A terceira onda - Fraternidade cristã

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Esta é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio: que nos amemos uns aos outros. 1 Jo 3:11

Faça um exercício de abstração dos vieses políticos, das disputas ideológicas, e pense nas suas certezas e manifestações em tempos de pandemia.
Em meus momentos de leitura da Palavra, meditação, oração e contemplação, confesso não ter certeza alguma dos eventos que decorrerão deste momento. Mas tenho absoluta convicção de fé na fraternidade cristã, intrínseca à natureza do convertido por Deus, "pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê." 1 Jo 4:20

Bem, se o mundo está nominando a pandemia como "primeira onda" e as implicações econômicas como "segunda onda", quero nominar de "terceira onda" as consequências para a Igreja e da Igreja de Jesus Cristo para todo o mundo. Quanto à primeira e a segunda ondas, devemos ter participação cidadã, cientes que delas não temos controle, cabendo-nos confiarna soberania de Deus e na competência de nossas autoridades constituídas.
Contudo, o exercício da fraternidade cristã é de inteira responsabilidade nossa, irmãos em Cristo.

Disse Jesus: "Um novo mandamento dou a vocês: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros". Jo 13:34-35
A verdadeira espiritualidade cristã tem no coração (intimidade com Deus) as "saídas da vida". Isto significa que essa espiritualidade não consegue ser contida em nosso interior, ela rompe, ela se manifesta, se torna "rios de água viva" que jorram essa comunhão íntima com a Trindade para o chão da vida.
Esse jorro faz com que vivamos a fraternidade cristã num amor não utópico, nem expresso por obrigação apenas, mas relacional, como expressão deliberada, proposicional, que se faz presente na vida do outro. E é assim, e somente assim, que as pessoas saberão que somos discípulos de Jesus.

A "terceira onda" implica nessas duas dimensões, diante do momento atual – como nos relacionamos com os irmãos, e como nos relacionamos com as demais pessoas.
Disto decorre, primeiramente, que, se o relacionamento entre irmãos for pautado de fora para dentro, ou seja, dirigido por opiniões pessoais, ideologias político-partidárias e postagens das redes sociais, não só estaremos negando o nosso chamado de maneira simplória, mas já estaremos condenando o mundo a não ver a Cristo através do Seu corpo, que somos nós, a Igreja.

Todos temos nossas opiniões, aderência a este ou aquele ideário e curtimos ou não postagens, e nada há de errado nisso. O erro está em, como tantas vezes fizeram os discípulos do próprio Jesus, discutirem "sobre qual deles seria o maior". Jesus prontamente os repreendeu dizendo que "aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande". Isto significa certamente que a prevalência do amor faz humilhar aqueles que pretendem ter "uma opinião formada sobre tudo". Ser menor entre os irmãos significa ser o servo de todos, aquele que faz o que Deus, na pessoa bendita de Jesus fez por nós - Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos. Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade. 1 Jo 3:16-18
No Reino de Deus, a prevalência do que pensamos ou não, os movimentos aos quais aderimos ou não, e as postagens com as quais concordamos ou não, passarão inevitavelmente pela peneira da fraternidade cristã – peneira fina do relacionamento com os irmãos e peneira extrafina do relacionamento com as demais pessoas. E quem avaliará tudo isso, não será nenhum de nós. O justo Juiz desse Reino é Deus!

Em segundo lugar, a "terceira onda" implica em como nos relacionamos com o mundo, aqui entendido como as pessoas não cristãs. Nisto, Francisco de Assis acerta em dizer: "Uma fraternidade em que se faz a experiência do serviço aos mais fragilizados e indefesos. Pensamos na fraternidade com pessoas de fora" (...) "Pode mesmo acontecer que nem sempre se entendam uns com outros, mas sabem que pertencem uns aos outros" (...) "Uma fraternidade de comunhão, onde se experimente o acolhimento, a unidade, a ternura, a amizade, acompanhadas da reconciliação e correção fraterna; fraternidade que busca a alegria do perdão mútuo; fraternidade que valoriza o mútuo cuidado" (...) "Uma fraternidade que não quer tudo nivelar, mas onde há a alegria de se conviver e crescer corresponsavelmente, respeitando a diversidade de dons, talentos, carismas, caracteres e cultura".

Já estamos surfando nessa "terceira onda". Se vamos cair dela ou fazer manobras conforme a sua dinâmica, dependerá somente da maravilhosa graça de Deus e de cristãos decididos a cumprir o "novo mandamento" de Jesus: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos" Jo 15:13

João Campos é pastor sênior da Igreja 100% VIDA em Santos - SP

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Opinião do leitor