Palavra do leitor
- 01 de setembro de 2024
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Minha estranha Bíblia
Paulo deixou um conselho eterno: "Dedica-te à leitura" (1 Tm 4.13). O contexto direto é de um ministro experiente encorajando um colega mais jovem. No entanto, as implicações desse conselho também se aplicam àqueles que não são chamados especificamente ao ministério da palavra e dos sacramentos. Nossa relação com este texto pode ser complicada; às vezes, queremos que a Bíblia seja um Vade Mecum, em outras, um souvenir para enfeite, em alguns casos, um acessório do nosso vestuário, e, na melhor das hipóteses, um livro. As Escrituras possuem um caráter próprio, e nosso relacionamento com elas depende do entendimento que temos.
As Escrituras são Intrusivas
"Uma amiga bisbilhoteira e intrusiva" — talvez essa seja uma descrição parcial da Bíblia.
A instrução do Senhor não ignora a realidade em que vivemos; pelo contrário, ela a penetra, desestabilizando o que antes considerávamos normal. Os autores do Novo Testamento experimentaram isso ao reconhecerem Cristo como o clímax e o fulcro de uma nova realidade.
Concordo com Ben Witherington III quando ele afirma que os apóstolos compartilhavam um universo discursivo baseado nos testemunhos de várias pessoas, e que essa sobreposição não era apenas textual, mas também um exercício de fé na pessoa de Jesus e no evento Cristo. [Witherington III, B. (2016) New testament Theology and Ethics. 1st edn. Downers Grove, Illinois: IVP Academic.]
Temos um imaginário formado pelo mundo que nos cerca, assim como os apóstolos em seu contexto. E, como eles, vemos uma "sarça que queima, mas não se consome", que muda nossos referenciais, nos colocando entre dois mundos.
Esse outro mundo invade nossas vidas, revelando ídolos ocultos (Js 6.17-19), expondo tramas dignas de novelas para tomar o que não nos pertence (2 Sm 12), removendo nosso teto e substituindo-o pela luz das estrelas enquanto vivemos uma espécie de "Stranger Things" na vida real (Mt 4.1-11), e deixando-nos em solidão enquanto recebemos visões bizarras que precisam de um tutorial (Apocalipse). Exceto no último caso, todas essas coisas acontecem de segunda a sexta, em horário comercial.
As Escrituras foram escritas sob a mesma tensão que vivemos hoje, e, apesar de sua inconveniência, continuam sendo uma amiga que nos leva a Jesus.
Esse Novo Mundo é Generoso
A mudança de eixo desconfortável pela qual passamos é o começo de uma nova humanidade. O apóstolo Paulo fala sobre a plenitude da criação, que evoca o final de todas as coisas em sua devida restauração (Rm 8.18-23). As Escrituras anunciam uma esperança visível por meio de uma mudança de status da humanidade.
Nesse contexto de anúncio, a revelação ganha texturas quando a internalizamos em nosso cotidiano. O transporte que fazemos em nossos devocionais do século I para o século XXI torna-se o discurso do Reino, que não é construído sobre um solo rígido, mas sobre algo volúvel e misterioso, como o rio da vida. A impermanência das coisas causa um mal-estar profundo, e, por isso, buscamos núcleos de sentido no que fazemos, construímos e consumimos.
Enquanto isso, o nosso Senhor transforma a vida entre mundos em um chão comum, para que, em nosso relacionamento com a Palavra, ela deixe de ser uma intrusa e se torne uma amiga sábia.
Somos levados ao desconforto da vida incerta para experimentarmos camadas mais profundas do amor de Deus. É um processo de encarnação da Palavra, assim como Jesus é a própria Palavra de Deus. E o resultado final é uma nova humanidade generosa, pautada nessa dinâmica à luz do Messias.
Gerados para Sermos Geradores
Se a Bíblia começa com a criação e termina com a nova criação, resta-nos confiar na obra que leva o primeiro status ao segundo, enquanto nos deixamos imergir em um oceano de certezas encontradas na pessoa de Cristo. Esse processo, que enfrentamos enquanto equilibramos nossa vida, chama-se imitação criativa. É imitação porque, ao olharmos para as Escrituras, encontramos nelas o Evangelho encarnado em carne e osso, assim como nós. É criativa porque o poder gerador da Palavra é o mesmo que faz nascer e crescer algo novo.
O núcleo de sentido que encontramos em Cristo transcende o primeiro século, tornando-se fundamento de segurança no tempo presente. A criatividade da criação começa na Palavra que, de forma intrusiva, sonda os corações em caos e vazio, fazendo brotar vida e assim Cristo diz sobre sua igreja: "Isso é muito bom!".
As Escrituras são Intrusivas
"Uma amiga bisbilhoteira e intrusiva" — talvez essa seja uma descrição parcial da Bíblia.
A instrução do Senhor não ignora a realidade em que vivemos; pelo contrário, ela a penetra, desestabilizando o que antes considerávamos normal. Os autores do Novo Testamento experimentaram isso ao reconhecerem Cristo como o clímax e o fulcro de uma nova realidade.
Concordo com Ben Witherington III quando ele afirma que os apóstolos compartilhavam um universo discursivo baseado nos testemunhos de várias pessoas, e que essa sobreposição não era apenas textual, mas também um exercício de fé na pessoa de Jesus e no evento Cristo. [Witherington III, B. (2016) New testament Theology and Ethics. 1st edn. Downers Grove, Illinois: IVP Academic.]
Temos um imaginário formado pelo mundo que nos cerca, assim como os apóstolos em seu contexto. E, como eles, vemos uma "sarça que queima, mas não se consome", que muda nossos referenciais, nos colocando entre dois mundos.
Esse outro mundo invade nossas vidas, revelando ídolos ocultos (Js 6.17-19), expondo tramas dignas de novelas para tomar o que não nos pertence (2 Sm 12), removendo nosso teto e substituindo-o pela luz das estrelas enquanto vivemos uma espécie de "Stranger Things" na vida real (Mt 4.1-11), e deixando-nos em solidão enquanto recebemos visões bizarras que precisam de um tutorial (Apocalipse). Exceto no último caso, todas essas coisas acontecem de segunda a sexta, em horário comercial.
As Escrituras foram escritas sob a mesma tensão que vivemos hoje, e, apesar de sua inconveniência, continuam sendo uma amiga que nos leva a Jesus.
Esse Novo Mundo é Generoso
A mudança de eixo desconfortável pela qual passamos é o começo de uma nova humanidade. O apóstolo Paulo fala sobre a plenitude da criação, que evoca o final de todas as coisas em sua devida restauração (Rm 8.18-23). As Escrituras anunciam uma esperança visível por meio de uma mudança de status da humanidade.
Nesse contexto de anúncio, a revelação ganha texturas quando a internalizamos em nosso cotidiano. O transporte que fazemos em nossos devocionais do século I para o século XXI torna-se o discurso do Reino, que não é construído sobre um solo rígido, mas sobre algo volúvel e misterioso, como o rio da vida. A impermanência das coisas causa um mal-estar profundo, e, por isso, buscamos núcleos de sentido no que fazemos, construímos e consumimos.
Enquanto isso, o nosso Senhor transforma a vida entre mundos em um chão comum, para que, em nosso relacionamento com a Palavra, ela deixe de ser uma intrusa e se torne uma amiga sábia.
Somos levados ao desconforto da vida incerta para experimentarmos camadas mais profundas do amor de Deus. É um processo de encarnação da Palavra, assim como Jesus é a própria Palavra de Deus. E o resultado final é uma nova humanidade generosa, pautada nessa dinâmica à luz do Messias.
Gerados para Sermos Geradores
Se a Bíblia começa com a criação e termina com a nova criação, resta-nos confiar na obra que leva o primeiro status ao segundo, enquanto nos deixamos imergir em um oceano de certezas encontradas na pessoa de Cristo. Esse processo, que enfrentamos enquanto equilibramos nossa vida, chama-se imitação criativa. É imitação porque, ao olharmos para as Escrituras, encontramos nelas o Evangelho encarnado em carne e osso, assim como nós. É criativa porque o poder gerador da Palavra é o mesmo que faz nascer e crescer algo novo.
O núcleo de sentido que encontramos em Cristo transcende o primeiro século, tornando-se fundamento de segurança no tempo presente. A criatividade da criação começa na Palavra que, de forma intrusiva, sonda os corações em caos e vazio, fazendo brotar vida e assim Cristo diz sobre sua igreja: "Isso é muito bom!".
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