas evitam “o mais do mesmo” que vem sendo feito: dedicação exaustiva à Libras e à tradução dos cultos. Isso é necessário, mas incluir surdos vai além. Precisamos de discipulado, formação teológica de obreiros e lideranças, e ainda, da Bíblia 100% em Libras, bem como, de material teológico de apoio ao serviço ministerial.
Nesse contexto, devemos ser uma Igreja que leve o surdo a reconhecer e adorar a Deus, mas também, a servi-Lo, em Sua presença, em amor. Os surdos podem se desenvolver integralmente em suas vocações, talentos, dons e ministérios e, não só podem como devem ser potencializados nisso. Por outro lado, os surdos também podem ser atendidos à medida em que se sintam à vontade para expor suas necessidades: algum ajuste acústico para melhorar a compreensão? Mudança de lugar para evitar microfonia no aparelho auditivo? Atendimento para auxiliar a lidar com os efeitos do envelhecimento? Enfim, ambos os grupos têm muito a nos dizer. O que nos resta é lhes oferecer um ambiente em que possam nos falar à vontade.
Temos diante de nós uma nova e poderosa geração de surdos emergindo. Eles estão estudando, se especializando, viajando pelo mundo, aprendendo outras culturas, mas, assim como o eunuco de Atos 8, permanecem nos sinalizando, dizendo: “como poderei entender se alguém não me conduzir ao entendimento?”. Então, está mais do que na hora da Igreja Brasileira aprender a ouvi-los e, junto deles, lhes anunciar Jesus, em graça e verdade.
Nota:
1. http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/indicadores/censo-2010. Acesso em 23/10/2017, às 12:00.
• Saulo Xavier de Souza, jornalista, tradutor, intérprete, professor e pesquisador de Língua de Sinais, mestre e doutorando em Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Saulo tem 34 anos e é missionário da Missão Kairós em Bangkok, na Tailândia. +Info: contato@terradoslivres.org.
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Para evitar prescrições estritas, trago aqui dicas básicas. O primeiro deles é de âmbito pastoral: conscientizar a igreja, por meio da Bíblia, sobre o seu papel acolhedor da comunidade. É muito importante partir dessa premissa, porque, a partir dela, pode-se gerar um ambiente acolhedor na igreja local para todos os segmentos minoritários.
Em segundo lugar, dando um passo mais técnico, pode-se preparar a igreja para o desenvolvimento do Ministério com Surdos, com orientações especializadas, como também, por intermédio de cursos de Libras. Vale lembrar que o foco é entender que o Surdo quer se sentir acolhido, tanto no aspecto cultural e linguístico quanto no emocional e espiritual, assim como qualquer pessoa que anseia conhecer mais de Deus e de Sua Palavra junto ao Seu povo.
Finalmente, um terceiro passo seria mais prático e voltado a desenvolver um plano de ação para a igreja a fim de acolher, tanto os Surdos quanto seus familiares, envolvendo-os desde a tradução de cultos e outras programações até o engajamento na igreja, a partir da atuação de pessoas preparadas para esse ofício ministerial. Vale lembrar que, como agentes de reconciliação, a igreja local pode ser um espaço em que eles são amados como são: como surdos brasileiros. Por isso, um plano de ação de acolhimento é fundamental!
Essas três dicas evitam “o mais do mesmo” que vem sendo feito: dedicação exaustiva à Libras e à tradução dos cultos. Isso é necessário, mas incluir surdos vai além. Precisamos de discipulado, formação teológica de obreiros e lideranças, e ainda, da Bíblia 100% em Libras, bem como, de material teológico de apoio ao serviço ministerial.
Nesse contexto, devemos ser uma Igreja que leve o surdo a reconhecer e adorar a Deus, mas também, a servi-Lo, em Sua presença, em amor. Os surdos podem se desenvolver integralmente em suas vocações, talentos, dons e ministérios e, não só podem como devem ser potencializados nisso. Por outro lado, os surdos também podem ser atendidos à medida em que se sintam à vontade para expor suas necessidades: algum ajuste acústico para melhorar a compreensão? Mudança de lugar para evitar microfonia no aparelho auditivo? Atendimento para auxiliar a lidar com os efeitos do envelhecimento? Enfim, ambos os grupos têm muito a nos dizer. O que nos resta é lhes oferecer um ambiente em que possam nos falar à vontade.
Temos diante de nós uma nova e poderosa geração de surdos emergindo. Eles estão estudando, se especializando, viajando pelo mundo, aprendendo outras culturas, mas, assim como o eunuco de Atos 8, permanecem nos sinalizando, dizendo: “como poderei entender se alguém não me conduzir ao entendimento?”. Então, está mais do que na hora da Igreja Brasileira aprender a ouvi-los e, junto deles, lhes anunciar Jesus, em graça e verdade.
Nota:
1. http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/indicadores/censo-2010. Acesso em 23/10/2017, às 12:00.
• Saulo Xavier de Souza, jornalista, tradutor, intérprete, professor e pesquisador de Língua de Sinais, mestre e doutorando em Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Saulo tem 34 anos e é missionário da Missão Kairós em Bangkok, na Tailândia. +Info: contato@terradoslivres.org.
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