Deus é evangélico

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Eu gosto muito de futebol. Esse sentimento já vem de longa data, desde o tempo de criança, quando meu pai me levava a campo para ver o time do seu coração que também passou a ser o meu, o melhor do nordeste, Sport. Por muitos anos, no período da infância, adolescência e juventude, fui a campo torcer pelo Sport, gritando a música tema: "Casá, casá, casá, casá, casá, a turma é mesmo boa é mesmo da fusaca, Sport, Sport, Sport" (tinha que cantar a música). Já cantei e escutei muitas coisas nos estádios. Dessa vez, impossibilitado de ir ao estádio, ouvi pelo rádio, o jogo do Sport com o Fluminense, no dia 25 próximo passado. Tudo transcorria bem, o Sport vencia o Fluminense pelo placar de 2 X 1, quando aos 44 minutos do segundo tempo, pênalti a favor do Fluminense. Dodô pega a bola e se encaminha para a marca do pênalti. Nesse momento, o jogador do Sport, Carlinhos Bala, tentando desconcentrar o atacante Dodô, vocifera algumas palavras que estão, acredito eu, na cabeça de muitos crentes. No diálogo mantido com Dodô, ele diz: "Você vai perder, pois Magrão é abençoado". Dodô responde: "Eu também sou abençoado". Carlinhos Bala então afirma com a maior certeza do seu coração: "Mas Magrão é evangélico e você não é". Parei diante do rádio estupefato e fiquei pensando: "De onde nós tiramos essa idéia de que só os evangélicos são abençoados? De onde nasce o pensamento de que Deus só está do nosso lado? Em que ponto da história começamos a acreditar que Deus é evangélico?"

As palavras de Carlinhos Bala implicam algumas questões:

1) Pensar assim, faz-nos acreditar todos aqueles que não são evangélicos não são abençoados, o que não é verdade. Teologicamente, existe algo chamado de "graça comum" que está sobre todos, indistintamente, quer evangélico, quer católico, quer budista, quer mulçumano, quer preto, quer branco, quer rico, quer pobre. Jesus deixou isto muito claro nas Escrituras...

2) Pensar assim, faz-nos acreditar que podemos manipular a Deus, fechando-o dentro da caixinha dos evangélicos, fazendo com que Ele trabalhe em nosso favor apenas, bastando para isso usar o mantra da condição evangélica;

3) Pensar assim, faz-nos desconhecer completamente a história e a maneira soberana de Deus intervir, usando quem quer que seja, da maneira que lhe aprouve, a fim de levar adiante o Seu plano redentor;

4) Pensar assim, faz-nos acreditar que somos os melhores. Que os evangélicos são o supra-sumo do pó da essência da bondade eterna e que Deus está sempre feliz com as nossas atitudes;

5) Pensar assim, faz-nos cada vez mais sectários do que já somos. Não somos nós que decidimos quem vai para o céu e que vai para o inferno. Deus nos escolhe em Cristo, 
unicamente pela fé N’Ele;

6) Pensar assim, faz-nos acreditar que a verdade, o que é certo e a defesa de todos os pênaltis vão acontecer, mesmo que eu peque o dia inteiro, chame o atacante de filho do capeta e ore pedindo a vitória;

Eu poderia passar horas aqui, tentando explicar o porquê de não acreditar nas afirmações de Carlinhos Bala, mas acho que já me fiz entender. Por fim acrescento que pensar assim, faz-nos acreditar que Deus é mais que brasileiro, ele é evangélico e que não entende nada de futebol. Viva o Sport e casá, casá, casá...

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Opinião do leitor