Apoie com um cafezinho
Olá visitante!
Cadastre-se

Esqueci minha senha

  • sacola de compras

    sacola de compras

    Sua sacola de compras está vazia.
Seja bem-vindo Visitante!
  • sacola de compras

    sacola de compras

    Sua sacola de compras está vazia.

Palavra do leitor

A restauração do inferno (Parte II)

O diabo gastou um intervalo em silêncio, como se ponderasse sem pressa. Em seguida começou a sua história:

– Quando aquela coisa terrível aconteceu, quando o inferno foi derrubado e nosso pai e governante nos deixou – disse ele – fui aos lugares onde o ensino que quase nos arruinara havia sido pregado. Eu queria ver como viviam as pessoas que colocavam-no em prática, e vi que os que viviam de acordo com aquele ensino eram inteiramente felizes e inteiramente fora do nosso alcance. Eles não se enfureciam uns com os outros, não cediam aos charmes das mulheres, não se casavam e, quando casavam, tinham uma única esposa. Não tinham propriedade privada, mas possuíam tudo em comum; não se defendiam de ataque algum, mas retribuíam o mal com o bem. Sua vida era tão virtuosa que um número cada vez maior de pessoas era atraído para o grupo deles.

– Quando vi isso pensei que tudo estava pedido, e tive vontade de desistir. Mas algo aconteceu, algo que embora insignificante em si mesmo pareceu-me merecer atenção, e permaneci. Entre essas pessoas alguns achavam necessário que todos se circuncidassem e que ninguém comesse a carne que havia sido oferecida aos ídolos, enquanto outros achavam que isso não era essencial; criam que não precisavam ser circuncidados e que podiam comer qualquer coisa. Passei então a sugerir para as pessoas dos dois grupos que aquele desacordo era muito importante, e que como a questão dizia respeito ao serviço de Deus, nenhum dos lados deveria ceder. Eles acreditaram em mim, e suas disputas tornaram-se mais violentas. Gente dos dois lados começou a ceder à raiva, e passei então a instilar em cada um deles que poderiam provar a verdade da sua posição através de milagres. Embora seja evidente que milagres não podem provar a verdade de doutrina alguma, eles estavam tão ansiosos para estarem certos que acreditaram em mim, e providenciei milagres para eles. Isso não foi difícil: eles acreditavam em qualquer coisa que confirmasse o seu desejo de demonstrar que apenas eles estavam certos.

– Alguns diziam que línguas de fogo haviam descido sobre eles; outros afirmavam que tinham visto o próprio corpo ressurreto do seu mestre, e muitas outras coisas. Ficavam inventando coisas que nunca tinham acontecido e, no nome daquele que nos chamou de mentirosos, mentiam não menos do que nós. Um dizia para o outro: “Os seus milagres não são genuínos, os nossos é que são”. E o outro respondia: “Não, os de vocês não são genuínos, os nossos é que são”.

– As coisas estavam indo bem, mas eu tinha medo que, de tão evidente que era, eles pudessem discernir aquele engodo; por isso inventei “A Igreja”. E quando eles acreditaram nA Igreja, fiquei em paz. Entendi que estávamos salvos, e que o inferno havia sido restaurado.

Após outra pausa, prosseguiu:

- Bom, quando uma pessoa diz uma mentira e teme que não vão acreditar nela, chama sempre Deus por testemunha, e diz: “Por Deus, estou dizendo a verdade!” Isso, em essência, é “a Igreja”, porém com uma peculiaridade: aqueles que reconhecem a si mesmos como sendo “a Igreja” acabam convencidos de que são incapazes de errar, e portanto qualquer besteira que proferem não podem nunca refutar. A Igreja é constituída da seguinte forma: homens asseguram a si mesmos e a outros de que seu mestre, Deus, a fim de assegurar que a lei que revelou aos homens não seja mal interpretada, deu poder a determinados homens que, juntamente com aqueles a quem transferem esse poder, são os únicos capazes de interpretar corretamente o ensino dele. Assim esses homens, que chamam a si mesmos de “Igreja”, consideram-se defensores da verdade não porque pregam o que é verdadeiro, mas porque se consideram os únicos verdadeiros sucessores dos discípulos dos discípulos dos discípulos, até os discípulos do próprio mestre, Deus. Embora esse método, como o dos milagres, tenha a desvantagem de que as pessoas possam afirmar simultaneamente, cada uma por si mesma, serem membros da única Igreja verdadeira (como de fato sempre acontece), tem a vantagem de que tão logo os homens declaram que são a Igreja e desenvolvem sua doutrina com base nessa afirmação, não podem mais renunciar ao que já disseram, por mais absurdo que seja, não importa o que digam as outras pessoas.

– Mas por que a Igreja distorceu o ensino em nosso favor? – perguntou Belzebu.

(CONTINUA)
Rio De Janeiro - RJ
Textos publicados: 35 [ver]

Os artigos e comentários publicados na seção Palavra do Leitor são de única e exclusiva responsabilidade
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.

Ultimato quer falar com você.

A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.

PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.


Opinião do leitor

Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Escreva um artigo em resposta

Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.