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Palavra do leitor

Entre Roma e Brasil: o Messias que frustra expectativas

Do povo que esperava libertação pela espada ao país dividido pela política, Jesus continua desafiando os que tentam moldá-lo às suas ideologias

Sob o domínio romano, o povo judeu alimentava um anseio coletivo: a chegada de um Messias que acabasse com a tirania estrangeira e restaurasse a glória de Israel. Esperava-se um líder político, militar, um novo Davi que, à espada, libertaria a nação. A expectativa messiânica estava impregnada de desejo nacionalista, de vingança contra o opressor e de restauração de um trono terrestre.

Mas quando Jesus chega à cena da história, Ele desmancha o enredo. Sua entrada em Jerusalém não é sobre cavalos de guerra, mas sobre um jumento (Zacarias 9.9). O contraste é gritante: em vez do general triunfante, surge o Rei humilde. Em vez da espada, a cruz. Em vez de expulsar Roma, Jesus convida à conversão. Ele frustra todos os lados – os zelotes sedentos de sangue, os religiosos amantes da ordem, os discípulos que sonhavam com poder.

Diante de Pilatos, afirma: "O meu Reino não é deste mundo" (João 18:36). É como se dissesse: "não jogo com as regras do poder de vocês". O Reino que inaugura não se estabelece pela força, mas pelo serviço; não é sustentado pela violência, mas pela verdade. Essa inversão já estava anunciada em Isaías: o Servo Sofredor venceria pelo sacrifício, não pela espada. E quando Pedro tenta usar a arma, Jesus o repreende: "Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão" (Mateus 26:52).

O Messias, portanto, não corresponde às expectativas humanas. Ele as desconstrói. Seu projeto não é libertar uma nação da opressão imperial, mas libertar corações da escravidão do pecado. O gesto é profundamente político – mas não no sentido partidário. É político porque redefine as bases do poder: grandeza é serviço, liderança é entrega, vitória é cruz.

E aqui podemos traçar um paralelo com o Brasil contemporâneo, marcado por polarizações intensas. Parte da sociedade – especialmente no campo religioso – depositou expectativas quase messiânicas em líderes políticos. O movimento bolsonarista, por exemplo, mobilizou símbolos religiosos e construiu uma imagem de Jesus como guerreiro cultural, uma espécie de aval divino para um projeto de força e exclusão. O "Jesus do imaginário popular" torna-se o patrono da ordem, da identidade e da nação.

Mas este Jesus também frustra. O Cristo dos Evangelhos não legitima idolatrias políticas, nem autoriza a sacralização de lideranças. Ao contrário: Ele se recusa a ser capturado por partidos, não se deixa usar como bandeira ideológica. O verdadeiro Messias desafia tanto a direita quanto a esquerda; não se alinha a sistemas de poder que vivem de inimigos e muros. Ele insiste em sentar-se com publicanos e pecadores, a ultrapassar fronteiras, a amar os adversários – exatamente o que a lógica polarizada não suporta.

Essa frustração é escandalosa. No tempo de Roma, levou muitos a rejeitarem Jesus. Hoje, leva muitos a se decepcionarem com o Cristo que não confirma seus preconceitos políticos. Querem um libertador à sua imagem e semelhança; recebem um Senhor que os chama a negar a si mesmos e a carregar a cruz (Marcos 8:34).

Do ponto de vista social, essa tensão exige que a igreja repense seu papel. Se Jesus não é mascote de partido algum, a fé também não pode ser sequestrada por projetos de poder. O chamado da comunidade cristã é outro: denunciar injustiças, cuidar dos feridos da polarização, proteger a dignidade humana e, sobretudo, anunciar que o Reino de Deus não se confunde com nenhuma utopia política.

No fundo, a questão permanece a mesma: aceitaremos o Messias como Ele é, ou tentaremos moldá-lo às nossas expectativas? Israel quis um rei com espada e recebeu um Servo com cruz. O Brasil quer um Cristo guerreiro de palanque, mas recebe o Filho de Deus que lava os pés dos discípulos. Esse é o Jesus que frustra – e justamente por isso liberta.
Nova Esperança - PR
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