A igreja além do virtual

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A teologia é uma experiência de refletir a revelação a partir da realidade contemporânea, utiliza-se de reflexões do consenso da igreja ao longo da história, mas sem refletir o cotidiano, no aqui e agora, não faz sentido teologizar.

A história da igreja é repleta de improvisos. Como por exemplo, no primeiro século, os cristãos foram perseguidos por afirmarem que Jesus é Cristo e, portanto, foi caçado a suas presenças no templo, mas improvisaram e continuaram dizendo que Jesus é Cristo nas casas, mesmo diante de ameaças e ações violentas contra eles. (Atos 5.41-42, NVI)

O cotidiano é o campo de trabalho da igreja, onde o sal não só dar gosto a comida, mas também doa a comida com gosto. Deve ser também a inspiração do serviço intelectual teológico que ilumina em conhecimento sendo luz para a edificação da comunidade de fé. (Mateus 5.13-14, NVI)

A igreja de Jesus em meio a uma crise não foge, crava uma estaca e arregaça as mangas para o serviço em amor e pela causa do amor. Os improvisos ao longo da sua história são sinônimos de amor pela causa do evangelho. É também sinônimo de compromisso para com a sinalização do reino de Deus, que revela a sua justiça em amor para superar crises e tensões, aflições e medo.

A igreja do primeiro século foi impedida de realizar ajuntamentos por conta do império e da religiosidade assídua dos líderes religiosos e poderosos romanos. Hoje, por um vírus, que gerou uma pandemia e se espalha exclusivamente onde há aglomerações e ajuntamentos.

No modelo tradicional de igreja, onde se pensa nas multidões comerciais, de fato é um problema. Mas quando se pensa que a igreja não é exclusividade de eventos, mas a experiência de encontros reais no cotidiano, surge mais uma vez a oportunidade de improviso. Porque, a igreja é o que acontece do lado de fora das paredes e do lado de dentro das pessoas.

Em meio a uma pandemia globalizada as igrejas evangélicas, especificamente, tem de se reinventar liturgicamente e tem encontrado na eficiência tecnológica das redes sociais um grande aliado para a transmissão da mensagem do evangelho. E de maneira virtual, pastores e líderes, têm realizado ensino que adentram casas e corações.

"Virtual não é o oposto de real, mas de presencial", disse Ed René Kivitz, teólogo e pastor brasileiro.

A igreja tem novamente se reunido nas casas, voltando às suas origens e intensificando seu relacionamento com o próximo, onde está Jesus. Nada melhor do que casas, lares, que são sinônimos de acolhimento e segurança para encontrar o outro e conversar o evangelho.

A responsabilidade de pastores e mestres, diante do Covid-19, tem sido aconselhamento e palavra pastoral que visam a conscientização da nossa responsabilidade enquanto seres humanos e quanto igreja, diante do próximo. Mas há também a irresponsabilidade de líderes que continuam promovendo reuniões presenciais visando em multidões comerciais apenas cultos, sem encontros; apenas cultos, sem reunião relacional.

O vírus não veio para ensinar, porque o que é mal não é um método pedagógico. Mas talvez para expor de que maneira enxergamos o próximo; a negligência política; a ênfase individualista; a ganância delituosa; a falta de amor, compaixão e humanidade de lideranças evangélicas.

Uma reflexão teológica é necessária por trás de cada gesto e movimento das pessoas e, especificamente, dos que se dizem cristãos, na realidade.

O ato de ir aos supermercados e esvaziar uma prateleira revela egoísmo, não precaução. Se eu levar no meu carrinho de compras tudo o que contém na prateleira, virá outra pessoa com a mesma necessidade que eu e não encontrará nada para também sustentar suas necessidades básicas. Como também, como pastor e líder, eu me colocar acima do bem e mal e, portanto, "bater o pé" e continuar a promover reuniões que permitem um grande acúmulo de pessoas, isto é, em nome de Deus, eu tenho responsabilidade por todas as pessoas que venham a contrair um vírus que pode levar à morte. Portanto, deixei de ser sal que dar gosto a vida; parei de ser luz que convida para fora das trevas.

Além do virtual existe um movimento de responsabilidade para com o próximo. Existem pessoas que abrem mão da sua liberdade de ir e vir, pensando nos outros e não só em si. Para além da igreja que se encontra no virtual, existem palavras de sabedoria que entra nos corações e nos quebranta nos fazendo ter consciência e o mínimo de humanidade para quando for as compras pensar que existem outras pessoas que precisam fazer o mesmo.

A igreja para além do virtual, é a presencialidade de Jesus que adentra casas e supermercados, hospitais e postos de saúde, inclusive, que adentra as próprias igrejas, convidando os para o lado de fora e para o lado de dentro de si mesmos, para que juntos de mãos dadas e estendidas, mesmo que seja virtualmente, passar juntos por esse momento que exige amor e, portanto, compaixão, generosidade, solidariedade e esperança de dias melhores.

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Opinião do leitor