Palavra do leitor
02 de setembro de 2025- Visualizações: 829
comente!- +A
- -A
-
compartilhar
Jó: doença, depressão e fé — uma reflexão sobre o sofrimento e a esperança
A figura bíblica de Jó emerge como um paradigma da dor inexplicável e da busca por sentido. Em um tempo onde o sofrimento psíquico, a depressão e o luto atravessam tantas vidas, a sua narrativa nos oferece uma lente teológica e clínica para compreender os efeitos da dor e os recursos da fé que podem ser mobilizados para o enfrentamento. Uma análise de Jó exige, portanto, uma abordagem que integre as dimensões física, emocional e espiritual de sua crise.
A história de Jó é a de um homem íntegro (Jó 1.1) que perde tudo: bens, filhos e saúde. Sua resposta inicial, ao rasgar as vestes e adorar (Jó 1.20), evidencia um luto visceral. Do ponto de vista psicológico, sua jornada reflete as fases caóticas do luto, com manifestações claras de sofrimento depressivo. Seu desejo de não ter nascido (Jó 3.11) e sua angústia profunda são compatíveis com os sintomas de um quadro depressivo maior, conforme os critérios diagnósticos modernos. Não é teologicamente desrespeitoso, mas pastoralmente necessário, reconhecer que a dor de Jó transcendeu o físico, atingindo o âmago de seu psiquismo.
O sofrimento de Jó também catalisa uma crise de fé. Contudo, essa crise não é uma negação, mas uma maturação. Quando Jó clama por respostas e contesta o silêncio divino (Jó 10.8-12), ele expõe a dor de uma fé que precisa ser reconstruída para além de uma lógica de recompensa e castigo. A espiritualidade, aqui, atua como um fator de resiliência. Sua honestidade brutal diante de Deus, embora desconcertante, paradoxalmente o conduz a uma relação mais profunda e autêntica com o Criador.
Nesse sentido, a atitude dos amigos de Jó nos ensina uma lição pastoral crucial. Seu silêncio inicial de sete dias (Jó 2.13) é um modelo de cuidado empático, da teologia do "estar com". O erro deles começa quando tentam explicar a dor como punição divina (Jó 4.7-8), revelando o perigo de uma teologia simplista que apenas impõe mais culpa ao sofredor. A verdadeira pastoralidade, como nos adverte o teólogo Paul Tillich, deve se opor a qualquer religiosidade que reforce o moralismo punitivo e aliene o ser humano de seu valor.
A fé genuína não é medida pela ausência de dúvidas, mas pela permanência em meio à ausência de respostas. O ápice da jornada de Jó não é uma compreensão intelectual, mas uma declaração de confiança: "Porque eu sei que o meu Redentor vive" (Jó 19.25). Ele não encontra um porquê para seu sofrimento, mas encontra um Com Quem sofrer, e isso muda tudo. Sua esperança não se ancora na restauração de suas perdas, mas na certeza da presença de Deus.
Essa perspectiva se alinha à visão reformada da soberania de Deus. A resposta divina a Jó não é uma explicação, mas uma revelação. Ao ver a majestade do Criador, Jó declara: "Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem" (Jó 42.5). Psicologicamente, isso é terapêutico. Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), compreendemos que nossas crenças centrais moldam nossa realidade emocional. A revelação de Deus funciona como uma reestruturação cognitiva profunda na vida de Jó. Ele não recebe uma resposta para sua dor, mas uma nova percepção de Deus, que ressignifica sua existência e aplaca sua angústia.
O final do livro, portanto, não celebra a restituição material, mas a transformação espiritual. O próprio Deus legitima a luta de Jó ao dizer que ele "falou o que era reto" (Jó 42.7). A implicação clínica e pastoral é profunda: o sofrimento não precisa ser explicado para ser redimido. Ele pode ser integrado à história de vida como parte da jornada de fé e crescimento.
Isso nos convida a abandonar uma espiritualidade triunfalista que deslegitima o sofrimento. Muitos cristãos se sentem culpados por adoecer emocionalmente, como se a depressão fosse uma falha de fé. Jó nos ensina que a fé não é ausência de dor, mas permanência na presença de Deus mesmo sem respostas. A igreja é chamada a ser um espaço de escuta e acolhimento, onde a dor não é banalizada, mas acompanhada à luz do Evangelho.
Assim, somos chamados a abraçar o sofrimento como parte da jornada, buscando na comunidade um refúgio contra o isolamento. A espiritualidade cristã é comunitária; a igreja deve ser um "hospital de almas", acolhendo sem julgamento. Devemos praticar a oração honesta, expressando nossa dor a Deus, e buscar um cuidado integral, que valorize a psicologia como aliada da fé para tratar o ser humano em sua totalidade: corpo, mente e espírito. Como Jó, nossa maior vitória não será a restituição do que perdemos, mas o reencontro com um Deus que transforma nosso caos em uma nova e mais profunda percepção de Sua graça.
A história de Jó é a de um homem íntegro (Jó 1.1) que perde tudo: bens, filhos e saúde. Sua resposta inicial, ao rasgar as vestes e adorar (Jó 1.20), evidencia um luto visceral. Do ponto de vista psicológico, sua jornada reflete as fases caóticas do luto, com manifestações claras de sofrimento depressivo. Seu desejo de não ter nascido (Jó 3.11) e sua angústia profunda são compatíveis com os sintomas de um quadro depressivo maior, conforme os critérios diagnósticos modernos. Não é teologicamente desrespeitoso, mas pastoralmente necessário, reconhecer que a dor de Jó transcendeu o físico, atingindo o âmago de seu psiquismo.
O sofrimento de Jó também catalisa uma crise de fé. Contudo, essa crise não é uma negação, mas uma maturação. Quando Jó clama por respostas e contesta o silêncio divino (Jó 10.8-12), ele expõe a dor de uma fé que precisa ser reconstruída para além de uma lógica de recompensa e castigo. A espiritualidade, aqui, atua como um fator de resiliência. Sua honestidade brutal diante de Deus, embora desconcertante, paradoxalmente o conduz a uma relação mais profunda e autêntica com o Criador.
Nesse sentido, a atitude dos amigos de Jó nos ensina uma lição pastoral crucial. Seu silêncio inicial de sete dias (Jó 2.13) é um modelo de cuidado empático, da teologia do "estar com". O erro deles começa quando tentam explicar a dor como punição divina (Jó 4.7-8), revelando o perigo de uma teologia simplista que apenas impõe mais culpa ao sofredor. A verdadeira pastoralidade, como nos adverte o teólogo Paul Tillich, deve se opor a qualquer religiosidade que reforce o moralismo punitivo e aliene o ser humano de seu valor.
A fé genuína não é medida pela ausência de dúvidas, mas pela permanência em meio à ausência de respostas. O ápice da jornada de Jó não é uma compreensão intelectual, mas uma declaração de confiança: "Porque eu sei que o meu Redentor vive" (Jó 19.25). Ele não encontra um porquê para seu sofrimento, mas encontra um Com Quem sofrer, e isso muda tudo. Sua esperança não se ancora na restauração de suas perdas, mas na certeza da presença de Deus.
Essa perspectiva se alinha à visão reformada da soberania de Deus. A resposta divina a Jó não é uma explicação, mas uma revelação. Ao ver a majestade do Criador, Jó declara: "Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem" (Jó 42.5). Psicologicamente, isso é terapêutico. Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), compreendemos que nossas crenças centrais moldam nossa realidade emocional. A revelação de Deus funciona como uma reestruturação cognitiva profunda na vida de Jó. Ele não recebe uma resposta para sua dor, mas uma nova percepção de Deus, que ressignifica sua existência e aplaca sua angústia.
O final do livro, portanto, não celebra a restituição material, mas a transformação espiritual. O próprio Deus legitima a luta de Jó ao dizer que ele "falou o que era reto" (Jó 42.7). A implicação clínica e pastoral é profunda: o sofrimento não precisa ser explicado para ser redimido. Ele pode ser integrado à história de vida como parte da jornada de fé e crescimento.
Isso nos convida a abandonar uma espiritualidade triunfalista que deslegitima o sofrimento. Muitos cristãos se sentem culpados por adoecer emocionalmente, como se a depressão fosse uma falha de fé. Jó nos ensina que a fé não é ausência de dor, mas permanência na presença de Deus mesmo sem respostas. A igreja é chamada a ser um espaço de escuta e acolhimento, onde a dor não é banalizada, mas acompanhada à luz do Evangelho.
Assim, somos chamados a abraçar o sofrimento como parte da jornada, buscando na comunidade um refúgio contra o isolamento. A espiritualidade cristã é comunitária; a igreja deve ser um "hospital de almas", acolhendo sem julgamento. Devemos praticar a oração honesta, expressando nossa dor a Deus, e buscar um cuidado integral, que valorize a psicologia como aliada da fé para tratar o ser humano em sua totalidade: corpo, mente e espírito. Como Jó, nossa maior vitória não será a restituição do que perdemos, mas o reencontro com um Deus que transforma nosso caos em uma nova e mais profunda percepção de Sua graça.
Os artigos e comentários publicados na seção Palavra do Leitor são de única e exclusiva responsabilidade
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
02 de setembro de 2025- Visualizações: 829
comente!- +A
- -A
-
compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.

Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Revista Ultimato
- +lidos
- +comentados
(31)3611 8500
(31)99437 0043





 copiar.jpg&largura=49&altura=65&opt=adaptativa)


