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Palavra do leitor

Crítica sobre o livro: "A arte não precisa de justificativa"

A arte não precisa de justificativa. Será mesmo? De que "arte" H.R. Rookmaaker está falando em seu livro lançado pela Ultimato? Arte com "A" maiúsculo, referindo-se à Belas Artes e ao sistema que a engloba ou arte no sentido genérico do termo que pode abarcar criações nas mais diversas áreas? Foram com estes questionamentos, induzidos pelo título, e pela bonita capa com um desenho abstrato que, imediatamente, encomendei o livro. Ao terminar a leitura, percebi que havia caído no erro mais elementar do universo dos livros: Julguei o livro pela capa, e julguei mal.

Como se o título do livro fosse mero adereço, o que Rookmaaker faz ao longo de setenta páginas é tentar justificar uma espécie de arte que ele considera boa, perfeita e agradável. No primeiro capítulo ele diferencia o que chama de arte superior de arte inferior, sendo esta última, chamada de arte comercial, e que, por estar atrelada a interesses econômicos, em sua opinião é destituída de imaginação e qualidade. Sendo assim, ao tratar de artes visuais no decorrer do livro, o autor está referindo-se a Belas Artes e podemos concluir isto através dos exemplos de artistas usados por ele. Pois bem, se o assunto é Artes Plásticas, o meu primeiro questionamento só vê resposta na realidade de que a Arte precisa sim de justificativas. A Arte se alimenta e é alimentada pelo sistema em que ela esta inserida. Um sistema que envolve críticos de arte, curadores, exposições, galerias, museus, bienais, universidades, a História da Arte e por aí vai. Como em qualquer outro sistema, nenhuma peça está neutra ou independente, sendo tudo carente de justificativas e justificativas coerentes com o sistema.

Se Rookmaaker tentasse justificar o que ele considera Arte a partir dos códigos e limites impostos pelo sistema das Artes Plásticas, tal qual podemos acompanhar pela História da Arte, já seria contraditório com a idéia da não necessidade de justificativa que ele pretende sustentar, porém, seu erro maior foi que, além de impor inúmeras justificativas para a Arte, ele o fez baseado em uma ética pessoal, moralista e anacrônica.

O autor, ao longo do livro, cai num poço tão profundo de contradições que terei de identifica-lás por partes. Para começar, a idéia básica presente no título é a de que arte por si só é uma manifestação da graça de Deus que concede ao homem criatividade. Sendo assim, a arte não precisa conter uma mensagem cristã explícita para ser apreciada com louvor nem nenhuma outra justificativa. Ao mesmo tempo em que afirma isto, o autor (ou seria sua outra personalidade?) aponta diretrizes de como a arte deve ser: “Como a arte está amarrada à realidade, será que ela faz jus ao que representa? Será que o faz de maneira positiva? A arte deve ser clara, nunca tola ou superficial” (pg.51-52). Aqui e em outros trechos, o autor faz a defesa da arte figurativa clássica e renascentista, que reproduzia com fidelidade a realidade do mundo, e, em contraste, desqualifica a arte abstrata que segundo ele “ o que nunca é bom é o abstrato, que significa a negação ou a rejeição da realidade: uma atitude negativa em relação a ela” (pg.65).

Dados os trechos, nem é preciso apontar a contradição. O que me espanta é saber que um pensador, tido como o mais importante crítico cultural protestante do século XX, consegue, no auge da década de 70, estar tão atrasado e incoerente em relação à sua área de conhecimento.

Ora, esta animosidade com o abstrato e a idéia de vê-lo como pura negação da realidade era algo típico de mentes pouco visionárias e sensíveis no início do século XX, momento em que artistas como Wassily Kandinsky e Piet Mondrian lançam seus manifestos. Daí em diante, as vanguardas modernistas irão todas sofrer ataques como “arte degenerada”, encontrando seu auge de perseguição no Nazismo. Hitler e seus colegas, que consideravam apenas o figurativo clássico como Arte, irão banir da Alemanha toda arte abstrata, valendo-se deste argumento para perseguir, expulsar e matar artistas.

A década de 70, época em que Rookemaaker escreve o livro, é marcada pelo desenvolvimento acelerado da Arte Contemporânea. O abstracionismo e seus desdobramentos iniciados no início do século já estavam se esgotando e sendo reformulados. É digno de pesar o atraso deste autor que perdeu o bonde do modernismo e nem sequer vislumbrou o contemporâneo. Por uma destas coincidências ingratas da vida, o nosso crítico protestante parecia não saber que os “pais” da arte abstrata tinham uma íntima relação com o protestantismo e as coisas espirituais, sendo a própria abstração uma necessidade declarada de ilustrar o espiritual. Kandinsky teorizou sobre isto em 1912 em um livro lindíssimo com o título: “Do Espiritual na Arte”, Mondrian que era filho de pastor calvinista, teve toda sua obra marcada por estas discussões. Além disso, Rookemaaker deve estar se revirando no túmulo, pois seu livro claramente anti-moderno, incoerentemente foi publicado com uma arte abstrata na capa.

Continua...
Bh - MG
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