O contrabandista de Deus

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No final da minha adolescência li o livro "O contrabandista de Deus", escrito pelo Irmão André. Foi um livro impactante, contava a experiência de um jovem cristão que entrava em países da Cortina de Ferro, então dominados pelo regime comunista, com um Fusquinha cheio de bíblias. O objetivo era distribuí-las entre os perseguidos pelo regime autoritário. Que ousadia extraordinária.
Como esquecer o relato de sua oração ao se aproximar das fronteiras, totalmente policiadas, com o simples pedido a Deus "Agora eu peço: faze com que os olhos desses que veem, fiquem cegos. Não deixes os guardas verem as coisas que Tu não queres que eles vejam". E as bíblias chegavam aos seus destinos. Livro marcante para muitos, como eu, e fácil entender por que, desde o seu lançamento, foram vendidos 12 milhões de exemplares. Um best-seller. Muitos anos depois tive o privilégio de ouvi-lo pregar no Brasil...

Essa história de contrabando no mundo cristão é antigo. Mas, infelizmente, não no sentido de romper barreiras humanas e entregar alimento e vida aos reféns de um regime totalitário e desumano, não para levar a palavra de Deus a quem não tinha esperança e consolo. Desde o livro de Atos, a igreja sempre recebeu entregas clandestinas de "encomendas" sem autenticidade. E essas encomendas sempre tiveram como objetivo, burlar o que deveria ser preservado e ensinado. Imiscuir conteúdos genuínos com conteúdos sem autenticidade. O evangelho veio sendo atacado e minado por esses contrabandistas, desde sempre.
A cada tempo, um tipo de "droga", a cada movimento da sociedade ou do jogo de poder, novas embalagens são usadas, embora o conteúdo tenha sempre o mesmo objetivo. Desviar a igreja do alvo, tirar o protagonismo único de Jesus de nossas vidas, propor o mau combate, estigmatizar os cristãos que identificam a "mercadoria falsa", flexibilizar princípios e valores inegociáveis que deveriam ser escudo e fortalecimento contra perigos iminentes, mas são propostos como brechas por onde o veneno do relativismo, da ideologização da fé e idolatria entrem e se instalem.

Ultimamente temos visto que o ataque à igreja de Cristo se acirrou, como há muito tempo não acontecia. A verdade que a igreja podia ensinar, agora precisa receber uma nova roupagem, talvez até, como se anunciou recentemente por um núcleo político evangélico, uma reinterpretação da Bíblia. Afinal temos agora uma nova sociedade, empoderada e mais atenta à diversidade. Lideranças identificadas sempre como "gente do bem", fala sempre mansa, bem resolvidos e reconhecidos como os verdadeiros mensageiros do amor. A qualquer preço.
Tempos críticos, especialmente por que a palavra de Deus, a mesma que Irmão André distribuiu de maneira corajosa e ousada, é usada pelos novos contrabandistas, de maneira oportunista e venenosa. Os contrabandistas "di deus" gostam muito de repetir Jesus mostrando amor à mulher adúltera, dizendo: "nem eu também te condeno". No entanto, omitem que Jesus completou a mesma frase da seguinte maneira: "vá e não peques mais". Nenhum contrabandista " di deus" tem a coragem do Irmão André, para completar a frase de Jesus, que amou, como nenhum outro homem foi capaz de amar, a cada um de nós pecadores.

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Opinião do leitor