Palavra do leitor
- 15 de setembro de 2010
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A parábola da igreja pós-moderna
Um grande tumulto formou-se no templo quando ele entrou carregando em seus ombros o que seria objeto de grande amor.
Colocou-o bem ao lado do púlpito: lugar evidente. Permaneceria lá sob uma condição: seria revestido pela sombra projetada por uma trama de fios; ninguém perceberia qual o objeto lá oculto. Todos se prostrarão e servirão a ele – disse o líder da congregação.
Tornar-se-ia o objeto de toda atenção. A maioria ficou entusiasmada. Outros questionaram; mas, com a correria da vida, logo se esqueceram.
Com o tempo, os membros da igreja acostumaram-se ao ídolo. Afinal, estavam se sentindo bem, pois as depressões, as ansiedades e outras pencas de neuroses estavam sendo anestesiadas com a morfina do prazer.
Os egos foram inflados. Os sentidos, satisfeitos. Palavras voavam do púlpito, indo pousar direto nos corações de seus ouvintes: "Somos campeões." "Aqui não é lugar para perdedores"."Entorpecidos, saiam triunfantes". A igreja enchia, inchava: sinônimos de ministério divinamente abençoado?
Ventres cheios de imoralidade sexual, impureza, libertinagem idolatria, feitiçaria, ódio, discórdia, ciúmes, facções ...: esses eram os frutos que satisfaziam insidiosamente as carnes insaciáveis.
Frutos produzidos e consumidos, num processo de retroalimentação. Abençoar o próximo era simplesmente levantar a mão em direção a pessoa ao lado e proferir palavras de encantamento: “seja abençoado”. “Atos de amor ao próximo” eram incitados pelo dirigente. Os soldados de chumbo, corajosamente, aceitavam a provocação: concretizando a demonstração cabal de amor ao que estava ao lado, dizendo frases que se diluíam como névoas secas: “amo você, querido irmão.”
Embriagavam-se com esses rituais, pois, de certa forma, atenuavam as culpas carregadas como pesados fardos pelo caminho.
Jejum coletivo e reunião de oração foram substituídos pelas festas regadas a pizzas e refrigerantes, tudo acobertado pela pretensa comunhão. Choros e confissões por risos e dissimulações. Louvor e adoração por transes e bajulações coletivas. Dilatavam-se os egos.
A simplicidade foi vestida com luxo; em seu pescoço e dedos, jóias. O luxo quase sempre é o ponto de partida para o caminho que leva à luxúria. Corpos malhados, recondicionados, latejando sensualidade, desfilavam pelas passarelas do templo. Os orgulhosos armaram um ringue e lá lutavam até se ferirem.
O ter precedia o ser. A fé era afirmar, sem duvidar, o que se pretendia ter; o foco estava no objeto e não no caráter justo e bondoso de Deus; não havia mais diferença entre fé e pensamento positivo.
A agenda espiritual era caracterizada pelo ativismo e pragmatismo com o firme objetivo de manter as estruturas da instituição: reuniões departamentais e sociais, relatórios, ensaios, reformas e construções não davam mais lugar às orações, jejuns, meditação e estudo das Escrituras e caridades.
Num domingo de festa e danças, dirigidas pelo animador de púlpito, no meio do “culto”, um vento forte entrou pela janela lateral, descobrindo o manto que ocultava o objeto de adoração.
A igreja se surpreendeu com o que veio a ser revelado: o ídolo era a representação de um humano; da testa ao queixo, uma pequena abertura. Uma fila se formou para ver o que tinha no interior do buraco cravado na face da imagem. À medida que cada um visualizava ficava perplexo.
De muitos que olharam, apenas a minoria se quedou em prantos; esses são os poucos escolhidos que não mais pactuaram com o espírito hedonista da pós-modernidade. Os carnais tornaram a cobrir o ídolo; e com a correria do dia-a-dia, logo esqueceram o ocorrido.
E a igreja crescia... adoecia. Antes que me esqueça, vou te dizer o que eles viram dentro da estátua: a imagem de cada um refletida no espelho lá acondicionado.
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