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Opinião

A Igreja de Jesus Cristo e a igreja evangélica brasileira

Por Ed René Kivitz

A palavra “igreja” é tradução de “ekklesia”. No grego clássico significava o ajuntamento dos cidadãos convocados para a reunião pública que formava a assembleia legislativa constituída para debater e deliberar a respeito dos interesses de uma comunidade. Aparece 114 vezes no Novo Testamento. Em 95 vezes é bastante claro que se refere a uma comunidade cristã ou assembleia local, e em outras cinco não possui sentido religioso algum. Também aparece nove vezes na Carta aos Efésios, e em nenhuma delas somos obrigados a interpretá-la como fazendo referência à “igreja universal” ou “igreja espiritual”. A conclusão simples é que o significado de “ekklesia” no Novo Testamento é hegemonicamente relativo a uma comunidade cristã local, como, por exemplo, a igreja que está na casa de Priscila e Áquila na cidade de Roma (Rm 16.5) ou a igreja que deve cuidar do pecado de alguém que se recusou a ouvir os irmãos (Mt 18.17).

A igreja é essencialmente uma assembleia. Isso implica ajuntamento, reunião, encontro presencial localizado social e historicamente. A assembleia universal, a “igreja dos primogênitos cujos nomes estão inscritos nos céus”, a soma de todos os que creem, em todos os tempos e em todos os lugares, um dia estará reunida na “Jerusalém celestial” (Hb 12.22-23). Enquanto esse dia não chega, igreja é essencialmente comunidade local. Em termos teológicos, igreja é “comunidade espiritual”.

O termo “igreja evangélica brasileira” não existe bíblica e teologicamente. É um conceito sociológico, assim como todas as denominações usadas para identificação dos cristãos ao longo dos tempos: Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Presbiteriana, Igreja Batista, Igreja Metodista, Igreja Luterana, igreja isso, igreja aquilo. O que existe em termos bíblicos e teológicos é a comunidade cristã local – na verdade, centenas de milhares de igrejas locais. Comunidades que podem se reunir e se agrupar por afinidades doutrinárias, litúrgicas, modelos de governança, para trocas mutuamente enriquecedoras e especialmente para fins de cooperação na missão.

Quando você encontrar alguém dizendo que “faz parte do corpo de Cristo”, pergunte onde esse corpo de Cristo se reúne, como celebra sua fé, como pratica os mandamentos recíprocos (uns aos outros), como se governa ou se submete ao governo de Cristo, como coopera para a missão de testemunhar o evangelho do reino de Deus e fazer discípulos de Jesus desde Jerusalém como em toda Judeia e Samaria, até os confins da terra.

O que chamamos “igreja evangélica brasileira” há tempos se tornou uma aberração e não significa mais nada, ou melhor, significa tanta coisa que não faz mais diferença o que significa. Ou pior ainda, significa um monte de coisa que em sua grande maioria tem muito a ver com nomenclatura designativa de grupo religioso e quase nada a ver com o que o Novo Testamento chama de igreja-Igreja.

Qualquer pretensão de unidade da “igreja evangélica brasileira”, ou do fenômeno religioso identificado como movimento evangélico brasileiro, é incoerente, pela simples razão de aplicar um conceito bíblico-teológico-espiritual – a unidade do corpo místico de Cristo – a um fenômeno sociológico, histórico, social e culturalmente determinado.

Os discursos e mobilizações em nome de uma unidade da igreja evangélica brasileira atende a fins comerciais e financeiros, projetos particulares de poder histórico e interesses eleitoreiros que se justificam pelos dois anteriores.

Em lugar da busca de “unidade da igreja evangélica brasileira”, acredito na promoção de aproximações entre clérigos, líderes comunitários e agentes pastoralistas, e entre comunidades cristãs locais, organizações sociais, agências humanitárias e coletivos diversos confessionais, em razão de suas afinidades e interesses comuns. O movimento evangélico tem berço protestante e por isso mesmo é caracterizado pela divergência, diversidade e uma certa anarquia que favorece a multiplicação de ideias, organizações, comunidades e toda sorte de expressões de fé no Cristo. Para bem e para mal, ser identificado como protestante evangélico implica conviver com o caos e a criatividade, assumir o ônus e o bônus de afirmar a liberdade de consciência, a competência do indivíduo diante de Deus, a Bíblia como única regra de crenças e ética e a convicção de que o Espírito Santo é o único a presidir a expressão histórica do corpo de Cristo místico espiritual. Uma vez protestante, sempre protestante.

A “unidade da igreja” se aplica às comunidades cristãs locais. Cada comunidade deve viver em unidade, celebrando a diversidade e praticando a mutualidade (1Co 12). Na relação com milhares de outras comunidades cristãs locais e instituições religiosas diversas, inclusive denominações centenárias, vale mesmo a cooperação voluntária, e por isso mesmo opcional.

Sim, sou batista. Muito embora esse nome também esteja hoje comprometido. Em razão do sentido histórico do que significa “ser batista”, algo que remonta aos idos de 1600, faço questão de assim me identificar. Mas não esqueço que a Aliança Batista Mundial reúne mais de 20 mil grupos cristãos que se autodenominam “batistas”, inclusive os “batistas do sétimo dia”, que guardam o sábado.

Nota: Texto publicado originalmente na seção Reflexão da edição 366 da revista Ultimato.

• Ed René Kivitz é pastor da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo, SP. É mestre em ciências da religião e autor de, entre outros, O Livro Mais Mal-Humorado da Bíblia. facebook.com/edrenekivitz

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