Palavra do leitor
02 de abril de 2011- Visualizações: 1839
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Consumo – uma perspectiva teológica
A vida cristã é algo que deve englobar tudo em nossas vidas. Segundo o teólogo Tillich, a "fé é aquilo que me possui incondicionalmente". Em outras palavras, não é simplesmente uma confissão doutrinária, um aparato que adiciono à minha vida que me dará boa sorte ou qualquer coisa parecida. Jesus disse que onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração. A mais dura verdade a ser encarada por seus seguidores. Por isso devo concordar com Tillich, nome que trouxe muitas contribuições para uma teologia verdadeiramente protestante – ainda que eu não seja liberal – e que, infelizmente, continue causando arrepios nos teólogos daqui. Mas isso é assunto para outro dia.
Quando Tillich afirma que "fé é estar possuído incondicionalmente" ele está dizendo que isso que nos possui incondicionalmente está no centro do nosso ser. Torna-se uma base, um alicerce a partir do qual vamos construir esse edifício da nossa vida que confia nessa base de pedra ou de areia. Em suma, a fé é algo que permeará todo nosso ser e prática, inclusive o consumo.
Vivo numa cidade (Arequipa, Peru) que não tem locadoras de vídeos, porque a prática de pirataria é muito forte e aceita pelas pessoas. Há apenas uma pequena loja que vende DVDs, CDs e discos de vinil também, mas é claro que com um mercado tão pequeno os preços praticados são muito altos. Certa vez comentava com uma pessoa daqui sobre a dificuldade que tenho e a resposta foi para que eu comprasse o pirata porque não era pecado, já que era cultural. Claro que me neguei a ceder a essa prática, porque compreendo de que quem compra um produto pirata financia pessoas que se apropriam de bens que não lhe pertencem, propriedades intelectuais, prejudicando quem trabalhou criativamente e as pessoas que trabalham para elas, ou seja, para mim quem vende um baseado na porta de uma escola participa da mesma rede dos traficantes que estão armados no morro. O mesmo penso de quem vende produtos piratas.
A pergunta que devemos fazer é: Com o meu consumo eu estou financiando algo bom? Quem está sendo beneficiado com o meu consumo? O Que eu estou ajudando a promover com o meu dinheiro? Essas perguntas todas são centrais para a consciência da minha ação no mundo, principalmente num mundo onde o consumo é tão grande e engloba quase tudo.
Agora, o que fazer com noticia de empresas, como foi o caso recente das Pernambucanas, que foi multada por ter fornecedores que empregam bolivianos em condições similares à escravidão? O que fazer quando uma empresa legalizada procede dessa forma? Pode uma empresa legal se alimentar da ilegalidade? Qual a diferença de comprar um produto pirata de um produto “legalizado” feito por trabalho escravo?
Em minha opinião não há diferença significativa. As Pernambucanas, ao contrário dos que pirateiam, vão pagar impostos, mas dinheiro não é tudo numa sociedade, também é, e mais do que dinheiro, a promoção da igualdade, da fraternidade, a afirmação dos direitos básicos de cada um, a inclusão social, todos esses princípios promovidos por Jesus, como no caso da mulher samaritana, na parábola do bom samaritano, no caso do centurião romano e tantos outros. Nosso consumo também deve visar isso e negar-se a consumir produtos que promovam o mal porque nós cremos na luz e se somos da luz não temos comunhão com as trevas. Em alguns países, uma notícia como essa causa de imediato a perda de muitos clientes que só podem ser recuperados caso haja uma reestruturação na empresa. Um claro exemplo foram denúncias contra a Nike que fez com que perdesse inúmeros clientes na Europa, o que fez que seus diretores revissem algumas práticas de atuação. Mas a prática de trabalho escravo era de uma fornecedora e não diretamente das Pernambucanas. Ora, temos que acabar com essa inocência, se alguém me oferece um produto que conheço pela metade do preço tenho que desconfiar da procedência. As grandes companhias são formadas por pessoas tão inocentes que não percebem isso, ou será que simplesmente não se importam?
Infelizmente a nossa cultura é muito passiva com essas coisas, chamam de realidade: As coisas são assim. O filósofo francês Edgar Morin, afirma que "efetivamente uma ética de princípio que não pode cristalizar-se na realidade converte-se em angelismo, mas um realismo político sem princípios, que aceita todos os fatos consumados, torna-se cinismo". Sim, na verdade esse realismo que vivemos nada mais é do que cinismo. Comprar um produto em promoção torna-se mais importante do que assegurar os direitos de um grupo de pessoas exploradas. Para isso usamos a cultura e a realidade, para não nos sentirmos menos cristãos, ainda que nossos consumos promovam tudo o que é contra os ensinamentos de Jesus e de seu Reino.
Quando Tillich afirma que "fé é estar possuído incondicionalmente" ele está dizendo que isso que nos possui incondicionalmente está no centro do nosso ser. Torna-se uma base, um alicerce a partir do qual vamos construir esse edifício da nossa vida que confia nessa base de pedra ou de areia. Em suma, a fé é algo que permeará todo nosso ser e prática, inclusive o consumo.
Vivo numa cidade (Arequipa, Peru) que não tem locadoras de vídeos, porque a prática de pirataria é muito forte e aceita pelas pessoas. Há apenas uma pequena loja que vende DVDs, CDs e discos de vinil também, mas é claro que com um mercado tão pequeno os preços praticados são muito altos. Certa vez comentava com uma pessoa daqui sobre a dificuldade que tenho e a resposta foi para que eu comprasse o pirata porque não era pecado, já que era cultural. Claro que me neguei a ceder a essa prática, porque compreendo de que quem compra um produto pirata financia pessoas que se apropriam de bens que não lhe pertencem, propriedades intelectuais, prejudicando quem trabalhou criativamente e as pessoas que trabalham para elas, ou seja, para mim quem vende um baseado na porta de uma escola participa da mesma rede dos traficantes que estão armados no morro. O mesmo penso de quem vende produtos piratas.
A pergunta que devemos fazer é: Com o meu consumo eu estou financiando algo bom? Quem está sendo beneficiado com o meu consumo? O Que eu estou ajudando a promover com o meu dinheiro? Essas perguntas todas são centrais para a consciência da minha ação no mundo, principalmente num mundo onde o consumo é tão grande e engloba quase tudo.
Agora, o que fazer com noticia de empresas, como foi o caso recente das Pernambucanas, que foi multada por ter fornecedores que empregam bolivianos em condições similares à escravidão? O que fazer quando uma empresa legalizada procede dessa forma? Pode uma empresa legal se alimentar da ilegalidade? Qual a diferença de comprar um produto pirata de um produto “legalizado” feito por trabalho escravo?
Em minha opinião não há diferença significativa. As Pernambucanas, ao contrário dos que pirateiam, vão pagar impostos, mas dinheiro não é tudo numa sociedade, também é, e mais do que dinheiro, a promoção da igualdade, da fraternidade, a afirmação dos direitos básicos de cada um, a inclusão social, todos esses princípios promovidos por Jesus, como no caso da mulher samaritana, na parábola do bom samaritano, no caso do centurião romano e tantos outros. Nosso consumo também deve visar isso e negar-se a consumir produtos que promovam o mal porque nós cremos na luz e se somos da luz não temos comunhão com as trevas. Em alguns países, uma notícia como essa causa de imediato a perda de muitos clientes que só podem ser recuperados caso haja uma reestruturação na empresa. Um claro exemplo foram denúncias contra a Nike que fez com que perdesse inúmeros clientes na Europa, o que fez que seus diretores revissem algumas práticas de atuação. Mas a prática de trabalho escravo era de uma fornecedora e não diretamente das Pernambucanas. Ora, temos que acabar com essa inocência, se alguém me oferece um produto que conheço pela metade do preço tenho que desconfiar da procedência. As grandes companhias são formadas por pessoas tão inocentes que não percebem isso, ou será que simplesmente não se importam?
Infelizmente a nossa cultura é muito passiva com essas coisas, chamam de realidade: As coisas são assim. O filósofo francês Edgar Morin, afirma que "efetivamente uma ética de princípio que não pode cristalizar-se na realidade converte-se em angelismo, mas um realismo político sem princípios, que aceita todos os fatos consumados, torna-se cinismo". Sim, na verdade esse realismo que vivemos nada mais é do que cinismo. Comprar um produto em promoção torna-se mais importante do que assegurar os direitos de um grupo de pessoas exploradas. Para isso usamos a cultura e a realidade, para não nos sentirmos menos cristãos, ainda que nossos consumos promovam tudo o que é contra os ensinamentos de Jesus e de seu Reino.
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