Palavra do leitor
08 de dezembro de 2015- Visualizações: 859
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Pelas Paredes
Não sei de onde ela veio. Sei que, certo dia, olhei para a parede da escada e lá estava. Grudada através de finos dedos, me encarando com seus olhões esbugalhados. No início confesso ter esnobado sua presença como que um animalzinho de passagem, que logo iria embora, ou que morreria por qualquer motivo. Talvez até um pouquinho de pena tenha cultivado do bicho que de tão feio transpirava certa simpatia. Poderia se dizer que se tratava de uma lagartixa infanto-juvenil o que tornava seu extermínio quase que um infanticídio. Crueldade imensa acabar com a vida de um ser inofensivo tão cedo…
Bem verdade, não era assim tão ruim tê-la conosco em casa. Estava ali sempre bem humorada ainda que calada. Era companhia fiel e solícita de momentos de solidão ou tédio. Ainda que minha preferência fora tê-la em algum lugar mais discreto, é preciso dizer. Um canto de sala, embaixo da escada talvez. Na parede de um dos lugares mais visitados da casa, porém, trazia-me certo inconveniente. Se pelo menos permanecesse escondidinha atrás do vaso de flores ou aparecesse para mim quando só, em momento de maior recato, teríamos diminuído bastante nossos problemas. Mas a danada cresceu. E ficou abusada. Tomou conta da parede como quem reivindica usucapião. Correndo de um lado para o outro, encarando as visitas, dando susto em qualquer desavisado que, ingenuamente, subisse ao segundo andar. Fez questão de mostrar pra todo mundo o meu gosto por animais de estimação exóticos ainda que não a tivesse escolhido digamos… comissivamente. Exibia assim seus furúnculos nas costas, seu aspecto pegajoso, sua cor quase transparente. E eu, como sempre, dizia não saber de onde veio animal de ordem tal de repugnância e que providenciaria, imediatamente, a reintegração da posse da parede que me fora violentamente retirada.
Mas era conversa fiada. O fato é que já estava deveras apegado ao bichano. Como retirar do nosso convívio alguém a quem vimos crescer sem, com isso, considerar-se um monstro? A lagartixa já era parte de mim ainda que feia, abusada, inconveniente e tudo mais que se poderia adjetivá-la. Seu crescimento e sobrevivência eram fruto de minha decisão por protegê-la. Mas o plano já estava traçado. Continuaria negando o vinculo, prometendo providencias, e torcendo para que o animalzinho parasse de crescer e aprendesse a se comportar. O animalzinho. Faltava-me batizá-lo… Resolvi então chamar-lhe carinhosamente de Meu Pecado.
Bem verdade, não era assim tão ruim tê-la conosco em casa. Estava ali sempre bem humorada ainda que calada. Era companhia fiel e solícita de momentos de solidão ou tédio. Ainda que minha preferência fora tê-la em algum lugar mais discreto, é preciso dizer. Um canto de sala, embaixo da escada talvez. Na parede de um dos lugares mais visitados da casa, porém, trazia-me certo inconveniente. Se pelo menos permanecesse escondidinha atrás do vaso de flores ou aparecesse para mim quando só, em momento de maior recato, teríamos diminuído bastante nossos problemas. Mas a danada cresceu. E ficou abusada. Tomou conta da parede como quem reivindica usucapião. Correndo de um lado para o outro, encarando as visitas, dando susto em qualquer desavisado que, ingenuamente, subisse ao segundo andar. Fez questão de mostrar pra todo mundo o meu gosto por animais de estimação exóticos ainda que não a tivesse escolhido digamos… comissivamente. Exibia assim seus furúnculos nas costas, seu aspecto pegajoso, sua cor quase transparente. E eu, como sempre, dizia não saber de onde veio animal de ordem tal de repugnância e que providenciaria, imediatamente, a reintegração da posse da parede que me fora violentamente retirada.
Mas era conversa fiada. O fato é que já estava deveras apegado ao bichano. Como retirar do nosso convívio alguém a quem vimos crescer sem, com isso, considerar-se um monstro? A lagartixa já era parte de mim ainda que feia, abusada, inconveniente e tudo mais que se poderia adjetivá-la. Seu crescimento e sobrevivência eram fruto de minha decisão por protegê-la. Mas o plano já estava traçado. Continuaria negando o vinculo, prometendo providencias, e torcendo para que o animalzinho parasse de crescer e aprendesse a se comportar. O animalzinho. Faltava-me batizá-lo… Resolvi então chamar-lhe carinhosamente de Meu Pecado.
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