Palavra do leitor
- 24 de janeiro de 2008
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Por que matamos o Cristo?
Por que o cordeiro de Deus precisou ser sacrificado pelas nossas próprias mãos? Ora, se por absurdo todos aceitassem o Cristo (e ninguém o matasse) como o novo rei, estava cumprida a salvação pela lei, não pela graça, pois isso seria o mérito baseado no entendimento da verdade. Assim, mesmo que Cristo tenha vertido seu sangue antes da fundação do mundo, era imprescindível que encarnasse na história e morresse pelas NOSSAS mãos. Sim, aquilo precisaria ser feito, e por nós. É importante olhar a história Dele não apenas como Dele, mas como a história de nossa reação perante a possibilidade de redenção. A reação perante a possibilidade da não-necessidade.
Desde que o homem é homem, desde que virou Homo sapiens, que Adão e Eva pisaram fora do Éden e a humanidade se reconhece como tal vivemos atrás de nossas necessidades. No Éden suponho que a palavra “necessidade” não existisse. A partir do momento que estamos fora dele queremos suprir nossas faltas. Temos desejos, lacunas, necessidades de realização, reconhecimento, bem-estar, etc, etc, etc.
Surgem daí as guerras, a fome, miséria, depressão, tristeza, choro, euforia, a medicina e o chocolate. Tudo por que queremos, temos necessidades e não conseguimos nos livrar da existência delas. Aqui, gostaria de pedir ajuda ecumênica, pois penso que nas religiões orientais talvez haja mais resposta quanto a isso. De fato, mesmo a religião é uma resposta à existência da necessidade. No Éden não havia religião pelo simples motivo de que não havia o que religar.
Assim, quando matamos o Cristo dissemos que não queríamos negar a nós mesmos e sim cultivar nossas buscas. Nossa miséria é desejar a busca por algo, é querer ter bem-estar o tempo todo. Nossa miséria é achar que todos precisam de psicólogos, pois ninguém deve ter problemas. Nossa miséria é achar que a resposta à pergunta cotidiana "está tudo bem?" seja positiva quando não há problemas. Nossa miséria é transformar tudo numa grande clínica, é achar que existimos para "dar certo". Nossa miséria é querer sentir realização e alcançar o estado da alma que desejamos.
Por isso, o bom artista é aquele para o qual sua obra brota naturalmente, ou seja, não há artificialidade. Técnicas a parte, o bom artista vê as letras de suas músicas brotarem naturalmente, as telas pintadas surgem intuitivamente na sua alma. O bom religioso, do mesmo modo, não precisa lembrar a todo momento o que precisa ser feito, antes faz parte de seu ser a vivência religiosa integral.
Por exemplo, sei que não sou um bom físico-matemático. O máximo que conseguirei é ser regularmente satisfatório se me esforçar mais do que tenho feito e continuar estudando. Sou muito limitado. Um gênio não é assim. Para ele, o esforço e o trabalho servem apenas como organização intelectual de uma tendência natural de sua mente em direção a uma bela descrição teórica. Da mesma maneira, por mais que se instrua um jovem e técnico jogador, seu esforço nunca o fará se tornar um Maradona ou um Zidane. De fato, nunca mais veremos outros atuarem de maneira similar a estes, pois para os dois tudo o que faziam era natural. Os lances e passes inesquecíveis (como os do argentino na copa de 86 e do francês em 98) e o comportamento em campo surgiam naturalmente como uma dádiva derramada, é um dom, uma intuição não-tabelada ou aprendida.
Quando uma mulher é bela isso é uma dádiva divina e ponto. Ela não se esforça para isso. Simplesmente ela é. É por isso que tentamos fazer poesias (ser poeta não é uma dádiva no meu caso) para nossas amadas, elas refletem o Divino, o reino da não-busca e da não-necessidade.
O evangelho anuncia que está aí o reino de Deus. Ele se cumprirá e a figura do fim dos tempos ou do Céu não representa o alcance de nossas necessidades, e sim a inexistência destas. No céu que imagino, todos os amantes serão poetas natos, todos os compositores serão como Beethoven e Chico Buarque. Todos os meio-campos pintarão obras-primas em campo e o cenário será pintado pelas próprias pessoas que serão nossos artistas.
Mas enquanto isso não acontece continuaremos tomando remédios, comendo muito chocolate e navegando no orkut. Continuaremos vendo stress, guerras, depressão, fundamentalismo, pornografia, doença, divórcios e discursos de felicidade e auto-satisfação. Continuaremos apelando à Geni que salve a cidade.
Amigos, fiquem na Graça.
www.osdecadentes.blogspot.com
Desde que o homem é homem, desde que virou Homo sapiens, que Adão e Eva pisaram fora do Éden e a humanidade se reconhece como tal vivemos atrás de nossas necessidades. No Éden suponho que a palavra “necessidade” não existisse. A partir do momento que estamos fora dele queremos suprir nossas faltas. Temos desejos, lacunas, necessidades de realização, reconhecimento, bem-estar, etc, etc, etc.
Surgem daí as guerras, a fome, miséria, depressão, tristeza, choro, euforia, a medicina e o chocolate. Tudo por que queremos, temos necessidades e não conseguimos nos livrar da existência delas. Aqui, gostaria de pedir ajuda ecumênica, pois penso que nas religiões orientais talvez haja mais resposta quanto a isso. De fato, mesmo a religião é uma resposta à existência da necessidade. No Éden não havia religião pelo simples motivo de que não havia o que religar.
Assim, quando matamos o Cristo dissemos que não queríamos negar a nós mesmos e sim cultivar nossas buscas. Nossa miséria é desejar a busca por algo, é querer ter bem-estar o tempo todo. Nossa miséria é achar que todos precisam de psicólogos, pois ninguém deve ter problemas. Nossa miséria é achar que a resposta à pergunta cotidiana "está tudo bem?" seja positiva quando não há problemas. Nossa miséria é transformar tudo numa grande clínica, é achar que existimos para "dar certo". Nossa miséria é querer sentir realização e alcançar o estado da alma que desejamos.
Por isso, o bom artista é aquele para o qual sua obra brota naturalmente, ou seja, não há artificialidade. Técnicas a parte, o bom artista vê as letras de suas músicas brotarem naturalmente, as telas pintadas surgem intuitivamente na sua alma. O bom religioso, do mesmo modo, não precisa lembrar a todo momento o que precisa ser feito, antes faz parte de seu ser a vivência religiosa integral.
Por exemplo, sei que não sou um bom físico-matemático. O máximo que conseguirei é ser regularmente satisfatório se me esforçar mais do que tenho feito e continuar estudando. Sou muito limitado. Um gênio não é assim. Para ele, o esforço e o trabalho servem apenas como organização intelectual de uma tendência natural de sua mente em direção a uma bela descrição teórica. Da mesma maneira, por mais que se instrua um jovem e técnico jogador, seu esforço nunca o fará se tornar um Maradona ou um Zidane. De fato, nunca mais veremos outros atuarem de maneira similar a estes, pois para os dois tudo o que faziam era natural. Os lances e passes inesquecíveis (como os do argentino na copa de 86 e do francês em 98) e o comportamento em campo surgiam naturalmente como uma dádiva derramada, é um dom, uma intuição não-tabelada ou aprendida.
Quando uma mulher é bela isso é uma dádiva divina e ponto. Ela não se esforça para isso. Simplesmente ela é. É por isso que tentamos fazer poesias (ser poeta não é uma dádiva no meu caso) para nossas amadas, elas refletem o Divino, o reino da não-busca e da não-necessidade.
O evangelho anuncia que está aí o reino de Deus. Ele se cumprirá e a figura do fim dos tempos ou do Céu não representa o alcance de nossas necessidades, e sim a inexistência destas. No céu que imagino, todos os amantes serão poetas natos, todos os compositores serão como Beethoven e Chico Buarque. Todos os meio-campos pintarão obras-primas em campo e o cenário será pintado pelas próprias pessoas que serão nossos artistas.
Mas enquanto isso não acontece continuaremos tomando remédios, comendo muito chocolate e navegando no orkut. Continuaremos vendo stress, guerras, depressão, fundamentalismo, pornografia, doença, divórcios e discursos de felicidade e auto-satisfação. Continuaremos apelando à Geni que salve a cidade.
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dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
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