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Palavra do leitor

Maria Madalena, de ‘roupa lavada’ a ‘arauta’ da fé

Quando entrei na lavanderia ocorreu-me o inevitável: quem cuidava da ‘roupa lavada e passada’ de Jesus? Roupa de cama? Das refeições? Aquilo que assumimos como tarefa do cotidiano, quem respondia por elas? Na noite anterior um grupo de amigos comentava sobre ele como se fosse algo mitológico, meio isopor, sem cheiro, cor e odor; algo etéreo, assexuado. Aqui no ULTIMATO tem um monte de artigos que fala dele assim, inodoro: ‘seguir a Jesus’, ‘andar com ele’, ‘seguir seus passos’ e assemelhados.

Lembrei-me de um texto de Lucas que apontava para algo parecido como ‘roupa lavada’: "... andava Jesus de cidade em cidade... [careceria de um banho?]... e iam com ele... mulheres... Maria, chamada Madalena[...] e outras que o serviam com os seus bens [‘lavada e passada?’]."

Quem eram elas? A tal Maria Madalena, Lucas parece tratar com certo desdém: ‘aquela libertada dos sete demônios’; Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes (Lucas está escrevendo para o ‘excelentíssimo Teófilo’, aí ele capricha). Mas Cuza talvez caíra em desgraça para permitir essa liberdade toda, ou a mulher era dessas tipo executiva. Talvez ela tivesse a grana, e Cuza o emprego público.

Lucas, que é cuidadoso em seus relatos, nem se importa em dizer algo sobre Susana; e, para encerrar a paródia, o famoso ‘etc. e tal’ denotando inapetência para com as mulheres: “... muitas outras que o serviam...”.

Dizem que foi o Papa Gregório, o ‘Grande’ (... porque ‘pregava e mandava’!), que armou o maior barraco quando identificou a ‘Maria’ em Lucas com a ‘Maria’ do evangelista João com a ‘Maria’ de Marcos. Todas as três personagens numa figura só. Deixo por conta do leitor o trabalho chato e inútil de identificar quem é quem, além da tentativa de abafar fatos históricos que só atrapalham a tradição bi-milenar da igreja de optar pelo gênero masculino. Aponto noutra direção.

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro ainda de madrugada e viu a pedra removida. Em disparada foi avisar Pedro e João: ‘Jesus não está mais lá, levaram-no!’ Os dois foram, viram, e voltaram para casa. Maria ficou. Ficou e chorava junto ao sepulcro vazio quando viu dois anjos. Indagada, respondeu que tinham levado o corpo. De súbito apareceu-lhe Jesus; ela vê, porém não o reconhece. Ele se dá a conhecer e voltando-se, espantada, diz: ‘Mestre!’. Respondeu ele: ‘vá dizer-lhes [aos dois, Pedro e João, e os demais!] que eu subo para meu Pai e vosso Pai. Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor, e contou tudo o que lhe dissera.

Como ela já tinha feito a comunicação aos dois antes, agora a coisa muda de figura: já não é mais a ‘lavadeira passadeira’, mas a ‘arauta’ de um novo dado da fé que fundamentaria por milênios o Cristianismo: a ressurreição não de um morto, mas dentre os mortos!

Nossa Maria Madalena aqui é o João Batista de saia! Se o primeiro vê o Espírito descendo sob a forma de uma pomba, ela vê o mais imperioso dado da fé, e por boca do seu Autor!

Segundo a tradição ultraconservadora, o apóstolo Paulo nunca casou. Eu acho que sim, mas tendo se separado, seguiu pela vida afora sozinho (... diferente de Pedro, que carregava até a sogra a tiracolo). Paulo é o Zangão evangélico da Branca de Neve da fé e cheio de contradições quando o assunto é mulher e casamento. Ele e Lucas fazem dobradinha, agora agravado com uma declaração histórica pelas metades, sobretudo do segundo.

Paulo escreveu duas coisas importantes. Primeiro, se a fé se resume a essa vida, somos todos miseráveis. Certo! Segundo, se Cristo não ressuscitou, é papo furado a fé. Correto! Os dois juntos vão formar o dogma fundamental da fé Cristã, fechando assim o tripé do raciocínio. E como medida de reforço, mandou ver:

... foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.
... foi visto por Cefas, e depois pelos doze.
... foi visto por mais de quinhentos irmãos (alguns ainda viviam ao seu tempo).
... foi visto por Tiago e depois por todos os apóstolos.
... por derradeiro de todos, apareceu a Paulo.

Cadê Maria? Onde a menção específica a aquele que viu e conversou com o Senhor?

Não foi ela quem primeiro viu a Jesus ressuscitado? Não é ela a responsável em narrar os fatos aos discípulos, e mais, por ordem do próprio ressuscitado? De ‘lavadeira e arrumadeira’ a nossa Maria Madalena passa à história como ‘arauta’ da fé.

Mas a tradição apostólica machista deletou esse ‘detalhe’, começando com Paulo, o ranheta.

Aí a turma cai de pau em cima de Dan Brown que deita e rola em cima do material tido como não canônico. Ora, se os de casa não fizeram justiça a ela, faz ele, à moda sua.

Onde está Wally, nossa personagem principal? Cadê Maria?
P - RN
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