Palavra do leitor
- 29 de outubro de 2024
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A democracia [geográfica] da dor!
Sim, aos 83, ainda "pré-idoso" [porém não vaidoso, nem raivoso, jamais queixoso] tenho dor [quem não as tem?] – tirando o "R" dessa dor, acentuando-a, me lembra "dó" [que dó, que pena!].
A dor seria democrática [geográfica] em todos? – seria com todos, por todos, para todos!
Nem tanto assim, calma que eu conto!
Se adormeço do lado esquerdo, dói a cabeça do fêmur canhota.
Se viro para o outro lado, é a vez do fêmur destra ter a sua dorzinha "de cabeça"!
Quando me posiciono de costas, a dor se instala no quadril, parte central inferior, pouco acima do "cóccix".
Mas a dor democrática [geográfica] é relativa, rarefeita, parcial, suspeita, imperfeita – "imperfeita" parece e rima com "prefeita" - comento logo a seguir.
Surpreendentemente relativa, rarefeita, parcial, suspeita, imperfeita porque se fico "de bruços", nada dói – kd (cadê), então, a democracia [geográfica] da dor?
Em todos? – seria com todos, por todos, para todos?
Nem tanto assim, calma, já estou contando!
Sim, "imperfeita" lembra "prefeita" [quem governa uma cidade]; foi reeleita lá na "minha" terra; a terra que tem palmeiras, onde gorjeia, onde canta o sabiá!
A palavra "minha" não é perfeita [aqui] porque não é minha, a terra é adotiva; não nasci lá, vivi por lá, estou eu cá!
Saudades "de matá" [de matar ou de morrer, óbvio, só de saudades]!
Saudades que me lembram o grande Poeta Gonçalves Dias, exilado da Pátria Amada, em 1838; em Portugal compôs declamando; assumo como meus os seus versos, os seus sentimentos, e até as suas dores [se as teve]:
"Minha terra tem palmeiras/onde canta o sabiá/as aves que aqui gorjeiam/não gorjeiam como lá/nosso céu tem mais estrelas/nossas várzeas têm mais flores/ nossos bosques têm mais vida/nossa vida mais amores."
Aí acrescento eu, saudoso [ou lamentoso, mas não choroso, embora chorar seja sublime, exprime a presença de sentimentos bons, nunca fragilidades – o Senhor Jesus chorou sobre Jerusalém].
- Eu saudoso? - "quem mandou vir para cá?"
Cá apenas há um sabiá, sozinho, talvez triste, que canta no telhado vizinho; cá não há palmeiras [só no futebol, mas sou Flamengo, "rubro-negro" tá?], mas ele gorjeia, canta, me encanta, mui bem me afaga o coração!
Continuando com ele, Gonçalves Dias, relembro, até desejo, oro, peço, rogo, sei lá:
"Não queira Deus que eu morra/sem que eu volte para lá!"
Com dor ou sem dor, tá?
– Então, vamos lá! Pelo menos, "vamu sonhá!" [vamos sonhar!].
Não é queixa, jamais murmúrio, é apenas narrativa para contá (contar) como está a referida democracia [geográfica] da dor:
- Em todos? – na verdade, pensando bem, não com todos, nem por todos, jamais para todos; exceções há e não são poucas [lembro-me da privilegiada postura "de bruços"].
Sim, relativa porque parcial, rarefeita, imperfeita, suspeita!
- A dor não governa, pois o corpo [a mente] se autogoverna, se mexe, se remexe, se vira, distribuindo quaisquer dores de maneira lenta, mansa, calma, mas por igual - ora aqui, depois ali, em seguida acolá, democraticamente por se manifestar geograficamente; "esquerda, direita, volver", diria o militar!
Que a dor "geográfica" por "democrática" que tem sido, seja desfeita, mas se possível já, aqui, ali e acolá – me livra, me deixa, me larga tá?
Como que findando essas pobres considerações não posso deixar de declamar o outro grande poeta, Casimiro de Abreu, este, como eu, exilado de sua [nossa] infância:
"Oh! Que saudades que tenho/da aurora da minha vida/da minha infância querida/que os anos não trazem mais/que amor, que sonhos, que flores/naquelas tardes fagueiras/à sombra das bananeiras/debaixo dos laranjais!"
• Havia bola de gude, bola de jornal enrolado, bola de borracha, pé no barro, mergulho na enxurrada que descia morro abaixo, resultante da forte chuva;
• Havia fogueirinha sob as frondosas árvores, na avenida transversal – gritava, alertava alguém: "foge, vem chegando a Polícia, a Rádio Patrulha" – era, então, o momento de viver aquele velho e malfadado refrão popular: "perna para que te quero" – corria morro abaixo, que nem a enxurrada!
• Havia passeio de charrete com o locador da casa onde morava; também "pula-pula" de uma carroça para outra, no pátio da carroceria do bondoso "charreteiro" – herdei, com tal travessura, três pontos na cabeça naquele local que não desejo estar lembrando - o "Pronto Socorro" Municipal – muito sangue, crianças feridas, fraturas expostas, dores, choro, soluços – mamães acalentadoras, cuidadoras, amorosas - que bênção [as mães, não as dores!]
Enquanto isso, no telhado vizinho, embora só, ele me encanta, me alegra, até me inspira – sim, pois ali gorjeia, na madrugada e durante todo o dia; sempre naquelas desbotadas telhas, sem palmeiras, canta o triste, por solitário que está, mas solene, por certo autêntico, mui firme, o belo e afinado sabiá – como se fosse um "analgésico" [que nunca ingiro] para aquelas dores – daqui, dali e dacolá quais sejam: as dores democráticas por serem geográficas!
A dor seria democrática [geográfica] em todos? – seria com todos, por todos, para todos!
Nem tanto assim, calma que eu conto!
Se adormeço do lado esquerdo, dói a cabeça do fêmur canhota.
Se viro para o outro lado, é a vez do fêmur destra ter a sua dorzinha "de cabeça"!
Quando me posiciono de costas, a dor se instala no quadril, parte central inferior, pouco acima do "cóccix".
Mas a dor democrática [geográfica] é relativa, rarefeita, parcial, suspeita, imperfeita – "imperfeita" parece e rima com "prefeita" - comento logo a seguir.
Surpreendentemente relativa, rarefeita, parcial, suspeita, imperfeita porque se fico "de bruços", nada dói – kd (cadê), então, a democracia [geográfica] da dor?
Em todos? – seria com todos, por todos, para todos?
Nem tanto assim, calma, já estou contando!
Sim, "imperfeita" lembra "prefeita" [quem governa uma cidade]; foi reeleita lá na "minha" terra; a terra que tem palmeiras, onde gorjeia, onde canta o sabiá!
A palavra "minha" não é perfeita [aqui] porque não é minha, a terra é adotiva; não nasci lá, vivi por lá, estou eu cá!
Saudades "de matá" [de matar ou de morrer, óbvio, só de saudades]!
Saudades que me lembram o grande Poeta Gonçalves Dias, exilado da Pátria Amada, em 1838; em Portugal compôs declamando; assumo como meus os seus versos, os seus sentimentos, e até as suas dores [se as teve]:
"Minha terra tem palmeiras/onde canta o sabiá/as aves que aqui gorjeiam/não gorjeiam como lá/nosso céu tem mais estrelas/nossas várzeas têm mais flores/ nossos bosques têm mais vida/nossa vida mais amores."
Aí acrescento eu, saudoso [ou lamentoso, mas não choroso, embora chorar seja sublime, exprime a presença de sentimentos bons, nunca fragilidades – o Senhor Jesus chorou sobre Jerusalém].
- Eu saudoso? - "quem mandou vir para cá?"
Cá apenas há um sabiá, sozinho, talvez triste, que canta no telhado vizinho; cá não há palmeiras [só no futebol, mas sou Flamengo, "rubro-negro" tá?], mas ele gorjeia, canta, me encanta, mui bem me afaga o coração!
Continuando com ele, Gonçalves Dias, relembro, até desejo, oro, peço, rogo, sei lá:
"Não queira Deus que eu morra/sem que eu volte para lá!"
Com dor ou sem dor, tá?
– Então, vamos lá! Pelo menos, "vamu sonhá!" [vamos sonhar!].
Não é queixa, jamais murmúrio, é apenas narrativa para contá (contar) como está a referida democracia [geográfica] da dor:
- Em todos? – na verdade, pensando bem, não com todos, nem por todos, jamais para todos; exceções há e não são poucas [lembro-me da privilegiada postura "de bruços"].
Sim, relativa porque parcial, rarefeita, imperfeita, suspeita!
- A dor não governa, pois o corpo [a mente] se autogoverna, se mexe, se remexe, se vira, distribuindo quaisquer dores de maneira lenta, mansa, calma, mas por igual - ora aqui, depois ali, em seguida acolá, democraticamente por se manifestar geograficamente; "esquerda, direita, volver", diria o militar!
Que a dor "geográfica" por "democrática" que tem sido, seja desfeita, mas se possível já, aqui, ali e acolá – me livra, me deixa, me larga tá?
Como que findando essas pobres considerações não posso deixar de declamar o outro grande poeta, Casimiro de Abreu, este, como eu, exilado de sua [nossa] infância:
"Oh! Que saudades que tenho/da aurora da minha vida/da minha infância querida/que os anos não trazem mais/que amor, que sonhos, que flores/naquelas tardes fagueiras/à sombra das bananeiras/debaixo dos laranjais!"
• Havia bola de gude, bola de jornal enrolado, bola de borracha, pé no barro, mergulho na enxurrada que descia morro abaixo, resultante da forte chuva;
• Havia fogueirinha sob as frondosas árvores, na avenida transversal – gritava, alertava alguém: "foge, vem chegando a Polícia, a Rádio Patrulha" – era, então, o momento de viver aquele velho e malfadado refrão popular: "perna para que te quero" – corria morro abaixo, que nem a enxurrada!
• Havia passeio de charrete com o locador da casa onde morava; também "pula-pula" de uma carroça para outra, no pátio da carroceria do bondoso "charreteiro" – herdei, com tal travessura, três pontos na cabeça naquele local que não desejo estar lembrando - o "Pronto Socorro" Municipal – muito sangue, crianças feridas, fraturas expostas, dores, choro, soluços – mamães acalentadoras, cuidadoras, amorosas - que bênção [as mães, não as dores!]
Enquanto isso, no telhado vizinho, embora só, ele me encanta, me alegra, até me inspira – sim, pois ali gorjeia, na madrugada e durante todo o dia; sempre naquelas desbotadas telhas, sem palmeiras, canta o triste, por solitário que está, mas solene, por certo autêntico, mui firme, o belo e afinado sabiá – como se fosse um "analgésico" [que nunca ingiro] para aquelas dores – daqui, dali e dacolá quais sejam: as dores democráticas por serem geográficas!
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