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Opinião

A medicina do perdão

Por Jorge Cruz

O perdão ocupa um lugar central na tradição moral judaico-cristã, tanto na nossa relação com Deus como uns com os outros. É um ato de favor imerecido, que nos relacionamentos humanos tem alguma semelhança com o perdão que Deus confere aos que o buscam com genuíno arrependimento (cf. Ef 4.32; Cl 2.13, 3.13).

Perdoar é uma característica distintiva da mensagem libertadora do Evangelho. Disse Jesus: “³⁷ Não julguem e vocês não serão julgados; não condenem e vocês não serão condenados; perdoem e serão perdoados” (Lc 6.37). Na oração modelo do Senhor, o perdão que damos aos outros é um reflexo do perdão misericordioso que recebemos de Deus (Mt 6.12). Alguns rabis no tempo de Jesus ensinavam que uma pessoa deveria perdoar outra até três vezes. Quando Pedro perguntou a Jesus se sete vezes seria aceitável, pensava certamente que seria elogiado pelo Senhor pela sua magnanimidade. Porém, Jesus respondeu-lhe: “Não até sete, mas até setenta vezes sete” (Mt 18.22), querendo deste modo ensinar que perdoar faz parte da natureza do cristão. E o próprio Senhor deu um exemplo sublime de perdão, quando no momento em que era crucificado no calvário, num sofrimento atroz e inimaginável, ter orado a favor dos seus inimigos: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.24). Eles jamais imaginavam que estavam crucificando não apenas um homem inocente, mas Deus encarnado, que veio para resgatar a humanidade perdida das garras do diabo.

Na carta de Paulo ao seu amigo Filemon, o apóstolo pede-lhe para fazer algo impensável no mundo antigo greco-romano: perdoar ao seu escravo Onésimo, que tinha fugido, provavelmente roubando-lhe alguns bens ou dinheiro, e recebê-lo de volta em sua casa, não já como um escravo mas como seu irmão em Cristo, com a mesma alegria e amabilidade que demonstraria para com o próprio Paulo.

O perdão desempenha um papel importante na saúde física, mental e espiritual de uma pessoa, conforme tem sido reconhecido em vários estudos científicos. Está associado a relacionamentos interpessoais mais saudáveis, maior autoestima, redução de sintomas de ansiedade e depressão, redução dos níveis de estresse e hostilidade, diminuição da pressão arterial, melhoria da saúde cardiovascular e da qualidade do sono.

O perdão não nega a dor ou injustiça sofrida. Perdoar não significa esquecer, tolerar ou desculpar comportamentos prejudiciais ou abusivos. É uma decisão consciente e voluntária, muitas vezes difícil, que se traduz em aceitação, cura interior e libertação emocional.

O bispo anglicano Desmond Tutu (1931-2021), que presidiu a Comissão de Verdade e Reconciliação na África do Sul, constituída para investigar violações dos direitos humanos na era do Apartheid, escreveu: “Até que possamos perdoar a pessoa que nos prejudicou, essa pessoa terá as chaves da nossa felicidade, essa pessoa será o nosso carcereiro. Quando perdoamos, nós recuperamos o controle do nosso próprio destino e dos nossos sentimentos. Tornamo-nos os nossos próprios libertadores”.



Perdoar significa soltar ou deixar para trás. Os grupos de Alcoólicos Anónimos dizem que o ressentimento é o inimigo número 1 para uma recuperação do alcoolismo. De fato, a palavra ressentimento significa sentir outra vez, e não é saudável cultivarmos e preservarmos emoções negativas e atitudes de ódio e inimizade em relação a outras pessoas. Há um provérbio indiano que diz que a raiva profunda é mais destrutiva do que a espada. O ódio, a amargura, o ressentimento e o desejo de vingança são autodestrutivos.

É claro que o perdão não apaga o passado, mas impede que as experiências negativas do passado envenenem o nosso futuro. Tal como José do Egito, quando perdoamos deixamos de querer fazer justiça com as nossas próprias mãos e reconhecemos que Deus é o justo e perfeito Juiz (cf. Rom. 12:19).

O perdão reconcilia-nos com o passado e demonstra que temos confiança no Senhor em relação ao futuro. A evidência de que perdoamos completamente quem nos ofendeu (mesmo que não tenha consciência disso), é quando não mais nutrimos sentimentos negativos em relação a essa pessoa e, se estiver viva, oramos sinceramente para que Deus abençoe a sua vida.

Talvez a maior motivação para perdoarmos seja a nossa experiência pessoal de termos sido perdoados por Deus e termos a consciência de que precisamos de receber perdão pelo mal que, consciente ou inconscientemente, fizemos aos outros.

  • Jorge Cruz é médico especialista em angiologia e cirurgia vascular, doutor em bioética, membro do Comitê de Países de Língua Portuguesa da International Christian Medical & Dental Association (ICMDA), membro honorário da Associação Cristã Evangélica de Profissionais de Saúde (ACEPS-Portugal), membro do Conselho Internacional da PRIME – Partnerships in International Medical Education. Mora em Porto, Portugal.

Imagem: Pixabay.


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Saiba mais:
» O Caminho do Coração – Meditações diárias, Ricardo Barbosa
» Expiação – Culpa, Perdão e o Sacrifício de Cristo, Eleonore Stump
» A ação terapêutica do perdão de pecados, Prateleira
» O que a Bíblia ensina sobre perdão?, por Vilson Scholz

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