Palavra do leitor
- 18 de novembro de 2010
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Trajetória pessoal: Dia Nacional da Consciência Negra
Minha avó nasceu na região de Sorocaba em 1871, ano em que foi promulgada a lei nº 2040 conhecida como a Lei do Ventre livre. Para minha família, o entendimento dessa lei significou a especulação da esperança de termos nascidas livres e orgulhosas de nossa raça e cultura negra.
Para mim, crescer foi uma busca do que era ser cristã e, ao mesmo tempo, carregar comigo, na cor e no coração, o que era ser negra. Estudando, descobrindo e conhecendo os valores da igreja local, através dos anos de ministério, pude sempre manter a indagação do que significava ser negra e cristã.
A primeira vez que o desejo de expressar a cultura negra e celebrá-la como igreja aconteceu no que chamávamos, nos anos oitenta, o Dia de Zumbi. Celebramos na Comunidade de Jesus, em São Paulo, o dia desse herói. Convidamos um africano evangélico que nos falou sobre o tema. Oferecemos um retrospecto do que significava ser negro no país... Foi para mim um marco na minha jornada: ter a igreja, ao menos, ouvindo um pouco o que estava no meu coração. É importante repetir com mais acuidade esse tipo de atividade hoje, quando as nossas igrejas buscam inserir sua marca na sociedade geral.
Hoje, sonho em promover junto às igrejas e centros missionários a aplicação da lei n.º 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que incluiu o dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra (http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/datas/consciencianegra/home.html).
Para concretizar esse sonho, deparamo-nos com algumas barreiras sociais:
1. A primeira delas é que a cultura negra foi compreendida como catimbó, feitiço, macumba, etc. Assim, nas igrejas, falar da cultura negra envolve uma atmosfera de suspeita do elemento afro-brasileiro e das religiões afro-brasileiras. O negro evangélico encontra dificuldade de expressão como negro, pois há uma rápida conexão da sua raça com as culturas afro-religiosas, e muitos não sabem fazer essa distinção.
2. Uma segunda barreira que observo é que os negros na igreja evangélica não sabem articular a força cultural que têm. Deixam de expressar suas raízes e adotam valores sociais distantes da cultura negra. A história registra essa lacuna na formação da consciência negra brasileira.
3. Uma terceira barreira, considerada por mim a mais difícil, é a desculpa “eu não vejo a cor”. Assim a pessoa negra, não tem cor. Sempre achei essa desculpa racista, pois amo as cores, aprecio muito a beleza de uma pessoa oriental, das pessoas brancas, do indígena. Gosto de ver as nuances da cor da pele, dos olhos, da estrutura óssea de cada uma delas. É o artista plástico em mim. E ouvindo essa desculpa, eu estava lá, escurinha e ignorada. Como é que não me davam o direito de ser o que eu era e me anulavam com essa expressão abarcadora e paternalista?
Pensando em tudo isso, tenho sugestões bem simples para as igrejas locais. No dia 20 de novembro, na Escola Dominical, mencione a questão da negritude como parte do mosaico divino. Deus é um Deus que ama as cores. Com certeza, as crianças negras vão apreciar serem integrantes desse mosaico, como iguais e não da ausência de cores.
Sabendo que os escravos eram considerados animais e não tinham almas, muitos negros não foram catequizados. No culto, os pastores podem mencionar Zumbi como luz para a liberdade sócio-política dos escravos. Também podem fazer referência às pessoas de outras culturas, por exemplo, Martin Luther King.
No boletim, talvez caiba uma entrevista com algum líder da igreja que tenha a consciência de que ser negro é essencial para que as futuras gerações de crianças do bairro de famílias negras conheçam e sigam o Messias.
E se sua igreja tem grupos de louvor com dança, sugere-se coreografias afro-brasileiras. Há vários cantores evangélicos cujas canções são de ritmos nacionais e que podem contribuir para o fortalecimento do espaço cultural do Dia da Consciência Negra.
E para 2011, deixe esse dia planejado como marco de sua igreja local. Afinal, milhões de brasilleiros tem um pé na cozinha ou senzala.
Para mim, crescer foi uma busca do que era ser cristã e, ao mesmo tempo, carregar comigo, na cor e no coração, o que era ser negra. Estudando, descobrindo e conhecendo os valores da igreja local, através dos anos de ministério, pude sempre manter a indagação do que significava ser negra e cristã.
A primeira vez que o desejo de expressar a cultura negra e celebrá-la como igreja aconteceu no que chamávamos, nos anos oitenta, o Dia de Zumbi. Celebramos na Comunidade de Jesus, em São Paulo, o dia desse herói. Convidamos um africano evangélico que nos falou sobre o tema. Oferecemos um retrospecto do que significava ser negro no país... Foi para mim um marco na minha jornada: ter a igreja, ao menos, ouvindo um pouco o que estava no meu coração. É importante repetir com mais acuidade esse tipo de atividade hoje, quando as nossas igrejas buscam inserir sua marca na sociedade geral.
Hoje, sonho em promover junto às igrejas e centros missionários a aplicação da lei n.º 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que incluiu o dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra (http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/datas/consciencianegra/home.html).
Para concretizar esse sonho, deparamo-nos com algumas barreiras sociais:
1. A primeira delas é que a cultura negra foi compreendida como catimbó, feitiço, macumba, etc. Assim, nas igrejas, falar da cultura negra envolve uma atmosfera de suspeita do elemento afro-brasileiro e das religiões afro-brasileiras. O negro evangélico encontra dificuldade de expressão como negro, pois há uma rápida conexão da sua raça com as culturas afro-religiosas, e muitos não sabem fazer essa distinção.
2. Uma segunda barreira que observo é que os negros na igreja evangélica não sabem articular a força cultural que têm. Deixam de expressar suas raízes e adotam valores sociais distantes da cultura negra. A história registra essa lacuna na formação da consciência negra brasileira.
3. Uma terceira barreira, considerada por mim a mais difícil, é a desculpa “eu não vejo a cor”. Assim a pessoa negra, não tem cor. Sempre achei essa desculpa racista, pois amo as cores, aprecio muito a beleza de uma pessoa oriental, das pessoas brancas, do indígena. Gosto de ver as nuances da cor da pele, dos olhos, da estrutura óssea de cada uma delas. É o artista plástico em mim. E ouvindo essa desculpa, eu estava lá, escurinha e ignorada. Como é que não me davam o direito de ser o que eu era e me anulavam com essa expressão abarcadora e paternalista?
Pensando em tudo isso, tenho sugestões bem simples para as igrejas locais. No dia 20 de novembro, na Escola Dominical, mencione a questão da negritude como parte do mosaico divino. Deus é um Deus que ama as cores. Com certeza, as crianças negras vão apreciar serem integrantes desse mosaico, como iguais e não da ausência de cores.
Sabendo que os escravos eram considerados animais e não tinham almas, muitos negros não foram catequizados. No culto, os pastores podem mencionar Zumbi como luz para a liberdade sócio-política dos escravos. Também podem fazer referência às pessoas de outras culturas, por exemplo, Martin Luther King.
No boletim, talvez caiba uma entrevista com algum líder da igreja que tenha a consciência de que ser negro é essencial para que as futuras gerações de crianças do bairro de famílias negras conheçam e sigam o Messias.
E se sua igreja tem grupos de louvor com dança, sugere-se coreografias afro-brasileiras. Há vários cantores evangélicos cujas canções são de ritmos nacionais e que podem contribuir para o fortalecimento do espaço cultural do Dia da Consciência Negra.
E para 2011, deixe esse dia planejado como marco de sua igreja local. Afinal, milhões de brasilleiros tem um pé na cozinha ou senzala.
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