A verdade não é uma abstração humana

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"E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (João 8.32).

É muito triste ver uma das mais transcendentes expressões do evangelho de Jesus Cristo sendo manipulada pela vileza das conveniências oportunistas das disputas políticas, em um momento de inominável perplexidade, aflição e morte – agravado pela mais drástica peste que já atingiu a humanidade, em uma das mais sombrias estações da história universal.

Observemos que a pandemia, enquanto surto virulento em escala planetária, tem gerado o mais terrível de todos inimigos: o pandemônio, ou seja, a confusão e o pânico generalizados, de tal modo que a única certeza que se tem é a incerteza, a perplexidade, a insegurança, a indefensabilidade.

Com efeito, essa percepção de impotência e ansiedade potencializa, pela desordem social em todos os níveis, todo esse flagelo. A tudo isso se junta a infodemia – enxurrada de fake news, incitando pérfidos dilemas entre a fé e a ciência, o maniqueísmo hediondo entre o bem e o mal ou misturando informações falsas e verdadeiras, destruindo, enfim, o que resta de equilíbrio emocional nas pessoas.
No Brasil, a situação é pior, pois as próprias autoridades digladiam entre si, com egos inflados pela ganância do poder, e nem ao menos conseguem demonstrar empatia com a dor do povo e nem catalisar saídas de maneira equilibrada, já que perderam o foco na saúde pública, enquanto milhares de pessoas morrem à mingua, sem a assistência devida. Antes, buscam o protagonismo politiqueiro para tirar vantagem da espetacularização do caos. Assim, a sensação é de estarmos todos à deriva, no mais terrível "salve-se quem puder".

No meio de toda essa balbúrdia, muitos querem aproveitar-se da tragédia para "passar a boiada" das suas próprias ignomínias ideológicas; outros suscitam a mais abjeta forma de corrupção, em compras fraudadas de equipamentos médico-hospitalares, embalados ao sangue das vítimas inocentes; outros, líderes religiosos, cooptados pelos governos de plantão, defendem seus impublicáveis interesses, negando os verdadeiros princípios da reforma protestante – são estes chefes dos "sinédrios contemporâneos", aliando-se a Roma e a César, agenciando o espetáculo do terror no "Coliseu" atual; outros, ainda, protagonizam o pior: "falsos pastores/bispos/apóstolos" que ludibriam os incautos fiéis, no mais espúrio charlatanismo - são estes ardilosos e devotados servos do império das trevas, da falsa fé – utilitarista, mercantilista, torpe.

Agora, por último, dá pena ver a tentativa da manipulação da verdade, de forma tão ilegítima, como se esta pudesse ser manejada ao sabor das conveniências políticas ou das inconfidentes traições, ou, como se ela pudesse ser propriedade particular de alguém.
Talvez esse seja o maior problema do mundo contemporâneo (o mundo da mentira ou da pós-verdade): não conhecer a verdade, ou melhor, quem é a verdade. Pois a verdade a que Jesus Cristo se refere não é uma coisa, um julgamento ou uma abstração do humano; é um ser, um Espírito de vida. Ninguém encontra a verdade buscando-a como um conceito mutável. A verdade é que nos encontra. A verdade é luz que espanca toda forma de escuridão. Nela não há sombra de variação, não há dúvida, não há medo, não há ódio, não há vendeta; nela o amor e a justiça se beijam, se casam e se completam. A Verdade é Ele, O Filho do Deus Vivo. E só assim será conhecida, apreciada e vivida em plena liberdade.

Edemundo Dias de Oliveira Filho 
Advogado. Pastor evangélico e escritor.

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Opinião do leitor