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Palavra do leitor

Inquietações próprias da maturidade feminina

Em nossa cultura, o gênero feminino privilegia demasiadamente o corpo. Aliás, diria que o corpo feminino é um objeto de culto de ambos os gêneros. Mas não é um culto apenas de cuidado, admiração, devoção e desejo. É um culto com liturgias tiranas, de exigências absurdas e de um padrão que, muitas vezes, fere o saudável ou mesmo a feminilidade, transformando-a em sentimentos e atitudes de auto-cobrança, obsessões e exageros descabidos. É um padrão elevado demais, que se aproxima do intangível, assim como o fardo imposto pelo farisaísmo, onde o SER (indivíduo) era preterido pela Lei: "... ai de vocês também! Porque sobrecarregam os homens com fardos que dificilmente eles podem carregar, e vocês mesmos não levantam nem um dedo para ajudá-los" (Lc 11.46)

É claro que essa tirania do 'corpo perfeito' não é compulsória, mas, em certa medida, é admitida por nós. Em algum momento, tomamos uma posição permissiva em que pelo outro, ou por nós mesmos, somos submetidos a tão pesado jugo. Não é uma escolha simples ou linear; na maioria de nós, trata-se de uma preferência subjetiva e em muitos casos inconsciente, não no sentido de 'não querer', mas de 'não perceber'.

A preocupação com a beleza física é natural. Não considero a correção estética um pecado, afinal, fomos feitas vaidosas por Deus. Paulo diz: "... a mulher se adorne com modéstia..." (I Tm 2.9), lembrando que adornar é enfeitar. Percebemos, então, que o desejo que temos de estar bonita e elegante é benéfico e em nada fere nossa comunhão com Deus. O problema é justamente os excessos, é o 'viver em função disso'.

Essa ditadura da beleza, por vezes, leva-nos a ter um olhar muito severo sobre nós mesmas. Certa vez ouvi de uma mulher da minha geração o seguinte desabafo (havia muito pesar em sua fala): "confesso que já me orgulhei muito do corpo que tinha. Lembro-me da época em que colocar uma roupa de banho na praia não me incomodava em nada. Aliás, qualquer roupa caía bem. A beleza do corpo ajudava e dava um charme especial. Mas hoje, sou inimiga do espelho. Com o peso da idade, a tendência para engordar e a correria do dia a dia que não permite uma alimentação saudável, meu corpo se transformou totalmente, é difícil acreditar que um dia fui tão bonita. Comprar ou vestir uma roupa me angustia. A escolha precisa ser seletiva e coerente para que eu não pareça uma 'azeitona', ou uma 'pamonha amarrada'."

Conhecedora da vaidade que nos é intrínseca, identifiquei-me um pouco com seu lamento. Entendi bem suas queixas, e sei que grande parte das mulheres de meia idade se aflige com as transformações que, aos poucos, atingem o corpo nessa fase da vida. Quantas de nós, ao se dar conta desse processo de transformações, debate-se muito tentando conservar sua beleza física. A maioria sofre muito, com dietas, malhação e o sentimento de culpa por achar que não está se cuidando como deveria. Saber que muitas roupas já não servem e, principalmente, admitir que os olhares externos também terão essa percepção, torna-se algo intensamente torturante.

Refletindo acerca do depoimento que ouvi, e considerando toda a angústia presente no discurso daquela mulher, e em alguns momentos me reconhecendo em sua fala, comecei a conversar com Deus, com um coração sincero, questionando coisas tais como: por que o Senhor fez algumas mulheres com tendência pra engordar? Não dava pra criá-las sem essa propensão? Então, por que o Senhor nos fez vaidosas? Em meio a esses questionamentos conflituosos, com muito carinho, Deus começou a me falar (e olha que eu custei a ouvir...) que essas mudanças faziam parte da vida e que a forma que o corpo toma, à medida que envelhece, com suas ‘dobrinhas a mais’, é na verdade uma maneira ‘honesta’ de mostrá-lo: sem plásticas ou silicones. Passei então a compreender que não é nenhum embaraço para o corpo feminino mostrar a idade que tem, mas sim algo honroso. No entanto, ouvir, entender e aceitar esse sussurrar de Deus em nossos ouvidos não é fácil. Muitas vezes, as exigências midiáticas, o viço da juventude da mulher mais púbere, a simples acessibilidade à cirurgia plástica e o convívio com mulheres de um país campeão em correções estéticas e implantações de silicones, ensurdecem-nos, e não permitem que escutemos a Deus.

O tratamento que recebi durante essa ‘conversa’ com Deus me fez perceber que devemos nos desvencilhar da sensação de desajustamento e também nos calar quando nos der vontade de proferir queixas que nos remetem ao tempo ‘em que tínhamos tudo no lugar’. Mais que isso, levou-me a refletir e a questionar se nos esforçamos e nos preocupamos em ter uma alma digna e admirável na mesma dimensão em que desejamos ter uma beleza física. Pensei ainda, assim como a mulher que me confidenciou, “não se importar em estar com trajes de banho”, se teríamos a mesma coragem de desnudar nossas motivações, nosso caráter, nossa personalidade e devoção a Deus. Passei então a entender que os aspectos citados acima são o que de fato importam. Para o ‘porvir’ não interessa se sou branca demais, se estou acima do peso ou se a idade mudou as coisas de lugar. O que ouço de Deus é que sou criação Dele, formada por Ele, e que é assim que Ele quer me usar, como sou hoje, uma mulher madura, mas nem por isso imprópria quanto aos padrões da moda. Uma mulher que, beirando os 40, está mais distante das futilidades e um tanto mais próxima de Deus.

Pude então dizer àquela mulher que a estética de Deus é a que realmente vale a pena. É nela que devemos nos espelhar e nos mover. Nosso anseio deve ser o de buscar a cada dia um espírito belo; este, sei que, ao contrário do corpo, pode tornar-se mais lindo com o passar dos anos. Precisamos compreender que nossa identidade em Deus não se desgasta com o tempo, antes, ganha intimidade e, por meio da comunhão, mais se parece com Ele, o que não tem relação alguma com nossa beleza física.

Precisamos caminhar até Deus com a disposição de nos tornar livres das exigências contemporâneas. Devemos conquistar em Cristo a liberdade de viver intensamente nossa maturidade, sentindo-nos seguras, mesmo sem uma bela forma física. É claro que devemos nos empenhar em ter um corpo ‘sarado’, mas sarado também pelo amor, pelo perdão e pela misericórdia. Nosso apego e anseio deve ser por um corpo glorificado, este sim, será eternamente belo. “...Cristo... transformará o nosso corpo de humilhação para ser igual ao corpo da sua glória...” (Fp 3.20-21).
Gama - DF
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