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Palavra do leitor

Não deis aos cães o que é santo

Antes de passar a morar em apartamento (o que sempre lamentei), mantive lindos cachorros nos meus quintais. Ao "Combate" faço referência no meu livro de memórias, na parte em que narro sobre a minha infância. Depois, entre outros cachorros, tivemos o "Lobo" - uma mistura da raça policial com a vira-lata. O Flint, pequenez cuja imagem guardamos em uma foto com o meu caçula, Alfredinho, nos foi furtado pelo garoto a quem dávamos um lanche, todas as tardes, e que depois desse dia nunca mais apareceu. Finalmente, o meu filho Calinco criava um casal de cachorros no amplo quintal da casa em que morava em Guarapari-ES.

Parece então que havia entre os Muzzi e os cães uma perfeita harmonia. Lobo como que chorava de alegria quando eu chegava de viagem. Cena semelhante àquela que eu e meu sobrinho Wilsinho presenciamos quando, nos idos de 70, conduzimos um querido casal – Paulo César e Nilde – até a sua casa em Brasília: o reencontro de uma gata com seus donos, depois de muitos dias de ausência. Um momento indescritível! Sim, experiências desse tipo nos fazem amar e querer ter por perto alguns tipos de animal. Terapeutas chegam a aconselhar os pais a manterem em casa um animal de estimação como parte da educação de algumas crianças. É também encantador observar como as crianças agem e reagem diante dos animais num zoológico. Tudo bem, diria eu, para encerrar esta introdução ao tema.

Mas, nos dias atuais, parece que os animais, especialmente gatos e cães, estão tomando o lugar do relacionamento entre as pessoas, e até entre pais e filhos. Outro dia vi, num Shopping Center, um casal levando nos braços, cada um, um cachorrinho todo enfeitado, enquanto duas crianças, ainda bem pequenas, seguiam atrás, sozinhas, sujeitas a todos os riscos que os jornais de hoje não cansam de registrar. Será que é porque os animais não reclamam, não questionam, ouvem tudo em silêncio? Será que é porque o que fazem está mais voltado para o ato de se alimentar? Parece que os primeiros protestos do leitor já se fazem sentir. O que posso fazer? Preciso continuar, porque gosto dos animais, mas gosto mais de gente. Gostava de acariciar o peito de Lobo com os meus pés calçados quando, chegando ao portão de minha casa, ele se deitava, de ventre para cima, para receber os meus afagos. Mas, sabem qual era a comida do Lobo (que não morreu de velho porque foi acidentado)? – Bofe de boi cozido com fubá, feito de uma só vez (e guardado na geladeira) para toda uma semana.

Sim. Penso que algo está errado com esta geração que cuida mais de cães e gatos do que dos pobres que Jesus tanto amou. Que deixa os seus filhos por conta do consumismo insuflado pela mídia e o mercado, enquanto brinca com cães e gatos. Aos filhos, coisas materiais, às vezes conflitantes com o seu próprio modo de ser. Aos cães e gatos - veterinário, cabeleireiro, sapatilhas, óculos, bonés, "casamentos" combinados até de um Estado para outro, festas de aniversário e alimentos requintados adquiridos a preço superior ao que custaria para alimentar crianças pobres, ajudar a educar o filho da cozinheira, da lavadeira, do zelador do sítio, daqueles que – quem sabe? – Deus colocou em nosso caminho para que os amássemos e deles cuidássemos!

Por que resolvi escrever sobre este assunto, que talvez suscite mais reação do que ação pró-ativa? Acho que é porque vivenciei cenas inaceitáveis de relacionamento do ser humano com animais. Vi pessoas dando aos animais aquilo que muitas vezes negam aos filhos. Vi pessoas que, indiferentes à dor do seu semelhante, quase transformam numa religião sua militância em defesa dos animais. É paradoxal essa perda de valores éticos que parece estar por trás dessas ações. Ontem, lendo a Bíblia e a revista Ultimato, meu coração se inquietou ainda mais, no confronto com os problemas da irracionalidade humana pós-moderna.

No texto bíblico acima destacado, que faz parte do "Sermão do Monte", onde estão as bem-aventuranças, essenciais à vida humana, vamos encontrar Jesus dizendo o seguinte: "Não deis aos cães o que é santo". Não estou preocupado com interpretações simbólicas, aqui. Vejo que Jesus, talvez, para não deixar dúvida quanto ao sentido desse mandamento, também se refere a porcos (e seus alimentos). O que penso é que Jesus era muito prático também quando se referia ao que é essencial para uma vida feliz. Ele não ensinava através de parábolas para confundir, mas para clarear. Para Ele era "Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus". Parafraseando-o, eu diria: "Dai bofe de boi ao Lobo e amor às crianças, às pessoas". Para Jesus, não se dão coisas santas nem pérolas aos animais. Cada espécie no seu gênero e natureza. E é num contexto amplo que Ele fala do que é essencial à vida, dentro do Sermão do Monte (Mt 5-7). No mesmo contexto, pode-se inferir que animais irracionais e seres humanos têm vida e destinos diferentes, dentro da Criação. E me parece que não é trocando os seres de lugar que poderemos entender e praticar o que consta do versículo 33 do cap. 6: "... buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e (destaque meu) 'todas estas cousas vos serão acrescentadas'". Que coisas são essas? Não seriam aquelas a que Ele se referiu no Sermão do Monte (repito, caps.5 a 7)? À luz desse texto, o comportamento do ser humano hoje, em relação aos animais domésticos, indica inversão de valores: idolatria.

Encerro este comentário, que reflete mais interrogação e inquietação do que afirmação teórica, esperando que, pelo menos, provoque reflexão. Mas não me esqueci da preciosa revista Ultimato, que traz no número 10, janeiro-fevereiro 2008, a seguinte informação (p.15): 

"3.300.000.000 de dólares é quanto o Brasil movimentou este ano com o pet business" (todos os gastos com animais de estimação, incluindo alimentação requintada, cuidados médicos, embelezamento, diversão, roupas, jóias etc). É um dado aterrador. Especialmente quando pensamos na qualidade do atendimento em escolas e hospitais públicos, nas delegacias abarrotadas de presos vigiados por policiais que por isso deixam os cidadãos desprotegidos, nos problemas de moradia e saneamento básico, em síntese, no abandono dos mais pobres à sua própria sorte, sem que tenham garantido o mais fundamental dos direitos, que é o direito à vida, e vida com dignidade.
Vitória - ES
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