Bolívia. A des(morales)zação da justiça

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“ Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” Gen 18; 25 Posto que Abraão não dispunha dos meios que temos para conhecer a pessoa de Deus, tinha uma noção saudável sobre a justiça Divina.

Aliás, em seu pleito onde se preocupava com o sobrinho Ló, mais que a justiça, deparou com a maravilhosa misericórdia de Deus; tanto que, concordou em poupar as cidades condenadas, se, nelas houvesse dez justos apenas. Dado que o número achado foi inferior, esses foram retirados antes do juízo; a justiça Divina não falha.

Embora no planeta vigorem muitas “justiças”, a Justiça com jota maiúsculo, deriva do Trono de Deus, como falou Isaías: “…havendo os teus juízos na terra, os moradores do mundo aprendem justiça.” Is 25; 9 Acontece que os juízos de Deus são ignorados, quando não, afrontados, pelos moradores do mundo; assim, a justiça dos homens resulta pífia, não poucas vezes.

Entretanto, no que se refere à atuação do governo boliviano por ocasião da morte do jovem Kevin Espada, a coisa assume proporções degradantes demais. Não que se deva tolerar a violência em estádios ou qualquer lugar; tampouco, que a perda de uma vida seja de pouca relevância; mas, em nome da justiça, sequestrar aleatoriamente uma dúzia de pessoas, cujo crime foi estarem no estádio torcendo por seu time; e mais: mantê-las misturadas a assassinos e outros criminosos locais em condições degradantes?

Entendo o direito das autoridades bolivianas de duvidarem da versão do menor que assumiu ter feito o fatídico disparo de sinalizador; isso pode e deve ser averiguado mediante perícia, e, se confirmado, entenderei também um eventual pleito para que se julgue segundo as leis de lá. Mas, os doze inocentes presos têm suas vidas, trabalho, famílias, e são alijados disso por um governo autoritário, inconsequente, com a omissão do nosso. Caso já verificado, aliás, quando o Morales decidiu unilateralmente “nacionalizar a produção de petróleo” e passou sobre um investimento de 1,5 bilhão de dólares da Petrobrás, com a inércia de “nossos” representantes.

Um governo tão hábil nas questões internacionais, como foi nos casos de Césare Battisti e dos boxeadores cubanos, deveria saber também, lidar com interesses de seus cidadãos. Enviar dois ou três representantes para averiguar se os presos têm preservados seus “direitos humanos,” como tenho ouvido, é ridículo. O simples estarem detidos sem motivo já é crassa violação de, pelo menos dois itens da Declaração universal; “Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.” “Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado,” Artigos 3 e 9.

Seria motivo suficiente para um incidente diplomático, um veemente protesto na ONU ou, algo assim; contudo, nossa Presidente sentou-se ao lado de Evo, por uma causa maior; referendar às pressas a nebulosa eleição “democrática” de Nicolás Maduro. Os pleitos por recontagem de votos deram azo a oito mortes pelas milícias “bolivarianas”, mas, aí era também uma questão de “justiça”.

Dizem certos especialistas que o cacique Morales está retaliando o Brasil, por estar asilando em sua embaixada de La Paz, a um senador desafeto daquele governo. Quem mandou o dito cujo fazer oposição ao Evo! Os “socialistas” latinos que “debatiam” no “Paredón” fuzilando aos opositores, hoje, “fuzilam” tolhendo a liberdade de expressão, e viciando as escolhas. Armam vistosos circos com as lonas democráticas, mas o picadeiro ainda é dos tiranos. Acho que a famosa frase atribuída ao Che Guevara era diferente; “Democracia? Hai que parecer-se, pero sin perder a ditadura, Jamais”.

Afinal, a equipe do Corinthians quando jogou em Oruro, fazia oposição ao San José. E isso é pecado imperdoável aos vermelhinhos da América Latina. E pensar que nosso governo instaurou a “Comissão da Verdade” para corrigir injustiças de meio século atrás… como fará isso se não consegue lidar com as injustiças a meio palmo do nariz? Ah, mas, aquelas eram da oposição… Infelizmente, dados os meandros do sistema, esses governantes “me representam”, e só por isso, me envergonham.

Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim. Millôr Fernandes

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Opinião do leitor