A dúvida como atributo da fé

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"A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina. Está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e anularei a prudência dos prudentes (Is 29,14). Onde está o sábio? Onde o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso não declarou Deus por loucura a sabedoria deste mundo? Já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura de sua mensagem." I Coríntios 1.18-21

Na última semana, estive refletindo sobre o poder da dúvida e diante do jargão comumente utilizado pelos evangélicos de que a "dúvida é coisa que procede do malígno", pude constatar que na verdade a dúvida é justamente um artifício divino para nos conduzir à humildade. Pois na verdade Deus é o Senhor da certeza, pois diante de um de seus atributos, ele é Onisciente.

E refletindo sobre a história da humanidade, os maiores problemas que o mundo enfrentou em sua trajetória era justamente a detenção da certeza e quando insurgia um outro grupo com algo diferente do que eles entendiam ser verdade, gerava-se os conflitos, intolerâncias e etc. Ou seja a falta de dúvida é que trazia os conflitos e a falta de diálogo.

Fico me perguntando ao ler esse texto de Paulo, Quem de fato conhece a verdade? Se Jesus nos disse, "E conhecereis a verdade e a verdade nos libertará?" em que sentido isso se concretiza, pois não podemos ter o pleno conhecimento de Deus e nem de Jesus, pois se o tivéssemos, não teríamos tantas divisões de pensamentos tão diferentes e ainda correríamos o risco de nos tornarmos deuses, pois não teríamos mais dúvidas.

O próprio Paulo antes de ser confrontado por Jesus, era intolerante, justamente por ter plena certeza das coisas, fora assim que ele aprendera, mas naquele momento, viu suas certezas se desanuviarem pela loucura de Deus, por isso escreve que vê as coisas em parte. Então, qual o papel divino da dúvida?

Costumo pensar que enquanto houver dúvida, ainda há o que evoluir, o que aprender. E na condição de aprendiz, sou impulsionado à humildade, pois sempre haverá alguém a ensinar. Num post anterior, falei sobre um Deus que descontrói as nossas certezas, vimos isso a partir da história de Jó, que diante de tantas perguntas se silenciou diante da magnificência de Deus, pois vira que ele não precisava de respostas, apenas de vivência e humildade.

Jesus explicou isso aos seus adversários, os Fariseus e Doutores da Lei, que diante de suas certezas sobre Deus, confirmou que eles nada poderiam conhecer de Deus.

Entendo que os grandes problemas do cristianismo moderno estão na falta de humildade em reconhecer a dúvida como um elemento fundamental para a construcão da fé. Hein?! Isso mesmo. Enquanto muito tempo ela era um tabu, pois reconhecê-la era um sinal de falta de fé, entendo que confessar a dúvida é um sinal de humildade e fé, pois se expressa na mais profunda dependência de seu principal professor, Cristo. E quando a reconhemos, deixamos de lado nossas presunções absurdas sobre entender plenamente a verdade e passamos a dialogar mais com nossos diferentes e vê-los, assim como nós, como possuidores, segundo Ricardo Gondin, de "Lampejos da verdade".

No fim das contas, vamos ter as mesmas conclusões que Sócrates, "Só sei que nada sei" e com isso, estaremos preparados para descobrir novos caminhos e mais tolerantes, rumo a um processo de construção para um mundo melhor.

Que Deus nos abençoe

www.descansodaalma.blogspot.com

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Opinião do leitor