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Palavra do leitor

O veremos!

Rever o meu pai após tantos anos seria a experiência que me faltava naquele ano; tinha três anos quando ele e a minha mãe compreenderam que sozinhos andariam melhor, ou simplesmente seriam menos infelizes.

Quatro anos depois descobri os calmantes da minha mãe no criado-mudo e as bebidas no bar da sala; um pirralho de sete anos que se alegrava tomando calmantes e bebendo rum, ou o que encontrasse. Década de 70.

Cidade do Salvador – Bahia; íamos de ônibus e isso em parte era favorável, um tempo longo para que no percurso nós, eu e a Marialice, a caçula pudéssemos conceber imagens, diálogos e botar as ideias e os sentimentos em ordem – tinha algumas vagas imagens, nenhuma lembrança do timbre da voz. Os meus sentimentos eram tão ou mais confusos do que os da minha irmã adolescente.

Expectativa: a palavra apropriada.

Apreensão: a situação reinante.

Angústia: nosso estado de espírito.

De um momento pra outro fomos tirados da nossa realidade simples com hábitos e problemas comuns pra uma aventura de mil quilômetros ao encontro de um desconhecido por quem não sabíamos o que sentir. Desconforto e chateação, uma viagem ruim, decididamente; só não era de todo insuportável por termos um objetivo: conhecer o nosso pai.

Eu era um sujeito estranho recém saído da dependência das drogas e do tabagismo, com sérios problemas de saude, mas feliz, a despeito do lastimável estado. Falávamos muito sobre como ele seria agora, se chegaríamos e seríamos polidos distantes, ou se correríamos ao seu encontro e o abraçaríamos sem saber o que dizer; nas nossas mentes confusas era só isso e imagens em branco e preto das fotografias do álbum de mamãe.

Hoje sou homem feito e já passei dos quarenta e pretendo, permitindo o Senhor, viver outros quarenta e tantos; tenho outra expectativa (houve um tempo em que a diferença entre o mundo que deixei – drogas, violência, contrastava (e ainda contrasta) com o mundo para o qual fui transportado – amabilidade, cuidados) e eu pensava que pedir outra coisa além de poder frequentar uma igreja seria abuso.

Hoje quero gastar toda a minha eternidade somente assim, face a face com o meu outro Pai. Se aquela viagem teve um final surpreendente, pense no desenrolar desta.

Quem ainda não tirou um tempo para imaginar como será lá? Lá na glória, pois não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir. A Igreja triunfante, noiva! Razão da nossa caminhada. Nós somos um povo triste muitas vezes; desesperançados outras tantas por perdermos a noção exata de quem somos, do que estamos fazendo aqui, porque e pra onde estamos indo.

Vivemos aqui como se este aqui fosse o nosso destino final, mas não é este o nosso mundo no qual o mal impera e do qual já fomos resgatados. Tal sistema nem de longe se assemelha ao que nos está sendo preparado pelo Senhor. Nem imagens em branco e preto desfocadas temos do Céu.

Não sou um romântico como o Padre Zezinho: “Não sei se eram verdes os seus olhos, se tinha cabelos morenos...” Minha esperança está próxima da letra de uma canção dos unicistas da banda “Voz da verdade” “Ali tudo é vida, ali tudo é paz, morte e choro, nunca mais... Tristeza e dor, nunca mais!” Pelo visto quando cita a Bíblia a voz é verdadeira.

Na sua minguada compreensão e no seu estreito vocabulário o apóstolo São João tentando descrever o indescritível abusa dos comparativos; tente contar quantas vezes ele lança mão da palavrinha “como”: “Olhos “como” bolas de fogo”, e muito mais. E quando fala da Santa cidade ele compara certamente com algum lugar do qual só conhecia antes de ouvir falar: “Muros de jaspe, ruas de ouro...”.

Ah, a Árvore da Vida no centro da Cidade e ali o Cordeiro glorificado; penso que até os “como” de João são medíocres.

O povo de Deus necessita urgentemente sonhar ardentemente com o Céu; isso refletirá na qualidade da vida dos crentes, sonhar com o porvir; o Céu.

O Cordeiro glorificado, e nós com Ele.

Eu e a Marialice desembarcamos em Salvador duas décadas atrás com o coração aos pulos e a garganta doendo de angústia; por pelo menos dez vezes pensamos que homens sisudos e bem vestidos fossem o nosso pai, mas ele surgiu de camisa e bermudas brancas e sandálias de couro; Marialice e ele se abraçaram demoradamente, uma imagem ainda hoje forte na minha memória; e eu, bem, eu estiquei a mão, pedi a benção e olhei pro chão.

Mas lá, livre de todas as convenções auto-impostas pelos muitos anos de escuridão, quem sabe ao vê-Lo eu quebre o protocolo e corra ao Seu encontro e tasque-Lhe um beijo um abraço e, dispare a falar (quando calmo, já falo mais que a nêga do leite, imagine eu e Ele, faca a face).

Mas desta vez não desviarei o olhar, porque olhar pra Jesus, face a face é a razão minha de ter esperança n’Ele, Jesus esperança nossa. Isso me sustenta. ... Assim O veremos!

(ex-interno do Centro de Recuperação de Mendigos – Missão Vida)

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Londrina - PR
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