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Palavra do leitor

Vivendo a fé e a dúvida

Semana passada recebi uma mensagem no Facebook de uma pessoa que não conheço. Tenho certeza disso porque a pessoa mesmo é quem afirma não me conhecer pessoalmente, mas mesmo assim o conteúdo de sua mensagem me chamou a atenção. Para compreender melhor transcrevo a carta, mas guardo o nome de quem me enviou por uma questão ética:

"Não te conheço pessoalmente, e isso não é importante no momento. Mas, como amigo de alguns que te amam e seu irmão, gostaria de dizer: Seja lá a dúvida que tiver, confie nAquele que te dá forças para prosseguir. Pois foi Ele quem preparou e tem te aperfeiçoado a cada dia.
Deus o abençoe".

Não vou falar da mensagem em si, apenas de uma parte do seu conteúdo, quando diz "seja lá a dúvida que tiver, confie nAquele que te dá forças para prosseguir". Não sei o que as pessoas que me amam falaram com ele, tampouco sei a que dúvida a que se refere, até porque tenho muitas, mas acho interessante o fato de ter citado a dúvida.

Na minha forma de ver o mundo – e também a minha mística – não consigo excluir a dúvida. Não é que não consiga por falta de fé, apenas porque não há sentido em excluí-la. Estou imerso na minha humanidade, na angústia do temporal, seja aquela angústia existencial ou a outra de uma moralidade por vezes débil. Vivo num mundo onde a problemática do mal não pode ser resolvida, a injustiça não se resume somente na política social – por mais que esta seja uma realidade –, na natureza, na amoralidade do universo, na angustiante temporalidade do que se ama, em suma, da própria vida. Por isso mesmo Camus escreveu um livro chamado de "O Mito de Sisifo", que fala do absurdo da vida e dos vãos esforços dos homens, porque no fim tudo é simplesmente uma desilusão.

Além dessa angústia, há aquela outra, muito mais administrável, que é a família, os amigos, a entrega ao trabalho, às instituições, essas que se podem ter algum tipo de influência, fogem-nos ao controle no que Edgar Morin chamou de Ecologia da Ação, ou seja, por melhores que sejam as suas intenções nada pode garantir as conseqüências que virão, principalmente a longo prazo. Assim, por melhor criação que se dê aos filhos, nunca poderá saber o que serão no futuro, também em relação a qualquer ramificação da família, no trabalho mais digno que pode trazer conseqüências catastróficamente contrárias ao que se pretendia, pelas instituições que participamos e cremos e, enfim, com nós mesmos que muitas vezes nos surpreendemos com algumas atitudes ou rumos que não pretendíamos. Isso acontece porque a vida é uma profunda complexidade que segue um fluxo potente, interligado numa rede de relações que não dependem diretamente de nós. Num exemplo bíblico podemos perceber o caso de Abrãao e Sara que por querem um filho – o da promessa – e por não conseguirem juntos, buscam Agar para resolver o seu problema. As consequências do que queriam foi oposta à sua intenção, por mais nobre que fosse. A narrativa nos mostra um Abraão que, preso em sua temporalidade, tenta desesperadamente a superação de um drama.

Esse é o mundo da dúvida, da incerteza, a existência sem nenhuma garantia de nada, no entanto, é desta realidade, deste mundo, deste cosmo que eu vou em direção a Deus. Não posso ir senão daí, porque aí existo, seja por descuido da vida ou por capricho divino, mas vou, como bem percebeu Kierkegaard na sua antropologia, sendo uma síntese de finito e infinito. É nesse ato de ir que eu encontro o sentido, porque nessa mística que não exclui a dúvida, ao contrário, sempre lhe necessita, que participo do infinito, do atemporal e que faz o que é transcendente participar da minha existência. Tillich em sua Teologia Sistemática foi muito feliz em observar que “Quando invocamos com toda a seriedade o “Deus Todo-Poderoso”, experimentamos uma vitória sobre a ameaça do não-ser e expressamos uma corajosa afirmação da existência. Nem a finitude nem a angústia desaparecem, mas elas são assumidas na infinitude e na coragem”.

É nessa coragem mística que me lanço na vida, na minha espiritualidade e que encontro forças para prosseguir, mesmo tendo poucas respostas e infinitas dúvidas. No mais, tudo está fora do meu controle e só me resta descansar em minhas contradições intelectuais e místicas.
Rio - RJ
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