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Opinião

Comunidades terapêuticas no Brasil

A contribuição de evangélicos na atenção a dependentes de álcool e drogas

Por Osvaldo Christen Filho

Os cristãos, inspirados pelos relatos dos Evangelhos – força motriz do exercício de misericórdia –, encontram motivação para imitar os ensinamentos de Cristo. A comunidade terapêutica (CT) para acolhimento de dependentes de álcool e de drogas é um exemplo de obra diaconal da igreja evangélica.

Na última década, as CTs têm sido alvo frequente de noticiário na mídia - Conselho Federal de Psicologia (CFP) em 2011; Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 2017; programa Fantástico (TV Globo) em 2022 - por se ocuparem com um público que se tornou uma chaga da sociedade à luz do que se vê nas cracolândias Brasil afora. De quem é a responsabilidade, do Estado ou da Igreja? E quem recebe o prêmio daquelas CTs que realizam um trabalho ético, sério e transparente?

Refletir essa modalidade é o objetivo deste artigo, cuja fonte original o leitor encontra nas referências.

Comunidades terapêuticas
Em uma época (1921) em que transtornos mentais e alcoolismo eram entendidos como sinais de uma situação espiritual deteriorada, surge na Inglaterra o Grupo de Oxford, objetivando um renascimento espiritual de cristãos acomodados. 1 “Comunidade terapêutica” é um termo que surge em 1940 como método alternativo de tratamentos psiquiátricos na Grã-Bretanha (De Leon, 2003).

Na América do Norte, nos anos 60 a 70 proliferaram programas de tratamento que remetiam seu programa conceitual ao Grupo de Oxford: “Alcoólicos Anônimos (AA)” (1935)2, Synanon (1958)3 e Daytop Village (1963). Forte componente espiritual cristão e a introdução de conceitos técnico-científicos são observados na maioria desses centros de atendimento.

Em 1972, David Wilkerson, autor de A Cruz e o Punhal, trouxe ao Brasil, forte motivação e influência ao movimento evangélico para oferecer ajuda aos dependentes de álcool e de drogas.

Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 2017 informam sobre duas mil CTs cadastradas. Do total, 21% foram fundadas entre 1966 e 1995, e 79%, até 2015. Ainda segundo esse estudo, 76,3% delas são cristãs. Representam diversos ramos do cristianismo: 39,7% são de orientação pentecostal; 6,9% são classificadas como evangélicos de "missão"; 27,1% são católicas; e 2,6% são cristãs não identificadas.

Chaves (2007) fornece uma lista das primeiras instituições filantrópicas que se dedicaram ao trabalho com dependentes químicos no Brasil, das quais destacamos as de confissão evangélica: Movimento Jovens Livres (missionária Ana Maria Brasil, Goiânia,GO, 1968); S 8 (pastor Jeremias Fontes, Niterói, RJ, 1971); Esquadrão da Vida de Bauru (Edmundo Muniz Chaves, Bauru, SP, 1972); Desafio Jovem de Brasília (pastor Galdino Moreira Filho, Brasília, DF, 1972); Desafio Jovem Peniel (pastor Reuel Feitosa Belo Horizonte, MG, 1972); Desafio Jovem de Rio Claro sra. Vera Lúcia Silva, Rio Claro, SP, 1975); MOLIVI (pastor Nilton Tuller, Maringá, PR, 1975); Sociedade Cruz Azul no Brasil (Panambi, RS, 1983).

Citamos ainda algumas CTs evangélicas filiadas à Federação Cruz Azul no Brasil, um dos agentes de capacitação para profissionais nesses espaços: CERVIN (Rolândia, PR, 1985); CERENE (Blumenau, SC, 1989); Pró Vida (Itajaí, SC, 1992); SOS Vida (Santo Ângelo, RS, 1997); Para Vida sem Drogas (Curitiba, PR, 2003); Casa Belém (Sobral, CE, 2006); Casa do Oleiro (Teresina, PI, 2010).

Dependência química como doença
O uso indevido, indiscriminado e contínuo de álcool e de drogas é classificado na medicina como um transtorno mental (DSM-5, 2014). A dependência torna-se factível quando o usuário usa a própria substância para obter alívio do desconforto gerado pela falta dela, entrando em um ciclo vicioso difícil de ser rompido. As CTs acolhem e oferecem ajuda ao dependente químico que sofre desse transtorno.

Citamos as principais especificidades das Casas de Recuperação: a) avaliação médica preliminar; b) permanência voluntária; c) inclusão de familiares na proposta de ajuda; d) relações democráticas na comunidade permeadas pelo respeito; e) participação ativa do usuário nas atividades oferecidas; f) mediação dos métodos terapêuticos de espiritualidade, apoio de pares e atividades práticas por processos de ensino-aprendizagem; g) oferta de ambiente livre de álcool e de drogas; h) reinserção do dependente químico no ambiente familiar e de trabalho.

Boas práticas da comunidade terapêutica
Espiritualidade
As afiliações de CTs em federações como a FEBRACT, FETEB, CRUZ AZUL e FENNOCT4, permitem afirmar que a “espiritualidade” predominante é uma espiritualidade religiosa cristã. Estuda-se e divulga-se a Bíblia, destacando-se a utilização da Bíblia Despertar, da Sociedade Bíblica do Brasil, por articular os ensinos bíblicos com os Doze Passos dos Alcoólicos Anônimos (AA).

Alguns pontos centrais com os quais a teologia judaico-cristã articula a fé com a realidade encontrada nas CTs, são:

1. Visão de mundo e de homem: a) reflete-se a cosmovisão criacionista (em oposição à Seleção Natural das Espécies); b) adota-se um conceito antropológico de ser humano integral com sentido de existência; c) em Jesus Cristo sintetizam-se “poder da palavra” e “palavra de poder”, por não visar somente a cura unidimensional psicofísica da pessoa, mas também sua restauração espiritual (Mt 9).

2. A prática do amor incondicional. A prestação de socorro a qualquer ser humano é uma forma de anunciar o amor incondicional de Deus a este.

3. O estudo da Bíblia e a oração. As muitas histórias da Bíblia oferecem rico material didático à aprendizagem de novos paradigmas à vida espiritual e comportamental. Por meio da oração, o ser humano reage a questões transcendentes.5

4. Reinserção social. Nas igrejas, o apoio de pares iniciado na comunidade terapêutica é substituído por outros, beneficiando, inclusive, o grupo familiar.

Atividades práticas
As comunidades terapêuticas adotam um sistema de participação prática na realização de tarefas cotidianas de autocuidado, domésticas, ligadas à produção de horta, fruticultura, criação de animais, jardinagem, oficinas, entre outras. A participação nessas atividades fornece farto material terapêutico.

O apoio de pares
Os relacionamentos humanos na comunidade terapêutica são intensos e propícios para apoio mútuo e fortalecimento da resiliência pessoal, promovendo novos aprendizados sem a mediação de substâncias.



O poder da palavra
“Não para! Você vai conseguir! ”. Palavras são para o ouvido o que o alimento é para a boca! Pela palavra, Deus criou o mundo; em Jesus Cristo, a imago Dei se tornou Palavra; experimentada, a Palavra torna-se força concreta para mobilizar uma pessoa em toda a sua dimensão e concretude em busca de caminhos e objetivos que deseja e necessite alcançar para sua vida.

Controversa, a comunidade terapêutica séria há de continuar com seu método na luta para salvar vidas. Seu lugar é ali, no front. O exercício da misericórdia via palavra-Palavra não pode esperar. Deve realizar seu trabalho de forma digna como Cristo o faria, visando sempre o bem último que é a vítima do álcool e das drogas. No que compete ao Estado e à Igreja, se separarem “o joio do trigo” pela fiscalização e boa administração, bem farão.

  • Osvaldo Christen Filho é psicólogo clínico com especialização em dependência química e comunidade terapêutica, e autor de livros e artigos sobre o tema.

Notas
1. Parte das ideias e práticas sustentadas incluía a ética do trabalho; o cuidado mútuo; a orientação partilhada; os valores evangélicos da honestidade, da pureza, do altruísmo e do amor; o autoexame; o reconhecimento dos defeitos de caráter; a reparação por danos causados e o trabalho conjunto.
2. Os “12 Passos” e as “12 Tradições” dos AAs, p/ex., referindo-se à perda de controle do dependente químico, apresentam entrega a um poder superior (cristão), autoexame, busca de ajuda do poder superior, reparação de males causados a outros, oração na luta pessoal, compartilhamento da experiência com outras pessoas, como recurso de superação.
3. O modelo abriu reuniões de grupo para usuários abusivos de qualquer substância, criando uma estrutura organizacional hierarquizada, metas e orientação psicológica em comunidade residencial.
4. FEBRACT - Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas (de orientação católica); FETEB - Federação de Comunidades Evangélicas do Brasil (de orientação evangélica); Cruz Azul no Brasil (organização cristã, não confessional); FENNOCT - Federação Norte e Nordeste das Comunidades Terapêuticas (de orientação católica).
5. O ato de orar baixa a ansiedade, apazigua a alma, renova o ânimo, cria empatia e une as pessoas.


Referências
CHAVES, E.M.S., CHAVES, E.M. Descortinando a realidade das comunidades terapêuticas como serviços de atenção ao dependente de substâncias psicoativas: dos amparos legais aos amparos reais. Monografia do Curso de Pós-graduação – Gestão de Políticas Públicas e do Terceiro Setor da Instituição Toledo de Ensino – ITE. Bauru/SP, 2007.
CHRISTEN FILHO, O. “O tratamento Psicossocial em Comunidade Terapêutica para Dependentes de Substâncias”. Revista Psicoteologia (CPPC), Rio de Janeiro, 2013, ano XXI, n. 52.
De LEON, G. A Comunidade Terapêutica: Teoria, Modelo e Método. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
DSM-5. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Transtornos Relacionados a Substâncias e Transtornos Aditivos. Porto Alegre: 2014.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Nota Técnica. Perfil das Comunidades Terapêutidas Brasileiras. 2017.

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