As relações entre fazer e ser

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O capítulo 25 do evangelho de Mateus faz parte do chamado "sermão profético" de Cristo, encerrando seus ensinamentos aos discípulos sobre a segunda vinda e o juízo final. Vamos refletir um pouco sobre as três parábolas daquele texto, examinando-as do fim para o começo, das conclusões para as razões.
A parábola das ovelhas e dos bodes termina assim: "Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Então, lhes responderá, dizendo: em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos, para a vida eterna" (Mt.25.44-46).
Lendo estes versículos, podemos pensar que a salvação seja pelas obras. Muitos têm pensado assim. Aqueles que alimentaram os famintos, saciaram os sedentos, visitaram os detentos e vestiram os nus se salvam. Quem não fez isso, vai pro inferno. Mas é importante observamos o que está escrito: "os JUSTOS, para a vida eterna". Antes do fazer, existe o ser. Antes das obras, o caráter. O que fazemos é consequência do que somos. A terceira parábola começa separando as ovelhas dos bodes, cada qual com a sua natureza e o seu caráter. Afinal, são duas espécies distintas, apesar das semelhanças e do convívio.
Voltando um pouco no capítulo, encontramos a parábola dos talentos. Aquele que escondeu o dinheiro do seu Senhor e não o multiplicou foi condenado, mas precisamos ver também ali o caráter anterior às obras, demonstrado na expressão "servo mau e negligente".
Voltando ao início do capítulo encontramos a parábola das virgens. Aquelas que chegaram atrasadas não entraram nas bodas, mas precisamos observar o caráter apresentado desde o princípio: eram insensatas.
Nas três parábolas existem substantivos, adjetivos e vínculos que se relacionam. Jesus é o noivo, o Senhor e o pastor. São diferentes visões da sua pessoa, diferentes níveis de conhecimento, relacionamento e intimidade. Não podemos escolher nossa "parábola preferida" e achar que não estamos representados nas outras. Cada uma retrata um aspecto da vida cristã. Não podemos escolher um e desprezar os demais. Por exemplo, há quem queira ser a noiva, mas não o servo.
Todos os personagens daquelas parábolas têm algum tipo de ligação com Cristo. Todos estão no rebanho, todos são servos, todas são virgens que esperam o noivo. Contudo, existem diferenças fundamentais: Ovelhas e bodes, servos bons e servos maus, virgens prudentes e virgens loucas. Podemos estar muito satisfeitos por fazermos parte do rebanho, mas somos ovelhas ou bodes? Eu sou um servo de Deus! Aleluia. Mas sou servo bom ou servo mau? Todas as noivas da parábola são virgens, mas são prudentes ou loucas? Tudo isso antecede e explica o modo de vida, as ações e as consequências.
As obras não salvam. O caráter também não salva, mas ele mostra, ou não, a evidência da salvação. "Os justos irão para a vida eterna", mas só podemos ser assim chamados mediante a justificação realizada em nós pelo sangue de Jesus (Rm.5.1). Ele nos justifica, perdoa e transforma para que possamos estar no lado certo da parábola e sermos salvos no final.

Pr. Anísio Renato de Andrade

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