Palavra do leitor
01 de maio de 2025
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Cortesia e gratidão
Em 1997, um guri mal vestido foi até uma livraria evangélica olhar a seção de CDs, mas sempre observando as prateleiras e perguntando os preços sem nada comprar, um dia uma vendedora colocou as mãos sobre os ombros dele com delicadeza e o retirou do local. Ele não tinha perfil preferencial no atendimento do estabelecimento comercial, claro. Mas faltou somente um pouquinho mais de cortesia.
Mas a paixão daquele garoto por música era tamanha que parte do seu dinheiro – adquirido vendendo picolés – era gasto comprando Fitas K7 nas bancas de Camelôs. Aos treze anos, já tinha caixas de sapatos repletas dessas Fitas. Quando conhecia novas músicas e não dispunha para ouvir em seu Walkmam, comprava Fitas virgens (Sony, AIWA, Phillips) e pedia para outros que tinham os CDs gravarem.
Menos de dois anos após ter sido expulso carinhosamente daquela Loja (por perguntar várias vezes os preços e nada comprar), agora com seu primeiro "salário", todo arrumadinho, cabelo cortado, camisa por dentro da calça, sapatos limpos, unhas cortadas e quase "formatado nas regras de ABNT", retornou à referida loja e pagou à vista o que já sabia quanto custaria. A vendedora que um dia o retirou, estava em outro setor, próximo ao caixa. Talvez tivesse sido promovida a gerente. Disse ao rapazinho na hora do pagamento: "Olá, irmãozinho, lembro de você!"
Cortesia está relacionada à gentileza e bom trato para com o próximo. A Bíblia narra muitas histórias de cortesia e gratidão.
Abraão foi cortês para com seu sobrinho Ló, mesmo sem a recíproca. Apesar disso, o patriarca não mediu esforços ao enfrentar perigos para salvar Ló pouco depois, quando este esteve em grande perigo (Gn 12-14).
José foi outro exemplo de cortesia. Hebreu vendido como escravo pelos próprios irmãos e tornando-se poderoso líder político do Egito (a segunda maior autoridade do mundo à época), tratou os seus irmãos sem ressentimento ao reencontrá-los anos depois. (Gn 37-50).
Davi agiu com gentileza e perdão para com Simei, que antes o injuriou e ultrajou. O mesmo fez para com Saul, mesmo tendo oportunidades de matá-lo como legítima defesa. Poderíamos lembrar de seu perdão ao ingrato Nabal por meio de Abigail, etc. – evidência do porquê Davi era considerado um Homem segundo o coração de Deus – 1Sm; 2Sm). E o monarca babilônico tratou o rei prisioneiro Joaquim com máxima gentileza (Jr 52).
Assisti a uma brilhante reportagem de um pinguim encontrado sujo de petróleo e areia, carinhosamente cuidado por um pescador chamado João. Depois de jogado ao mar para voltar ao seu habitat, a ave aquática retornava aos braços do senhor que dela cuidou. Segundo a autora da matéria, o pinguim reconhecia a voz de João e permitia que apenas ele o tocasse. Também nadava cerca de 8 mil km para o local de sua reprodução, mas todos os anos regressava até João. Embora reação animal instintiva, torna-se inevitável desassociar nessa história cortesia e gratidão.
Tomás de Aquino em sua obra Tratado da Gratidão resumiu a virtude de ser grato em três dimensões: 1) reconhecimento do benefício recebido; 2) dar graças e elogiar de viva voz o benfeitor pelo favor que recebeu; 3) "recompensar o benfeitor na medida das possibilidades do beneficiado em tempo oportuno", manifestando compromisso de vínculo respeitoso.
Sem a ação divina no coração humano pela graça e Santo Espírito, mesmo os gestos mais generosos de altruísmo de alguém estaria eivado de egoísmo ou orgulho, mas assim como é preciso reconhecer a atuação dessa graça nas melhores ações humanas em prol dos outros, de igual modo um sublime ato bondoso não espera aplauso ou retribuição, muito menos exige reconhecimento ou dívida de gratidão.
Por outro lado, genuína gratidão é humildade que não se confunde com bajulação, subserviência, renúncia dos próprios valores ou supressão da personalidade como tentativa de agradar quem um dia o ajudou. Mas assim como a verdadeira prática do bem vem acompanhada do autoesquecimento, a sincera gratidão guarda na memória e coração devido apreço ao benfeitor por parte de quem se considera de alguma forma devedor.
Abomino conduta de aproveitadores da bondade e recursos alheios, mas inúmeras vezes fui agraciado pela generosidade voluntária, mesmo relutante em incomodar. Em 2022, um saudoso amigo soube que eu viajei para outro estado e cidade onde morava seu concunhado. Mediado o contato, recebi calorosa recepção, sendo tratado não como desconhecido, mas irmão. Na minha defesa monográfica, por exemplo, uma amiga foi designer de excelente card-layout, minha cunhada fez um belo slide, outra amiga revisou meu TCC e um amigo abdicou horas de lucro monetário para me dar suporte como os demais citados.
E o guri preterido naquela Livraria evangélica? Diferente da vendedora, naquele mesmo ano a cantora Nelma Junqueira e seu esposo Jair encontrou o menino vendendo picolés a dez centavos num Lava-Jato. Aquele simpático casal marcou sua memória pela atenciosidade e testemunho cristão. Nobre cortesia; eterna gratidão.
Mas a paixão daquele garoto por música era tamanha que parte do seu dinheiro – adquirido vendendo picolés – era gasto comprando Fitas K7 nas bancas de Camelôs. Aos treze anos, já tinha caixas de sapatos repletas dessas Fitas. Quando conhecia novas músicas e não dispunha para ouvir em seu Walkmam, comprava Fitas virgens (Sony, AIWA, Phillips) e pedia para outros que tinham os CDs gravarem.
Menos de dois anos após ter sido expulso carinhosamente daquela Loja (por perguntar várias vezes os preços e nada comprar), agora com seu primeiro "salário", todo arrumadinho, cabelo cortado, camisa por dentro da calça, sapatos limpos, unhas cortadas e quase "formatado nas regras de ABNT", retornou à referida loja e pagou à vista o que já sabia quanto custaria. A vendedora que um dia o retirou, estava em outro setor, próximo ao caixa. Talvez tivesse sido promovida a gerente. Disse ao rapazinho na hora do pagamento: "Olá, irmãozinho, lembro de você!"
Cortesia está relacionada à gentileza e bom trato para com o próximo. A Bíblia narra muitas histórias de cortesia e gratidão.
Abraão foi cortês para com seu sobrinho Ló, mesmo sem a recíproca. Apesar disso, o patriarca não mediu esforços ao enfrentar perigos para salvar Ló pouco depois, quando este esteve em grande perigo (Gn 12-14).
José foi outro exemplo de cortesia. Hebreu vendido como escravo pelos próprios irmãos e tornando-se poderoso líder político do Egito (a segunda maior autoridade do mundo à época), tratou os seus irmãos sem ressentimento ao reencontrá-los anos depois. (Gn 37-50).
Davi agiu com gentileza e perdão para com Simei, que antes o injuriou e ultrajou. O mesmo fez para com Saul, mesmo tendo oportunidades de matá-lo como legítima defesa. Poderíamos lembrar de seu perdão ao ingrato Nabal por meio de Abigail, etc. – evidência do porquê Davi era considerado um Homem segundo o coração de Deus – 1Sm; 2Sm). E o monarca babilônico tratou o rei prisioneiro Joaquim com máxima gentileza (Jr 52).
Assisti a uma brilhante reportagem de um pinguim encontrado sujo de petróleo e areia, carinhosamente cuidado por um pescador chamado João. Depois de jogado ao mar para voltar ao seu habitat, a ave aquática retornava aos braços do senhor que dela cuidou. Segundo a autora da matéria, o pinguim reconhecia a voz de João e permitia que apenas ele o tocasse. Também nadava cerca de 8 mil km para o local de sua reprodução, mas todos os anos regressava até João. Embora reação animal instintiva, torna-se inevitável desassociar nessa história cortesia e gratidão.
Tomás de Aquino em sua obra Tratado da Gratidão resumiu a virtude de ser grato em três dimensões: 1) reconhecimento do benefício recebido; 2) dar graças e elogiar de viva voz o benfeitor pelo favor que recebeu; 3) "recompensar o benfeitor na medida das possibilidades do beneficiado em tempo oportuno", manifestando compromisso de vínculo respeitoso.
Sem a ação divina no coração humano pela graça e Santo Espírito, mesmo os gestos mais generosos de altruísmo de alguém estaria eivado de egoísmo ou orgulho, mas assim como é preciso reconhecer a atuação dessa graça nas melhores ações humanas em prol dos outros, de igual modo um sublime ato bondoso não espera aplauso ou retribuição, muito menos exige reconhecimento ou dívida de gratidão.
Por outro lado, genuína gratidão é humildade que não se confunde com bajulação, subserviência, renúncia dos próprios valores ou supressão da personalidade como tentativa de agradar quem um dia o ajudou. Mas assim como a verdadeira prática do bem vem acompanhada do autoesquecimento, a sincera gratidão guarda na memória e coração devido apreço ao benfeitor por parte de quem se considera de alguma forma devedor.
Abomino conduta de aproveitadores da bondade e recursos alheios, mas inúmeras vezes fui agraciado pela generosidade voluntária, mesmo relutante em incomodar. Em 2022, um saudoso amigo soube que eu viajei para outro estado e cidade onde morava seu concunhado. Mediado o contato, recebi calorosa recepção, sendo tratado não como desconhecido, mas irmão. Na minha defesa monográfica, por exemplo, uma amiga foi designer de excelente card-layout, minha cunhada fez um belo slide, outra amiga revisou meu TCC e um amigo abdicou horas de lucro monetário para me dar suporte como os demais citados.
E o guri preterido naquela Livraria evangélica? Diferente da vendedora, naquele mesmo ano a cantora Nelma Junqueira e seu esposo Jair encontrou o menino vendendo picolés a dez centavos num Lava-Jato. Aquele simpático casal marcou sua memória pela atenciosidade e testemunho cristão. Nobre cortesia; eterna gratidão.
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