Palavra do leitor
- 18 de junho de 2012
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“Lázaro não ressuscitou”, disse o Padre Tito!
Proponho a leitura de alguns artigos do Presbítero Amorese e outros do Pastor Carriker. Duas pessoas respeitadas no meio evangélico. Dois autores que se expressam com aquilo que temos entre uma orelha e outra.
A prática deles é comum e segue a regra: primeiro lê-se um texto bíblico; em seguida o olhar rastreia à procura de uma ‘ilustração prática’ e, em seguida, com um título, estampa-se ao leitor o ar daquela fulgurância criativa.
Se o texto vem do surrado Velho Testamento, aí a interpretação mais típica e a de um luminar do Cristianismo, Orígenes e suas alegorias. Se a interpretação é simbólica, essa empilha tijoladas de opções, mesmo porque o que interessa é a ‘evangelização’. O texto (bíblico) entra como pretexto (justificativa) para a... ‘Causa’.
Não fazem marketing, não. São intérpretes da... ‘Causa’.
São pessoas sérias e bem intencionadas. Não deixam de ser herdeiros de uma modalidade de ‘leitura’ que faz escola há séculos. Mesmo que percebessem que a abordagem soasse-lhes estranha, o ponto a ser alcançado (para o ‘bem’ da 'Causa') é o que conta: ‘A Causa’.
Entre um voo e outro de mais de 7 horas, um livro --- título e assunto --- é uma companhia balsâmica que areja o espaço apertado entre uma poltrona e outra da classe econômica.
É de Luís Felipe Pondé a observação feita de que ele não suporta jamais essa classe, por ser um “um galinheiro de gente”, um poleiro, diria eu. Com sete a oito horas de voo, sem escalas, sei exatamente do que fala. Escrevo em pleno voo, portanto, para amenizar...
Mariana Kalil, PEREGRINA DE ARAQUE – UMA JORNADA DE FÉ E ATAQUE DE NERVOS NO ORIENTE MÉDIO, foi o livro que comprei um pouco antes do embarque. A jornalista acompanhou um grupo de Cristãos e a descrição é divertidíssima dos apuros de uma ‘peregrina de araque’ ao Egito, Jordânia e Israel. Transcrevo as páginas 117-118, Editora Dublinense, Ltda., para ‘casa-la’ com as muitas interpretações típicas que aparecem no portal ULTIMATO.
Acompanhem-me:
“Chegamos à Betânia pouco antes do horário marcado para a missa do dia, às três da tarde. Como eu não aguentava mais sentir o calor fervente daquele sol e ver só deserto pela janela, fechei a cortina e me concentrei no meu diário de bordo. Não estava prestando atenção nas palavras do Padre Tito sobre o significado de Betânia e do personagem Lázaro na Bíblia, que estaria enterrado na cidade. Mas não pude deixar de perceber a reação indignada de alguns peregrinos e o zunzunzum que se formou dentro do ônibus.
“Segundo a Bíblia, Lázaro era irmão de Marta e Maria e vivia em um povoado pobre de Betânia. Teve a infelicidade de contrair lepra, foi trancafiado pelas irmãs no porão da residência e lá permaneceu abandonado até sua morte. Só que Marta e Maria se arrependeram da maneira como trataram o irmão e suplicaram a Jesus que o ressuscitasse. Como era muito amigo da família, Jesus atendeu ao pedido das irmãs. Foi a Betânia e ressuscitou Lázaro.
“Até aí o ônibus de peregrinos escutava tudo atentamente e em paz. O problema foi que o Padre Tito resolveu dar as tintas de sua interpretação e contou que Lázaro não tinha morrido de lepra coisa nenhuma. Lázaro passou a sofrer de depressão ao se ver doente e abandonado pelas irmãs em um porão escuro. Então, quando Jesus, que era amigo da família, chegou a casa e viu aquela crueldade, chamou Marta e Maria e repreendeu as duas. Imediatamente, voltou-se para Lázaro e ordenou que se levantasse. Disse a Lázaro que ele era um grande homem e conseguiu, com gestos e palavras, recuperar a sua autoestima – na linguagem bíblica, ‘ressuscitar’ Lázaro.
-- “Quantas pessoas não morrem socialmente pela língua dos homens, pelos atos desumanos cometidos? Essa foi a lição que Jesus quis nos deixar – pregou o Padre Tito.
“A revolta estava instalada.
-- “Agora, só falta o senhor dizer que Jesus não morreu na cruz, né, padre? – protestou a Ceres.
-- “Eu passo a vida acreditando em uma religião que o senhor quer me dizer que não existe? – indignava-se a Silva.
-- “O senhor quer me dizer que não é verdade tudo o que eu aprendi sobre a morte por lepra de Lázaro? Eu vou acreditar em quê agora? – protestou o Pedro, ainda agarrado no cajado de Moisés.
“Era tamanha a rebelião que eu comecei a temer pela integridade do Padre Tito. E me dei conta de que sua profecia, durante o almoço no restaurante de Petra, começava a se realizar: ‘Sempre há uma intriga durante a viagem. A partir daí, o grupo se divide em dois’.
“Estava, naquele momento, instalada a divisão. Começava ali o Big Brother da peregrinação. Era Mariana e Padre Tito contra o resto da casa.”
Os ilustres articulistas não chegariam a tanto, claro. Uma vez instalada, porém, essa ideia de olhar um texto e meter a cunha de nossas ideias lá para ideias 'práticas' em favor da 'Causa', o resultado certamente não é muito diferente.
Uns amaciam os textos bíblicos, outros interpolam em profusão.
A diferença entre um e outro não é nem de gênero, número e grau. É a penas de imaginação e opinião.
A prática deles é comum e segue a regra: primeiro lê-se um texto bíblico; em seguida o olhar rastreia à procura de uma ‘ilustração prática’ e, em seguida, com um título, estampa-se ao leitor o ar daquela fulgurância criativa.
Se o texto vem do surrado Velho Testamento, aí a interpretação mais típica e a de um luminar do Cristianismo, Orígenes e suas alegorias. Se a interpretação é simbólica, essa empilha tijoladas de opções, mesmo porque o que interessa é a ‘evangelização’. O texto (bíblico) entra como pretexto (justificativa) para a... ‘Causa’.
Não fazem marketing, não. São intérpretes da... ‘Causa’.
São pessoas sérias e bem intencionadas. Não deixam de ser herdeiros de uma modalidade de ‘leitura’ que faz escola há séculos. Mesmo que percebessem que a abordagem soasse-lhes estranha, o ponto a ser alcançado (para o ‘bem’ da 'Causa') é o que conta: ‘A Causa’.
Entre um voo e outro de mais de 7 horas, um livro --- título e assunto --- é uma companhia balsâmica que areja o espaço apertado entre uma poltrona e outra da classe econômica.
É de Luís Felipe Pondé a observação feita de que ele não suporta jamais essa classe, por ser um “um galinheiro de gente”, um poleiro, diria eu. Com sete a oito horas de voo, sem escalas, sei exatamente do que fala. Escrevo em pleno voo, portanto, para amenizar...
Mariana Kalil, PEREGRINA DE ARAQUE – UMA JORNADA DE FÉ E ATAQUE DE NERVOS NO ORIENTE MÉDIO, foi o livro que comprei um pouco antes do embarque. A jornalista acompanhou um grupo de Cristãos e a descrição é divertidíssima dos apuros de uma ‘peregrina de araque’ ao Egito, Jordânia e Israel. Transcrevo as páginas 117-118, Editora Dublinense, Ltda., para ‘casa-la’ com as muitas interpretações típicas que aparecem no portal ULTIMATO.
Acompanhem-me:
“Chegamos à Betânia pouco antes do horário marcado para a missa do dia, às três da tarde. Como eu não aguentava mais sentir o calor fervente daquele sol e ver só deserto pela janela, fechei a cortina e me concentrei no meu diário de bordo. Não estava prestando atenção nas palavras do Padre Tito sobre o significado de Betânia e do personagem Lázaro na Bíblia, que estaria enterrado na cidade. Mas não pude deixar de perceber a reação indignada de alguns peregrinos e o zunzunzum que se formou dentro do ônibus.
“Segundo a Bíblia, Lázaro era irmão de Marta e Maria e vivia em um povoado pobre de Betânia. Teve a infelicidade de contrair lepra, foi trancafiado pelas irmãs no porão da residência e lá permaneceu abandonado até sua morte. Só que Marta e Maria se arrependeram da maneira como trataram o irmão e suplicaram a Jesus que o ressuscitasse. Como era muito amigo da família, Jesus atendeu ao pedido das irmãs. Foi a Betânia e ressuscitou Lázaro.
“Até aí o ônibus de peregrinos escutava tudo atentamente e em paz. O problema foi que o Padre Tito resolveu dar as tintas de sua interpretação e contou que Lázaro não tinha morrido de lepra coisa nenhuma. Lázaro passou a sofrer de depressão ao se ver doente e abandonado pelas irmãs em um porão escuro. Então, quando Jesus, que era amigo da família, chegou a casa e viu aquela crueldade, chamou Marta e Maria e repreendeu as duas. Imediatamente, voltou-se para Lázaro e ordenou que se levantasse. Disse a Lázaro que ele era um grande homem e conseguiu, com gestos e palavras, recuperar a sua autoestima – na linguagem bíblica, ‘ressuscitar’ Lázaro.
-- “Quantas pessoas não morrem socialmente pela língua dos homens, pelos atos desumanos cometidos? Essa foi a lição que Jesus quis nos deixar – pregou o Padre Tito.
“A revolta estava instalada.
-- “Agora, só falta o senhor dizer que Jesus não morreu na cruz, né, padre? – protestou a Ceres.
-- “Eu passo a vida acreditando em uma religião que o senhor quer me dizer que não existe? – indignava-se a Silva.
-- “O senhor quer me dizer que não é verdade tudo o que eu aprendi sobre a morte por lepra de Lázaro? Eu vou acreditar em quê agora? – protestou o Pedro, ainda agarrado no cajado de Moisés.
“Era tamanha a rebelião que eu comecei a temer pela integridade do Padre Tito. E me dei conta de que sua profecia, durante o almoço no restaurante de Petra, começava a se realizar: ‘Sempre há uma intriga durante a viagem. A partir daí, o grupo se divide em dois’.
“Estava, naquele momento, instalada a divisão. Começava ali o Big Brother da peregrinação. Era Mariana e Padre Tito contra o resto da casa.”
Os ilustres articulistas não chegariam a tanto, claro. Uma vez instalada, porém, essa ideia de olhar um texto e meter a cunha de nossas ideias lá para ideias 'práticas' em favor da 'Causa', o resultado certamente não é muito diferente.
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