Palavra do leitor
- 09 de agosto de 2016
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Por que no meu tempo era diferente?
Quando eu era criança a minha brincadeira preferida era qualquer coisa referente a carros, desde pegar as tampas das panelas da minha mãe e fazer delas volantes automotivos até construir magníficas rodovias com direito a túneis e pontes, obras dignas de um verdadeiro engenheiro civil, tudo no melhor campo de trabalho à minha disposição, o quintal de casa.
Eu gostava muito quando minha casa ou a dos vizinhos estava em construção, principalmente quando a construção era embargada, os materiais (areia, barro, traço, etc.) ficavam ao meu inteiro dispor. Meus amiguinhos permaneciam boquiabertos. Sim, eu era muito bom, extremamente talentoso, não sei como não me tornei um engenheiro civil, sempre fui bom em matemática, trigonometria, física, cálculos, medidas e fórmulas em geral.
O fato é que o tempo passou e as coisas mudaram. Sempre fui liderado pelo meu irmão mais velho, mas lembro-me perfeitamente quando estava próximo de completar meus 18 anos que comecei a me tornar mais líder do que liderado. Enfim, ao passar os anos, olho para trás e me pergunto sempre: "Por que no meu tempo era diferente?"
Em que sentido eu faço esta pergunta? A melhor resposta é "em todos os sentidos". Quando criança e adolescente eu, como qualquer menino ou menina nesta fase, recriava o que via ao meu redor. Todos os carros que passavam na minha rua eu sabia os nomes, fossem nacionais ou importados, e não sabia porque lia em jornais ou revistas especializadas em carros, muito menos na internet. Quase ninguém gosava destes privilégios na época, minha família, menos. Eu sabia porque lia atrás dos carros, geralmente no porta-malas, o nome de cada um, associando com o logotipo da montadora. Parece besteira, mas para a minha idade, a partir dos 4 anos, no final dos anos 1980 e início dos 1990, era surpreendente. Sem brincadeiras, eu sabia até mais que o mecânico e amigo da família que morava próximo. Assim, me apaixonei por carros, especialmente os grandes.
Lembrando disso, hoje sinto falta não apenas de brincadeiras e costumes antigos, embora não retrógrados, mas também de palavras que faziam parte do nosso simples e cotidiano vocabulário. Quanto tempo não ouço a palavra quintal, e.g.? Como era bom ter um quintal! Tínhamos pé de manga, goiaba, mamão, banana, jambo, graviola, todos os tipos de ervas para chás: cidreira, capim-santo, hortelã, aroeira, boldo, sambacaitá, babosa, etc. Todas as tardes, 16 horas, ou estávamos no nosso quintal, ou no quintal de alguém, e escutávamos nossos tios gritarem: "Hora de tomar banho!"
Os dias mudaram, os costumes também. Os quintais deram lugar as áreas de serviço nos apartamentos. Os pés de frutas e ervas para chás deram lugar a polpa congelada e caixinhas da Maratá ou Dr. Oetker (sem merchandising), os carros ficaram todos iguais, nas cores populares, na potência e na aparência. As brincadeiras infantis não se resumem mais a socialização cara-a-cara: jogar chimbra (ou bolas-de-gude), pião, queimado, cuz-cuz (bem regional esta), esconde-esconde, garrafão, travinha (usávamos dois pares de chinelos, geralmente velhos, para servir como balisas e geralmente eram dois contra dois ou três contra três, no máximo, quem perdia entrava outra dupla ou trio), etc. Tudo era feito no quintal de casa ou no de alguém, na rua ou num terreno baldio. Realmente nos sujávamos, nos cortávamos, nos feríamos e nos ralávamos. Era muito bom. Sentíamos o cheiro do suor e não estávamos nem aí. Nosso troféu era geralmente um refrigerante, as vezes com quebra-queixo (um doce regional feito com coco, água e açúcar).
Atualmente, as "brincadeiras" (essa palavra é bem estranha para os dias de hoje) se resumem a tablets, notebooks, consoles e smarthphones, onde os aplicativos simulam as antigas diversões. Hoje tudo é simulado, emulado, informatizado. É de cortar o coração. Vejo crianças ensinando aos pais a configurar uma conta do Instagram, a interagir com as reações possíveis em publicações do Facebook, e até adolescentes configurando um sistema operacional nos dispositivos dos pais.
Todavia, a tecnologia não é por si só má, não é de todo prejudicial aos pequenos. O problema está no esquecimento dos valores aprendidos nas mais simples e singelas brincadeiras nostálgicas. Você via as pessoas face a face, decorava o semblante delas, os sinais, o jeito de andar. Lembro-me que conhecia cada membro da minha família pelo som que arrastavam os chinelos em casa (parece que ouço minha mãe se aproximando ouvindo a soleta de suas Havaianas batendo levemente nos calcanhares). Hoje, achamos que sabemos quem está do outro lado da grande rede de computadores, teclando nas redes sociais. Imaginamos, assistindo a vlogs, como seria se tivéssemos a vida dos youtubers. O fato é que nem sabemos que costumes tem, qual religião seguem, como se relacionam com seus familiares e amigos, etc.
Veja mais no meu blog pessoal, link abaixo.
Eu gostava muito quando minha casa ou a dos vizinhos estava em construção, principalmente quando a construção era embargada, os materiais (areia, barro, traço, etc.) ficavam ao meu inteiro dispor. Meus amiguinhos permaneciam boquiabertos. Sim, eu era muito bom, extremamente talentoso, não sei como não me tornei um engenheiro civil, sempre fui bom em matemática, trigonometria, física, cálculos, medidas e fórmulas em geral.
O fato é que o tempo passou e as coisas mudaram. Sempre fui liderado pelo meu irmão mais velho, mas lembro-me perfeitamente quando estava próximo de completar meus 18 anos que comecei a me tornar mais líder do que liderado. Enfim, ao passar os anos, olho para trás e me pergunto sempre: "Por que no meu tempo era diferente?"
Em que sentido eu faço esta pergunta? A melhor resposta é "em todos os sentidos". Quando criança e adolescente eu, como qualquer menino ou menina nesta fase, recriava o que via ao meu redor. Todos os carros que passavam na minha rua eu sabia os nomes, fossem nacionais ou importados, e não sabia porque lia em jornais ou revistas especializadas em carros, muito menos na internet. Quase ninguém gosava destes privilégios na época, minha família, menos. Eu sabia porque lia atrás dos carros, geralmente no porta-malas, o nome de cada um, associando com o logotipo da montadora. Parece besteira, mas para a minha idade, a partir dos 4 anos, no final dos anos 1980 e início dos 1990, era surpreendente. Sem brincadeiras, eu sabia até mais que o mecânico e amigo da família que morava próximo. Assim, me apaixonei por carros, especialmente os grandes.
Lembrando disso, hoje sinto falta não apenas de brincadeiras e costumes antigos, embora não retrógrados, mas também de palavras que faziam parte do nosso simples e cotidiano vocabulário. Quanto tempo não ouço a palavra quintal, e.g.? Como era bom ter um quintal! Tínhamos pé de manga, goiaba, mamão, banana, jambo, graviola, todos os tipos de ervas para chás: cidreira, capim-santo, hortelã, aroeira, boldo, sambacaitá, babosa, etc. Todas as tardes, 16 horas, ou estávamos no nosso quintal, ou no quintal de alguém, e escutávamos nossos tios gritarem: "Hora de tomar banho!"
Os dias mudaram, os costumes também. Os quintais deram lugar as áreas de serviço nos apartamentos. Os pés de frutas e ervas para chás deram lugar a polpa congelada e caixinhas da Maratá ou Dr. Oetker (sem merchandising), os carros ficaram todos iguais, nas cores populares, na potência e na aparência. As brincadeiras infantis não se resumem mais a socialização cara-a-cara: jogar chimbra (ou bolas-de-gude), pião, queimado, cuz-cuz (bem regional esta), esconde-esconde, garrafão, travinha (usávamos dois pares de chinelos, geralmente velhos, para servir como balisas e geralmente eram dois contra dois ou três contra três, no máximo, quem perdia entrava outra dupla ou trio), etc. Tudo era feito no quintal de casa ou no de alguém, na rua ou num terreno baldio. Realmente nos sujávamos, nos cortávamos, nos feríamos e nos ralávamos. Era muito bom. Sentíamos o cheiro do suor e não estávamos nem aí. Nosso troféu era geralmente um refrigerante, as vezes com quebra-queixo (um doce regional feito com coco, água e açúcar).
Atualmente, as "brincadeiras" (essa palavra é bem estranha para os dias de hoje) se resumem a tablets, notebooks, consoles e smarthphones, onde os aplicativos simulam as antigas diversões. Hoje tudo é simulado, emulado, informatizado. É de cortar o coração. Vejo crianças ensinando aos pais a configurar uma conta do Instagram, a interagir com as reações possíveis em publicações do Facebook, e até adolescentes configurando um sistema operacional nos dispositivos dos pais.
Todavia, a tecnologia não é por si só má, não é de todo prejudicial aos pequenos. O problema está no esquecimento dos valores aprendidos nas mais simples e singelas brincadeiras nostálgicas. Você via as pessoas face a face, decorava o semblante delas, os sinais, o jeito de andar. Lembro-me que conhecia cada membro da minha família pelo som que arrastavam os chinelos em casa (parece que ouço minha mãe se aproximando ouvindo a soleta de suas Havaianas batendo levemente nos calcanhares). Hoje, achamos que sabemos quem está do outro lado da grande rede de computadores, teclando nas redes sociais. Imaginamos, assistindo a vlogs, como seria se tivéssemos a vida dos youtubers. O fato é que nem sabemos que costumes tem, qual religião seguem, como se relacionam com seus familiares e amigos, etc.
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