Palavra do leitor
- 01 de março de 2020
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Não existem heróis da Fé
Provavelmente você conhece a história de Noé, um homem correto a quem Deus ordenou que construísse uma Arca, pois estava decidido a destruir a humanidade com um dilúvio. Noé, portanto, era visto por Deus como alguém justo, motivo pelo qual ele e sua família foram os únicos a serem poupados da aniquilação. A reputação de Noé foi mencionada pelo próprio Jesus nos evangelhos (Mt 24.37) e, no livro dos Hebreus, ele aparece em terceiro lugar no "quadro de heróis da fé", onde encontramos a seguinte descrição:
"Foi pela fé que Noé ouviu os avisos de Deus sobre as coisas que iam acontecer e que não podiam ser vistas. Noé obedeceu a Deus e construiu uma arca em que ele e a sua família foram salvos. Assim Noé condenou o mundo e recebeu de Deus a aprovação que vem por meio da fé" (Hb 11.7)
No entanto, o último registro da história deste patriarca, o que encontramos é embriaguez, nudez, vergonha e maldição. Confesso que ao ler na Bíblia a história de grandes homens não gosto de ler desfechos como esse. É frustrante, vergonhoso e em certa medida desestimulador. Costumo pensar: Se Noé, que era um homem temente a Deus, "terminou" assim, o que será de mim? "Quem poderá, pois salvar-se?" (Mt 19.25).
Gideão e Sansão foram homens notáveis, fizeram grandes obras pelo Espírito de Deus e ambos também foram mencionados no "quadro de heróis da fé". Não obstante, Gideão, depois de suas vitórias, se achou digno, tomou riquezas do povo, "perdeu o juízo", fez uma fantasia para si tornando-se idólatra (Juízes 8.24-26). Do outro lado, Sansão chegou a se arrepender, mas "pagou" com a própria vida e morreu cego e soterrado junto com seus inimigos (Juízes 16.26-30). Se você quiser ir adiante também encontrará a história de Salomão.
Eu mesmo, de dentro de mim, sempre sinto pesar ao ler desfechos de histórias como a destes homens. Talvez seja porque no fundo, no fundo eu gostaria de acreditar que de fato eles pudessem ser heróis. E por heróis quero dizer, aqueles que conseguiram vencer o mundo e a si mesmos com as próprias forças. Essa "esperança" da natureza humana é o maior sintoma da nossa doença: gostaríamos de poder vencer a necessidade de um Deus.
Por isso, é bem equivocada a conclusão de muitos homens inteligentes de que Deus, o Deus Altíssimo é apenas o resultado da projeção das nossas necessidades de uma figura paterna diante da existência e do sofrimento humano. Pelo contrário, em sua condição natural o homem fará de tudo para nos livrar dele...uma das formas pelas quais se faz isso é negando sua existência e a outra é criando deuses e religiões à sua imagem e semelhança.
Bem, caso Deus não existisse, estes recursos – filosóficos e religiosos – nos bastariam, ou talvez nem seriam necessários, porque estaríamos satisfeitos com a nossa própria condição e não nos incomodaríamos em nada com a realidade do mundo, do universo e com o problema da nossa natureza genuinamente má. Não nos espreguiçaríamos um centímetro sequer para mudarmos nossa condição tal como um gato não reclama a necessidade de ser visto, respeitado e admirado como um leão.
Mas é precisamente porque não aceitamos a nossa própria condição que tentamos mudá-la com as nossas próprias forças. O mal não é algo que julgamos ser natural, nós lutamos contra isso porque sentimos e percebemos que isso nos destrói, nos mata. A morte não nos parece natural e, por isso lutamos contra ela desesperadamente. E, quando não queremos assumir que o mal está em nós, em cada um de nós, então (aí sim) o projetamos no outro, nos nossos pais, na sociedade, no presidente, na cultura, na política, em Deus e no Diabo. Com todo esse esforço, deixamos de nos sentir violões e, nos tornamos os heróis aos nossos olhos. Queremos salvar o mundo, mas fazemos isso para de alguma forma esquecermos o mal interno do qual não conseguimos nos livrar, a ferida que não cura, a sujeira que não sai.
Enganamos a todos, mas sabemos que nossos corpos, nosso coração está sujo e, portanto, queremos nos purificar de nós mesmos. Cotidianamente precisamos de um bode expiatório, alguém que se assuma a responsabilidade, alguém que seja o culpado, alguém que seja penalizado por tudo isso que sofremos todos os dias desde o nosso nascimento. O primeiro critério para que eu me torne herói é que todos os outros sejam vilões.
Não existem heróis da fé? Não sei até que ponto posso dizer isso. Claro que houve homens dos quais o mundo não era digno (Hb 11.38), por isso são exemplos. Mas confesso que escolhi esse título apenas por efeito de causar curiosidade. Se há algum heroísmo na história destes homens, ou na minha é apenas o de revelar a insuficiência, a fraqueza e o fracasso humano para que se abra caminho, para que apareça o verdadeiro e único Herói. Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, puro, sem mancha e inocente que, antes da criação do mundo, já havia sido providenciado para assumir a minha e a sua culpa. Só ele pode dizer: "Eu venci o mundo" (Jo 16.33). Ele cura, Ele limpa, Ele salva. Somente Ele.
"Foi pela fé que Noé ouviu os avisos de Deus sobre as coisas que iam acontecer e que não podiam ser vistas. Noé obedeceu a Deus e construiu uma arca em que ele e a sua família foram salvos. Assim Noé condenou o mundo e recebeu de Deus a aprovação que vem por meio da fé" (Hb 11.7)
No entanto, o último registro da história deste patriarca, o que encontramos é embriaguez, nudez, vergonha e maldição. Confesso que ao ler na Bíblia a história de grandes homens não gosto de ler desfechos como esse. É frustrante, vergonhoso e em certa medida desestimulador. Costumo pensar: Se Noé, que era um homem temente a Deus, "terminou" assim, o que será de mim? "Quem poderá, pois salvar-se?" (Mt 19.25).
Gideão e Sansão foram homens notáveis, fizeram grandes obras pelo Espírito de Deus e ambos também foram mencionados no "quadro de heróis da fé". Não obstante, Gideão, depois de suas vitórias, se achou digno, tomou riquezas do povo, "perdeu o juízo", fez uma fantasia para si tornando-se idólatra (Juízes 8.24-26). Do outro lado, Sansão chegou a se arrepender, mas "pagou" com a própria vida e morreu cego e soterrado junto com seus inimigos (Juízes 16.26-30). Se você quiser ir adiante também encontrará a história de Salomão.
Eu mesmo, de dentro de mim, sempre sinto pesar ao ler desfechos de histórias como a destes homens. Talvez seja porque no fundo, no fundo eu gostaria de acreditar que de fato eles pudessem ser heróis. E por heróis quero dizer, aqueles que conseguiram vencer o mundo e a si mesmos com as próprias forças. Essa "esperança" da natureza humana é o maior sintoma da nossa doença: gostaríamos de poder vencer a necessidade de um Deus.
Por isso, é bem equivocada a conclusão de muitos homens inteligentes de que Deus, o Deus Altíssimo é apenas o resultado da projeção das nossas necessidades de uma figura paterna diante da existência e do sofrimento humano. Pelo contrário, em sua condição natural o homem fará de tudo para nos livrar dele...uma das formas pelas quais se faz isso é negando sua existência e a outra é criando deuses e religiões à sua imagem e semelhança.
Bem, caso Deus não existisse, estes recursos – filosóficos e religiosos – nos bastariam, ou talvez nem seriam necessários, porque estaríamos satisfeitos com a nossa própria condição e não nos incomodaríamos em nada com a realidade do mundo, do universo e com o problema da nossa natureza genuinamente má. Não nos espreguiçaríamos um centímetro sequer para mudarmos nossa condição tal como um gato não reclama a necessidade de ser visto, respeitado e admirado como um leão.
Mas é precisamente porque não aceitamos a nossa própria condição que tentamos mudá-la com as nossas próprias forças. O mal não é algo que julgamos ser natural, nós lutamos contra isso porque sentimos e percebemos que isso nos destrói, nos mata. A morte não nos parece natural e, por isso lutamos contra ela desesperadamente. E, quando não queremos assumir que o mal está em nós, em cada um de nós, então (aí sim) o projetamos no outro, nos nossos pais, na sociedade, no presidente, na cultura, na política, em Deus e no Diabo. Com todo esse esforço, deixamos de nos sentir violões e, nos tornamos os heróis aos nossos olhos. Queremos salvar o mundo, mas fazemos isso para de alguma forma esquecermos o mal interno do qual não conseguimos nos livrar, a ferida que não cura, a sujeira que não sai.
Enganamos a todos, mas sabemos que nossos corpos, nosso coração está sujo e, portanto, queremos nos purificar de nós mesmos. Cotidianamente precisamos de um bode expiatório, alguém que se assuma a responsabilidade, alguém que seja o culpado, alguém que seja penalizado por tudo isso que sofremos todos os dias desde o nosso nascimento. O primeiro critério para que eu me torne herói é que todos os outros sejam vilões.
Não existem heróis da fé? Não sei até que ponto posso dizer isso. Claro que houve homens dos quais o mundo não era digno (Hb 11.38), por isso são exemplos. Mas confesso que escolhi esse título apenas por efeito de causar curiosidade. Se há algum heroísmo na história destes homens, ou na minha é apenas o de revelar a insuficiência, a fraqueza e o fracasso humano para que se abra caminho, para que apareça o verdadeiro e único Herói. Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, puro, sem mancha e inocente que, antes da criação do mundo, já havia sido providenciado para assumir a minha e a sua culpa. Só ele pode dizer: "Eu venci o mundo" (Jo 16.33). Ele cura, Ele limpa, Ele salva. Somente Ele.
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