Opinião
10 de dezembro de 2025- Visualizações: 20
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As pessoas sólidas e o verniz religioso
Por Paulo Ribeiro
Ao longo da minha longa jornada, encontrei muitas pessoas fantásticas, não por qualquer qualidade extraordinária, mas pelas características profundas de suas personalidades, pela firmeza silenciosa de seus gestos, pelo modo como habitavam o mundo com integridade. Durante muito tempo procurei um termo que pudesse reuni-las numa mesma categoria. “Perfeitas” não serviria, pois todos carregamos falhas. “Exemplares”, “virtuosas”, “íntegras”, “admiráveis”, cada palavra capturava um fragmento, mas nenhuma parecia abarcar o conjunto do que essas figuras representaram em minha vida.
Foi somente quando li O Grande Divórcio (C.S. Lewis) pela primeira vez que encontrei a expressão exata: “Pessoas Sólidas”.
Aquelas criaturas de Lewis, tão densas, tão reais, tão resistentes à própria luz do lugar que habitam, finalmente deram nome ao que eu já havia sentido ao longo de décadas: a existência de seres humanos cuja substância interior é maior que as circunstâncias, maior que o tempo, maior que as sombras ao redor.
As Pessoas Sólidas não são perfeitas; são profundas.
Não são imunes ao sofrimento; são moldadas por ele.
Não brilham por espetáculo; brilham por verdade.
A essas pessoas devo muito. Além de meus pais, avós e bisavôs, posso listar professores que me estenderam a mão no momento certo, amigos de infância que me ensinaram lealdade, colegas de trabalho que me deram exemplo de integridade, e até desconhecidos que cruzaram meu caminho e, com um gesto simples, revelaram uma forma mais elevada de viver. Cada um deixou em mim uma marca, às vezes discreta, às vezes decisiva — contribuindo para aquilo que sou e para aquilo que ainda tento ser.
Mas nem todas as figuras marcantes da minha jornada foram sólidas. Também encontrei, e não foram poucos, aqueles que pareciam sólidos, mas eram apenas habilidosos em imitar substância.
Alguns usavam a linguagem da virtude para esconder a própria vaidade; outros recitavam princípios como quem recita slogans; outros ainda envolviam suas fraquezas pessoais numa capa dourada de religiosidade, como se um verniz espiritual pudesse substituir o caráter.
Essas pseudo-solidificações morais sempre me trouxeram profunda frustração — não por decepcionarem minhas expectativas, mas porque obscurecem a beleza da verdadeira solidez. Nada é mais triste do que ver a religião, que deveria revelar a verdade, ser usada como véu para disfarçar falhas que, se admitidas com humildade, poderiam ter sido curadas. A falsa solidez é um tipo de fantasmagoria especialmente perigosa: fala como se fosse rocha, mas pensa como sombra.
E é aqui que O Grande Divórcio fala com estranha precisão:
Há fantasmas que parecem densos até o momento em que a luz verdadeira os alcança.
Quando a claridade toca a superfície, o brilho se desfaz, e fica evidente que ali havia mais orgulho do que substância, mais aparência do que conversão.
Mas, paradoxalmente, essas experiências também me ensinaram algo essencial:
A verdadeira solidez não teme a luz.
O caráter real não precisa de disfarces.
A honestidade não precisa de verniz religioso.
E a fé, quando autêntica, não é uma máscara, mas uma janela.
E foi lendo O Grande Divórcio que finalmente entendi a grande lição por trás de tudo isso: a verdadeira maturidade não é leveza, é densidade. A realidade espiritual, no livro e na vida, exige peso. As sombras cedem lugar à substância. A ilusão desmancha-se quando tocada pela verdade. E cada Pessoa Sólida que encontrei parecia, de algum modo misterioso, já viver no limiar desse “país mais real”, onde a verdade tem consistência, a graça tem forma, e a alegria é dura como um diamante.
Desde então, compreendi que minha própria jornada é, em parte, a tentativa humilde de seguir seus passos: tornar-me, pouco a pouco, também um pouco mais sólido.
Não para ser admirado, mas para ser verdadeiro. Não para habitar um mundo imaginário, mas para estar mais preparado para o real, aquele real que Lewis tão magistralmente descreve como mais firme, mais claro, mais eterno do que tudo aquilo que chamamos de realidade aqui.
Se existe em mim qualquer grau de firmeza moral, intelectual ou espiritual, devo-o em grande parte a essas Pessoas Sólidas que me acompanharam ao longo da vida. E sigo caminhando com a esperança de, um dia, poder pisar com naturalidade nesse mesmo terreno luminoso onde tudo que é falso se dissolve e tudo que é autêntico permanece.
Ao longo da minha longa jornada, encontrei muitas pessoas fantásticas, não por qualquer qualidade extraordinária, mas pelas características profundas de suas personalidades, pela firmeza silenciosa de seus gestos, pelo modo como habitavam o mundo com integridade. Durante muito tempo procurei um termo que pudesse reuni-las numa mesma categoria. “Perfeitas” não serviria, pois todos carregamos falhas. “Exemplares”, “virtuosas”, “íntegras”, “admiráveis”, cada palavra capturava um fragmento, mas nenhuma parecia abarcar o conjunto do que essas figuras representaram em minha vida.
Foi somente quando li O Grande Divórcio (C.S. Lewis) pela primeira vez que encontrei a expressão exata: “Pessoas Sólidas”.
Aquelas criaturas de Lewis, tão densas, tão reais, tão resistentes à própria luz do lugar que habitam, finalmente deram nome ao que eu já havia sentido ao longo de décadas: a existência de seres humanos cuja substância interior é maior que as circunstâncias, maior que o tempo, maior que as sombras ao redor.As Pessoas Sólidas não são perfeitas; são profundas.
Não são imunes ao sofrimento; são moldadas por ele.
Não brilham por espetáculo; brilham por verdade.
A essas pessoas devo muito. Além de meus pais, avós e bisavôs, posso listar professores que me estenderam a mão no momento certo, amigos de infância que me ensinaram lealdade, colegas de trabalho que me deram exemplo de integridade, e até desconhecidos que cruzaram meu caminho e, com um gesto simples, revelaram uma forma mais elevada de viver. Cada um deixou em mim uma marca, às vezes discreta, às vezes decisiva — contribuindo para aquilo que sou e para aquilo que ainda tento ser.
Mas nem todas as figuras marcantes da minha jornada foram sólidas. Também encontrei, e não foram poucos, aqueles que pareciam sólidos, mas eram apenas habilidosos em imitar substância.
Alguns usavam a linguagem da virtude para esconder a própria vaidade; outros recitavam princípios como quem recita slogans; outros ainda envolviam suas fraquezas pessoais numa capa dourada de religiosidade, como se um verniz espiritual pudesse substituir o caráter.
Essas pseudo-solidificações morais sempre me trouxeram profunda frustração — não por decepcionarem minhas expectativas, mas porque obscurecem a beleza da verdadeira solidez. Nada é mais triste do que ver a religião, que deveria revelar a verdade, ser usada como véu para disfarçar falhas que, se admitidas com humildade, poderiam ter sido curadas. A falsa solidez é um tipo de fantasmagoria especialmente perigosa: fala como se fosse rocha, mas pensa como sombra.
E é aqui que O Grande Divórcio fala com estranha precisão:
Há fantasmas que parecem densos até o momento em que a luz verdadeira os alcança.
Quando a claridade toca a superfície, o brilho se desfaz, e fica evidente que ali havia mais orgulho do que substância, mais aparência do que conversão.
Mas, paradoxalmente, essas experiências também me ensinaram algo essencial:
A verdadeira solidez não teme a luz.
O caráter real não precisa de disfarces.
A honestidade não precisa de verniz religioso.
E a fé, quando autêntica, não é uma máscara, mas uma janela.
E foi lendo O Grande Divórcio que finalmente entendi a grande lição por trás de tudo isso: a verdadeira maturidade não é leveza, é densidade. A realidade espiritual, no livro e na vida, exige peso. As sombras cedem lugar à substância. A ilusão desmancha-se quando tocada pela verdade. E cada Pessoa Sólida que encontrei parecia, de algum modo misterioso, já viver no limiar desse “país mais real”, onde a verdade tem consistência, a graça tem forma, e a alegria é dura como um diamante.
Desde então, compreendi que minha própria jornada é, em parte, a tentativa humilde de seguir seus passos: tornar-me, pouco a pouco, também um pouco mais sólido.
Não para ser admirado, mas para ser verdadeiro. Não para habitar um mundo imaginário, mas para estar mais preparado para o real, aquele real que Lewis tão magistralmente descreve como mais firme, mais claro, mais eterno do que tudo aquilo que chamamos de realidade aqui.
Se existe em mim qualquer grau de firmeza moral, intelectual ou espiritual, devo-o em grande parte a essas Pessoas Sólidas que me acompanharam ao longo da vida. E sigo caminhando com a esperança de, um dia, poder pisar com naturalidade nesse mesmo terreno luminoso onde tudo que é falso se dissolve e tudo que é autêntico permanece.
Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente é Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
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