Opinião
- 05 de dezembro de 2008
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Advento: um novo rumo para a vida de fé
Derval Dasilio
O que importa não é o tempo litúrgico em si, mas o Advento, a chegada. Esse é o significado da frase do filósofo Ernst Bloch: “Não ser ainda, mas tratando de chegar a ser” (noch nicht Sein). Já o teólogo Gerhard Ebelling disse que “o mais real do real, não é a realidade mesma, mas as possibilidades de uma nova realidade”. Bloch construiu seu poderoso edifício filosófico sobre as bases da utopia e da esperança. Apresentou belas páginas sobre a grandeza heróica de Thomaz Münzer, mártir protestante radical na Reforma, como exemplo da luta por transformações sociais. Jürgen Moltmann, importante teólogo que recentemente veio ao Brasil, admira Bloch. Lutero insistia em dois reinos. Um espiritual e um secular, temporal, reino do príncipe e do imperador; o primeiro à direita, o segundo à esquerda de Deus! Um celeste, outro terreal. Münzer, contrariando-o, afirmava um único reino aceitável pelo cristão. Concretamente. E morreu no massacre dos camponeses “sem-terras” na Alemanha de Lutero.
Estamos imersos numa sociedade pragmática, de resultados imediatos, em que nos movimentamos descuidadamente em todos os tipos de relações. Há esperança? Somos açoitados com chicotes de veludo para valorizarmos certo tipo de sucesso, riqueza, prosperidade, estímulo cultural de prestígio e visibilidade. Somos guiados pelo individualismo. Pode, isto, desviar o cristão das relações verdadeiras com Deus, do caminho que é proposto para cada um a partir do Batismo? Talvez estejamos equivocados, talvez não. Porém, quando sentimos que o problema de muitos cristãos está na falta de sensibilidade para com os compromissos da fé cristã, estaríamos certos? E quando fazemos profissão de fé, e declaramos adesão à causa do Cristo de Deus, mas tomamos outro rumo? Terão sido esquecidas as exigências da conversão quando relegamos as implicações profundas das denúncias evangélicas, da indignação com a injustiça? Observemos o Advento. É preciso compreendê-lo.
O credo fundante da fé de Israel, no qual se confessava Yahweh como Deus de Israel, evocava uma aliança de Deus com um grupo que nada representava na história da humanidade. Trata-se de uma aliança protetora e salvadora que ignorava as grandes forças, grandes povos, e culturas políticas expressivas do mundo de então. O cuidado de Deus, refletindo o interesse de empoderar o fraco para resistir a toda forma de opressão, está no estilo profético de Isaías, o Segundo. Ele faz as coisas retornarem ao seu lugar propondo uma nova utopia (o não-lugar), uma esperança nova, na qual o passado, na libertação do Egito, evocava o contrato renovado, a aliança, como forma de amor de Yahweh para com seu povo. Na Bíblia, a nova aliança completa-se com Jesus, o Cristo de Deus. Com o retorno do desterro, a voz de Deus se ouve novamente; o futuro está aberto e mais que isso, está disponível para os atos libertadores que Yahweh apresenta diante das dúvidas, dos medos, dos murmúrios opressores espalhados por aqueles que estão adaptados, conformados com a injustiça, com as desigualdades e com as opressões, e que questionam: “Onde Deus está”?
A conversão cristã é ressaltada, aqui. Seguramente, a terra prometida vem, o Senhor vem! Porém, antes de tudo, é preciso caminhar, clamar, protestar, denunciar as opressões, mesmo que estejamos no deserto, “famintos de justiça” e “sedentos da água da vida”. A conversão (“metanóia”, mudança de rumo) é necessária, para que se veja o novo que chega. O renovo da fé bíblica no Deus de Israel. Por isso, o povo cristão é chamado para caminhar na direção de uma nova libertação, um novo êxodo, tão prodigioso quanto o primeiro. É preciso começar um novo caminhar no caminho do Senhor (derek yahweh). Tê-lo como um marco de uma nova libertação, um Advento, é tudo que precisamos neste momento de perplexidade.
O que importa não é o tempo litúrgico em si, mas o Advento, a chegada. Esse é o significado da frase do filósofo Ernst Bloch: “Não ser ainda, mas tratando de chegar a ser” (noch nicht Sein). Já o teólogo Gerhard Ebelling disse que “o mais real do real, não é a realidade mesma, mas as possibilidades de uma nova realidade”. Bloch construiu seu poderoso edifício filosófico sobre as bases da utopia e da esperança. Apresentou belas páginas sobre a grandeza heróica de Thomaz Münzer, mártir protestante radical na Reforma, como exemplo da luta por transformações sociais. Jürgen Moltmann, importante teólogo que recentemente veio ao Brasil, admira Bloch. Lutero insistia em dois reinos. Um espiritual e um secular, temporal, reino do príncipe e do imperador; o primeiro à direita, o segundo à esquerda de Deus! Um celeste, outro terreal. Münzer, contrariando-o, afirmava um único reino aceitável pelo cristão. Concretamente. E morreu no massacre dos camponeses “sem-terras” na Alemanha de Lutero.
Estamos imersos numa sociedade pragmática, de resultados imediatos, em que nos movimentamos descuidadamente em todos os tipos de relações. Há esperança? Somos açoitados com chicotes de veludo para valorizarmos certo tipo de sucesso, riqueza, prosperidade, estímulo cultural de prestígio e visibilidade. Somos guiados pelo individualismo. Pode, isto, desviar o cristão das relações verdadeiras com Deus, do caminho que é proposto para cada um a partir do Batismo? Talvez estejamos equivocados, talvez não. Porém, quando sentimos que o problema de muitos cristãos está na falta de sensibilidade para com os compromissos da fé cristã, estaríamos certos? E quando fazemos profissão de fé, e declaramos adesão à causa do Cristo de Deus, mas tomamos outro rumo? Terão sido esquecidas as exigências da conversão quando relegamos as implicações profundas das denúncias evangélicas, da indignação com a injustiça? Observemos o Advento. É preciso compreendê-lo.
O credo fundante da fé de Israel, no qual se confessava Yahweh como Deus de Israel, evocava uma aliança de Deus com um grupo que nada representava na história da humanidade. Trata-se de uma aliança protetora e salvadora que ignorava as grandes forças, grandes povos, e culturas políticas expressivas do mundo de então. O cuidado de Deus, refletindo o interesse de empoderar o fraco para resistir a toda forma de opressão, está no estilo profético de Isaías, o Segundo. Ele faz as coisas retornarem ao seu lugar propondo uma nova utopia (o não-lugar), uma esperança nova, na qual o passado, na libertação do Egito, evocava o contrato renovado, a aliança, como forma de amor de Yahweh para com seu povo. Na Bíblia, a nova aliança completa-se com Jesus, o Cristo de Deus. Com o retorno do desterro, a voz de Deus se ouve novamente; o futuro está aberto e mais que isso, está disponível para os atos libertadores que Yahweh apresenta diante das dúvidas, dos medos, dos murmúrios opressores espalhados por aqueles que estão adaptados, conformados com a injustiça, com as desigualdades e com as opressões, e que questionam: “Onde Deus está”?
A conversão cristã é ressaltada, aqui. Seguramente, a terra prometida vem, o Senhor vem! Porém, antes de tudo, é preciso caminhar, clamar, protestar, denunciar as opressões, mesmo que estejamos no deserto, “famintos de justiça” e “sedentos da água da vida”. A conversão (“metanóia”, mudança de rumo) é necessária, para que se veja o novo que chega. O renovo da fé bíblica no Deus de Israel. Por isso, o povo cristão é chamado para caminhar na direção de uma nova libertação, um novo êxodo, tão prodigioso quanto o primeiro. É preciso começar um novo caminhar no caminho do Senhor (derek yahweh). Tê-lo como um marco de uma nova libertação, um Advento, é tudo que precisamos neste momento de perplexidade.
É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
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