Opinião
09 de outubro de 2025- Visualizações: 823
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Fé ritualizada – liturgia, comunidade e formação
Adorar a Deus em comunidade é também aprender, formar-se e agir
Por Davi Bastos
O livro Fé ritualizada – Ensaios em filosofia da liturgia, de Terrence Cuneo, é uma obra instigante que aprofunda um novo campo de reflexão: a filosofia da liturgia. Escrito a partir da tradição da filosofia analítica (diferentemente da filosofia da liturgia de James K. A. Smith, por exemplo), o texto alia rigor conceitual a uma atenção cuidadosa ao fenômeno do culto cristão, mostrando que a prática litúrgica não é apenas um elemento periférico da vida de fé, mas ocupa lugar central na forma como amamos a Deus e ao próximo.
A proposta de Cuneo é compreender a liturgia como um espaço em que se entrelaçam dimensões epistêmicas, pedagógicas e performativas. Ela tem um caráter epistêmico, pois transmite conhecimento e molda a percepção da realidade: ao cantar, orar ou ouvir leituras, os fiéis são convidados a compreender e assumir verdades fundamentais sobre Deus e sobre si mesmos. Também possui uma função pedagógica, uma vez que educa o coração e a mente, treinando os participantes em hábitos de atenção, humildade, gratidão e amor. Além disso, a liturgia é performativa, pois não se limita ao discurso, mas consiste em ações concretas: ao adorar, confessar, perdoar e interceder, os fiéis realizam atos que têm valor próprio e constituem parte essencial da vida cristã.
Um dos pontos notáveis da obra é o diálogo que Cuneo estabelece com a tradição ortodoxa grega, ao mostrar como rituais, gestos e palavras repetidas moldam comunidades de fé e sustentam a vida espiritual. Ainda assim, o livro não se restringe a essa tradição. Suas análises e ferramentas filosóficas são suficientemente amplas para que leitores de diferentes contextos cristãos – inclusive evangélicos brasileiros – encontrem nele uma fonte de aprendizado e reflexão.
Essa abertura é particularmente relevante no cenário evangélico do Brasil, onde muitas igrejas não possuem uma teologia litúrgica sistematizada e onde a liturgia costuma ser vista apenas como a “parte do culto” dedicada a cânticos e orações. Cuneo ajuda a repensar esse quadro, mostrando que a liturgia é uma forma concreta de encarnar a fé, um espaço em que a comunidade cristã aprende, pratica e testemunha o amor de Deus. Nesse sentido, sua obra oferece categorias filosóficas que enriquecem a compreensão evangélica da adoração e reforçam a importância do culto como prática central de fé.
Em resumo, Fé ritualizada é um convite a olhar para a liturgia não como pano de fundo, mas como expressão viva da fé cristã. Seja para quem pertence à tradição ortodoxa, católica ou evangélica, o livro mostra que adorar a Deus em comunidade é também aprender, formar-se e agir. Por isso, a obra de Terrence Cuneo se apresenta como leitura edificante para todos os que desejam compreender melhor a relação entre filosofia, teologia e prática cristã — e, sobretudo, para aqueles que buscam viver o mandamento de amar a Deus e ao próximo também por meio da liturgia.
Artigo publicado originalmente no site Unus Mundus. Reproduzido com permissão.
REVISTA ULTIMATO – JESUS, A LUZ DO MUNDO
Jesus, o clímax da narrativa da redenção, é a luz do mundo. Não há luz que se compare a ele. Sua luz alcança todo o mundo.
Além de anunciar-se como Luz, Jesus declara que os seus seguidores são a luz do mundo. “Pois Deus que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo brilhou em nosso coração para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2Co 4.6).
É disso que trata a edição 415 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Série “Filosofia e Fé Cristã”
» Para Que Serve a Teologia? – Sabedoria, significado e beleza, Alister McGrath
» Liturgia: o encontro do passado no presente e no futuro, por Luiz Fernando dos Santos
Por Davi Bastos
O livro Fé ritualizada – Ensaios em filosofia da liturgia, de Terrence Cuneo, é uma obra instigante que aprofunda um novo campo de reflexão: a filosofia da liturgia. Escrito a partir da tradição da filosofia analítica (diferentemente da filosofia da liturgia de James K. A. Smith, por exemplo), o texto alia rigor conceitual a uma atenção cuidadosa ao fenômeno do culto cristão, mostrando que a prática litúrgica não é apenas um elemento periférico da vida de fé, mas ocupa lugar central na forma como amamos a Deus e ao próximo.A proposta de Cuneo é compreender a liturgia como um espaço em que se entrelaçam dimensões epistêmicas, pedagógicas e performativas. Ela tem um caráter epistêmico, pois transmite conhecimento e molda a percepção da realidade: ao cantar, orar ou ouvir leituras, os fiéis são convidados a compreender e assumir verdades fundamentais sobre Deus e sobre si mesmos. Também possui uma função pedagógica, uma vez que educa o coração e a mente, treinando os participantes em hábitos de atenção, humildade, gratidão e amor. Além disso, a liturgia é performativa, pois não se limita ao discurso, mas consiste em ações concretas: ao adorar, confessar, perdoar e interceder, os fiéis realizam atos que têm valor próprio e constituem parte essencial da vida cristã.
Um dos pontos notáveis da obra é o diálogo que Cuneo estabelece com a tradição ortodoxa grega, ao mostrar como rituais, gestos e palavras repetidas moldam comunidades de fé e sustentam a vida espiritual. Ainda assim, o livro não se restringe a essa tradição. Suas análises e ferramentas filosóficas são suficientemente amplas para que leitores de diferentes contextos cristãos – inclusive evangélicos brasileiros – encontrem nele uma fonte de aprendizado e reflexão.
Essa abertura é particularmente relevante no cenário evangélico do Brasil, onde muitas igrejas não possuem uma teologia litúrgica sistematizada e onde a liturgia costuma ser vista apenas como a “parte do culto” dedicada a cânticos e orações. Cuneo ajuda a repensar esse quadro, mostrando que a liturgia é uma forma concreta de encarnar a fé, um espaço em que a comunidade cristã aprende, pratica e testemunha o amor de Deus. Nesse sentido, sua obra oferece categorias filosóficas que enriquecem a compreensão evangélica da adoração e reforçam a importância do culto como prática central de fé.
Em resumo, Fé ritualizada é um convite a olhar para a liturgia não como pano de fundo, mas como expressão viva da fé cristã. Seja para quem pertence à tradição ortodoxa, católica ou evangélica, o livro mostra que adorar a Deus em comunidade é também aprender, formar-se e agir. Por isso, a obra de Terrence Cuneo se apresenta como leitura edificante para todos os que desejam compreender melhor a relação entre filosofia, teologia e prática cristã — e, sobretudo, para aqueles que buscam viver o mandamento de amar a Deus e ao próximo também por meio da liturgia.- Davi Bastos, bacharel, mestre e doutorando em filosofia na Unicamp. Editor da série Filosofia e Fé Cristã da Editora Ultimato e da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (ABC²). Foi pesquisador júnior do projeto LATAM Bridges in the Epistemology of Religion da Universidade de Houston.
Artigo publicado originalmente no site Unus Mundus. Reproduzido com permissão.
REVISTA ULTIMATO – JESUS, A LUZ DO MUNDOJesus, o clímax da narrativa da redenção, é a luz do mundo. Não há luz que se compare a ele. Sua luz alcança todo o mundo.
Além de anunciar-se como Luz, Jesus declara que os seus seguidores são a luz do mundo. “Pois Deus que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo brilhou em nosso coração para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2Co 4.6).
É disso que trata a edição 415 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Série “Filosofia e Fé Cristã”
» Para Que Serve a Teologia? – Sabedoria, significado e beleza, Alister McGrath
» Liturgia: o encontro do passado no presente e no futuro, por Luiz Fernando dos Santos
Davi Bastos é casado com Samara e pai de Moisés, Anastácia (in memoriam) e Irene. É editor da série de livros Filosofia e Fé Cristã (Editora Ultimato) e doutorando em filosofia na Unicamp.
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