Palavra do leitor
29 de maio de 2014- Visualizações: 2989
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A Teologia da Missão Integral e a Pobreza
É tanta coisa que gostaria de escrever que não cabe dentro de apenas um texto. Vou estender minha reação de acordo com as falas do vídeo, mas hoje gostaria de desfazer somente um primeiro ponto e depois, em outro texto, eu entro no assunto da TMI em si e da questão do marxismo – como insistiu o Dr. Nicodemus com o pr. Ariovaldo Ramos.
O primeiro erro é a concepção de pobreza dos irmãos, ou pelo menos foi o que deram a entender quando no vídeo disseram que os pobres querem prosperar, sair daquela vida, e muitas vezes parece que as igrejas querem manter uma creche da mesma maneira que uma empresa mantém uma obra social. Aqui parece que a compreensão de pobreza – e também de obra social –é somente o antagonismo em relação aos bens materiais, mas melhor do que escrever sobre uma ideia de pobreza é contar uma experiência.
Vivo na Guatemala onde sou missionário e a capital do país é uma das mais violentas do mundo. Escolhi não trabalhar como pastor de uma igreja local e sim com algumas igrejas apoiando com alguns projetos que nós temos – mas sobre projetos sociais eu falo no próximo texto, ok? – e um dos locais onde estamos por abrir uma creche – vejam que coincidência – é uma das zonas mais violentas da cidade. Provavelmente os irmãos que estavam na discussão sobre a TMI já tenham visto algum filme americano onde havia gangues de latinos. Pois é, essas gangues latinas – que aqui chamam de "maras", como me referirei a elas na sequência do texto – se formaram lá fora e com a política de extradição do governo dos EUA essas gangues começaram a se formar aqui, também, na América Central e são conhecidas por sua violência.
Certo dia uma família que divide a lâmina – não o muro, porque as casas são de lâmina – com o pastor de uma igreja batista teve um problema com um desses "mareiros" que juntou seus comparsas e entrou facilmente em sua casa de lâmina começando um show de horrores: torturaram, executaram e esquartejaram toda família em frente ao pai que gritava angustiado: “Jesus, por que permites isso?”; gritos que ficaram na cabeça desse pastor que me dizia não adiantar nada tentar chamar a polícia, pois eles realmente não fazem caso e, além disso, recebem sua propina para deixa-los em paz. Esse mesmo pastor é um "ex-mareiro" que se converteu a Cristo e, como devem ter visto em filmes americanos, eles têm tatuagens que representam a mara onde “trabalham”. Vocês acreditam que ele – nosso irmão em Cristo – conseguiu algum trabalho, mesmo depois de implorar e jurar que estava recomeçando sua vida? Acho que eu não preciso responder.
Terminada essa estória, eu gostaria de dizer que o que os irmãos precisam compreender que quando os teólogos, pastores, missionários e irmãos em geral da TMI reclamam por uma teologia Latino-Americana eles não estão desejando uma nova teologia no sentido de substituir uma clássica por uma nova, mas sim um novo enfoque, porque pobreza em nosso continente não é somente ausência de luxo, mas de tudo – segurança, saúde, educação, oportunidades, alimento (como pode um menino de nove anos, membro de uma das igrejas onde estamos trabalhando – ter o mesmo tamanho da minha filha de cinco?), etc. Não se trata de uma pobreza europeia, mas de uma com características latinas – ou vocês creem que a pobreza europeia teve – ou tem – as mesmas nuances da nossa pobreza? Os teólogos da TMI não querem uma nova teologia no sentido de rever dogmas como trindade, ressurreição corpórea, etc., mas sim em saber como comunicar esse evangelho aos vizinhos da família torturada e esquartejada, mas também aos mareiros que cometeram o crime para que se convertam a Cristo – que histórias existem atrás dessas pessoas? – , bem como às autoridades; além disso, como essas coisas devem afetar a nossa vida como cristãos que convivem numa sociedade como essa, ou podemos sequer considerar que nós não seremos afetados por essas tragédias?
Podemos ser cristãos e continuar com uma agenda que não reflita a condição social dessas pessoas e famílias, ou as marchas pela família serão aquelas que se resumem contra o casamento gay (não estou dizendo que os irmãos estão de acordo ou não com essa marcha)? O mal social e político não contribuiu, também, pela destruição da família em todos os níveis?
É isso que refletimos, mas como escrevi ao início, nao posso escrever tudo que quero agora. Somente fiz uma introducao e, depois, continuo.
O primeiro erro é a concepção de pobreza dos irmãos, ou pelo menos foi o que deram a entender quando no vídeo disseram que os pobres querem prosperar, sair daquela vida, e muitas vezes parece que as igrejas querem manter uma creche da mesma maneira que uma empresa mantém uma obra social. Aqui parece que a compreensão de pobreza – e também de obra social –é somente o antagonismo em relação aos bens materiais, mas melhor do que escrever sobre uma ideia de pobreza é contar uma experiência.
Vivo na Guatemala onde sou missionário e a capital do país é uma das mais violentas do mundo. Escolhi não trabalhar como pastor de uma igreja local e sim com algumas igrejas apoiando com alguns projetos que nós temos – mas sobre projetos sociais eu falo no próximo texto, ok? – e um dos locais onde estamos por abrir uma creche – vejam que coincidência – é uma das zonas mais violentas da cidade. Provavelmente os irmãos que estavam na discussão sobre a TMI já tenham visto algum filme americano onde havia gangues de latinos. Pois é, essas gangues latinas – que aqui chamam de "maras", como me referirei a elas na sequência do texto – se formaram lá fora e com a política de extradição do governo dos EUA essas gangues começaram a se formar aqui, também, na América Central e são conhecidas por sua violência.
Certo dia uma família que divide a lâmina – não o muro, porque as casas são de lâmina – com o pastor de uma igreja batista teve um problema com um desses "mareiros" que juntou seus comparsas e entrou facilmente em sua casa de lâmina começando um show de horrores: torturaram, executaram e esquartejaram toda família em frente ao pai que gritava angustiado: “Jesus, por que permites isso?”; gritos que ficaram na cabeça desse pastor que me dizia não adiantar nada tentar chamar a polícia, pois eles realmente não fazem caso e, além disso, recebem sua propina para deixa-los em paz. Esse mesmo pastor é um "ex-mareiro" que se converteu a Cristo e, como devem ter visto em filmes americanos, eles têm tatuagens que representam a mara onde “trabalham”. Vocês acreditam que ele – nosso irmão em Cristo – conseguiu algum trabalho, mesmo depois de implorar e jurar que estava recomeçando sua vida? Acho que eu não preciso responder.
Terminada essa estória, eu gostaria de dizer que o que os irmãos precisam compreender que quando os teólogos, pastores, missionários e irmãos em geral da TMI reclamam por uma teologia Latino-Americana eles não estão desejando uma nova teologia no sentido de substituir uma clássica por uma nova, mas sim um novo enfoque, porque pobreza em nosso continente não é somente ausência de luxo, mas de tudo – segurança, saúde, educação, oportunidades, alimento (como pode um menino de nove anos, membro de uma das igrejas onde estamos trabalhando – ter o mesmo tamanho da minha filha de cinco?), etc. Não se trata de uma pobreza europeia, mas de uma com características latinas – ou vocês creem que a pobreza europeia teve – ou tem – as mesmas nuances da nossa pobreza? Os teólogos da TMI não querem uma nova teologia no sentido de rever dogmas como trindade, ressurreição corpórea, etc., mas sim em saber como comunicar esse evangelho aos vizinhos da família torturada e esquartejada, mas também aos mareiros que cometeram o crime para que se convertam a Cristo – que histórias existem atrás dessas pessoas? – , bem como às autoridades; além disso, como essas coisas devem afetar a nossa vida como cristãos que convivem numa sociedade como essa, ou podemos sequer considerar que nós não seremos afetados por essas tragédias?
Podemos ser cristãos e continuar com uma agenda que não reflita a condição social dessas pessoas e famílias, ou as marchas pela família serão aquelas que se resumem contra o casamento gay (não estou dizendo que os irmãos estão de acordo ou não com essa marcha)? O mal social e político não contribuiu, também, pela destruição da família em todos os níveis?
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