Opinião
07 de janeiro de 2022- Visualizações: 8851
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A Verdade – a Palavra – em um mundo plural
Por Erní Walter Seibert
Para a Oxford Dictionaries, departamento da Universidade de Oxford responsável pela elaboração de dicionários, em 2016 a palavra do ano foi pós-verdade. Tal conceito se desenvolveu especialmente com o crescimento da publicação de falsas notícias (fake news) nas redes sociais. Os fatos concretos passaram a ter menos importância para a tomada de decisões das pessoas do que as narrativas que influenciavam os sentimentos e as emoções. Nesse sentido, não há mais preocupação com a verdade, mas com as narrativas hegemônicas. Esse é o tempo da pós-verdade. Em 2016, após debates e discussão do tema nas redes sociais, a Inglaterra decidiu sair do Mercado Comum Europeu. No mesmo ano, Donald Trump venceu as eleições americanas de forma surpreendente. Esses dois acontecimentos ajudaram a formar o conceito de pós-verdade, o qual é fruto do pensamento pós-moderno. Nesse tipo de raciocínio, não existe verdade absoluta. Cada pessoa tem a sua verdade e a verdade de uma pessoa pode mudar de acordo com os tempos e as circunstâncias. O conceito é muito bem recebido em nossa sociedade e as pessoas acreditam que ter esse tipo de opinião é estar afinado ao seu tempo.
O que acontece quando confrontamos esse tipo de pensamento com a Bíblia Sagrada? Até que ponto o pensamento pós-moderno influencia a percepção que as pessoas têm da Bíblia?
O desenvolvimento dos estudos da hermenêutica mostrou que muitas das conclusões que estudiosos extraíam das Escrituras Sagradas eram influenciadas não tanto pelo texto bíblico, mas pelas convicções internas dos seus autores. E a disputa aí se polarizava entre os que não acreditavam numa verdade absoluta e os que acreditavam que esta existe. A discussão continua viva e ativa em nossos dias. É a discussão da pós-modernidade entrando no mundo da Bíblia.
A Bíblia Sagrada fala sobre a verdade. Ela não faz uma discussão filosófica de termos ou conceitos. Para ficar mais claro, destaco pelo menos dois textos. Quando Jesus esteve diante de Pilatos, no seu julgamento, o governador queria que Jesus confessasse que ele era rei, pois assim haveria um motivo político para condená-lo: Jesus estaria querendo usurpar o poder. Jesus diz a Pilatos: “O senhor está dizendo que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz” (Jo 18.37). Verdade, para Jesus, não é propriamente um conceito, mas uma pedra de toque a partir da qual tudo se esclarece. Verdade é mais do que as palavras de Jesus ou o seu ensinamento – ele próprio é a verdade. Em João 14.6, Jesus diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”.Quando Jesus diz que ele é o caminho, isso significa que é uma experiência de vida. Para ir ao Pai, é preciso passar por um caminho, que é Jesus. Quando Jesus diz que “ele é a verdade”, isso significa que tudo passa a ter o sentido correto a partir dele. E é assim também quando ele diz que é a vida, pois está dizendo que sem ele não há vida verdadeira. Talvez seja exatamente aí que se abre uma porta muito grande de diálogo entre a Bíblia – não tanto como conceito teórico, mas como experiência de vida – e o mundo contemporâneo. A Bíblia faz sentido para o mundo contemporâneo, quando ela é crida e vivida. O ensino da Bíblia se faz muito mais por meio de uma vida exemplar do que por meio de uma sala de aula, o que não significa que o ensino teórico não seja importante – ele não pode é estar desacompanhado da vida consagrada.
Num mundo onde se fala da pós-verdade, da relativização de tudo, um livro como a Bíblia choca. Mas, se olhamos para o que se passa nesse mundo, podemos dizer que um livro como a Bíblia é extremamente necessário. Quando as palavras recebem mil e uma interpretações, ter uma palavra que se fez carne, que é Cristo, nos dá orientação e segurança.
Um dos melhores exercícios é o de retornar à leitura da Bíblia não a partir do que dizem sobre ela, mas a partir dela mesma. Se tivermos perguntas, devemos fazê-las à Bíblia. Ler a Bíblia é um exercício que mexe com as pessoas. Se o mundo contemporâneo é plural, ler a Bíblia é um exercício único, singular.
Publicado originalmente na edição 371 de Ultimato.
• Erní Walter Seibert é secretário de comunicação, ação social e arrecadação da Sociedade Bíblica do Brasil, doutor em ciências da religião e diretor do Museu da Bíblia.
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