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Opinião

Fé, transformação social e inclusão – vida e obra de José de Souza Marques

Todo ser humano é criado à imagem e semelhança de Deus e a sua dignidade é um princípio inegociável

Por Jacira Pontinta V. Monteiro

José de Souza Marques (1894–1974), foi um homem negro, neto de escravizados e oriundo de uma família humilde na região de Cascadura, Zona Norte do Rio de Janeiro, cuja trajetória sintetiza a resistência, a superação e a construção de identidade a partir dos valores do Evangelho. Sua origem humilde não impediu que se destacasse em diversas áreas do conhecimento, sendo um exemplo claro de superação e ascensão social.

Formado em ciências e letras, Souza Marques também concluiu o curso de teologia em 1922 no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, localizado no Rio de Janeiro, e ainda se formou em direito, adquirindo uma formação sólida e multidisciplinar. José de Souza Marques é uma figura multifacetada pois desempenhou diversos papéis na sociedade brasileira, sendo educador, político, advogado, pastor e teólogo. Esse perfil reflete a complexidade do Brasil nas primeiras décadas do século 20, um período em que o país enfrentava uma crescente tensão entre modernização e a preservação dos valores tradicionais.

Ao ocupar diferentes funções, Souza Marques se tornou uma figura central, simbolizando que a educação era uma chave importante para a mobilidade social, especialmente para as classes mais baixas. Sua trajetória destaca a busca por inclusão e transformação social em um momento em que o acesso à educação era limitado para grande parte da população.

A formação religiosa de Souza Marques foi central em sua vida pública. Ele foi um exemplo notável de como a fé cristã pode ser uma força propulsora de transformação social e inclusão no espaço público brasileiro. Como pastor batista formado pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Rio de Janeiro, ele compreendia a dignidade humana como um princípio inegociável, firmemente ancorado na doutrina da Imago Dei – a crença de que todo ser humano é criado à imagem e semelhança de Deus. Esta convicção dele serviu de base para sua militância em favor da educação, da cidadania e da igualdade racial no Brasil do início do século 20.

Marques fundou a Escola e o Instituto Politécnico Souza Marques, instituições criadas para democratizar o acesso à educação de qualidade para pobres, negros e outras camadas socialmente marginalizadas. O Instituto se transformou na Universidade Souza Marques, e hoje em dia é uma das mais importantes do Rio de Janeiro. A visão de fé do Souza Marques aplicada à transformação da sociedade promoveu a educação como um meio de libertação.

No campo político, foi eleito como deputado estadual no Rio de Janeiro várias vezes e sua atuação foi pautada por seu lema "Sempre ao lado da educação", refletindo sua visão cristã de serviço público. Souza Marques via a política como extensão de sua vocação pastoral: uma ferramenta para servir aos mais vulneráveis, para promover justiça e para testemunhar os valores do Reino de Deus no espaço público.

Apesar dos desafios raciais e das estruturas excludentes de sua época – incluindo o Brasil pós-escravidão e o ambiente repressivo da Ditadura Militar –, Marques se manteve firme em sua missão, inspirado por princípios cristãos de resiliência, amor e esperança. Sua fé era ativa: ele não apenas pregava o Evangelho no púlpito, mas o encarnava.

No dia 11 de novembro de 2024, tive a oportunidade de entrevistar Jessé de Souza Marques, sobrinho do José de Souza Marques. Na ocasião fiz perguntas sobre a vida e a importância de José de Souza Marques para a sociedade brasileira. Aqui estão duas respostas que considero importante refletirmos:

Entrevistadora: Então, a religião era uma das bases das atitudes e pensamentos de Souza Marques?
Jessé: Sim, com certeza. Ele acreditava em princípios cristãos como orientadores da sociedade. Era conciliador e lutava pelo que acreditava de forma ética e respeitosa.

Entrevistadora: Então, a maior lição que vocês, como família Souza Marques, deixam é a de enfrentar os desafios de cabeça erguida.
Jessé: Exatamente. A mensagem é essa: não permitir que o preconceito nos defina ou nos limite. A história da nossa família mostra que, com dignidade e trabalho, podemos ir além das barreiras impostas pela sociedade.

Ética elevada, religião à serviço da sociedade, entender e crer na dignidade intrínseca de cada ser humano a começar por si. José de Souza Marques não ficou apenas no passado. Hoje, o legado de José de Souza Marques permanece como testemunho da fé cristã atuando na sociedade. Seu exemplo desafia a igreja contemporânea a pensar a missão não apenas como evangelização verbal, mas também como ação social transformadora, enraizada no princípio bíblico de que "a fé sem obras é morta" (Tg 2.26).

Reconhecer José de Souza Marques é reconhecer que a religião cristã no Brasil tem – e deve continuar tendo — uma vocação pública de justiça, educação e dignidade humana. Sua memória é um chamado para que cristãos hoje se posicionem com coragem e sabedoria no enfrentamento das desigualdades e na construção de uma sociedade mais justa, refletindo o Reino de Deus "assim na terra como no céu". Honrar a memória histórica do Marques, colocá-lo em evidência, é um ato de respiro e de esperança para uma sociedade que carece de exemplos positivos da atuação da igreja no espaço público.

  • Jacira Pontinta V. Monteiro, autora de O Estigma da Cor (Editora Quitanda e Thomas Nelson Brasil) que fala sobre o racismo a partir de uma perspectiva bíblico-teológico. Mestra em educação, arte e história da cultura (Universidade Presbiteriana Mackenzie) com título da dissertação José De Souza Marques, Uma Representação Social e Identitária. Pós-graduada em teologia bíblica e exegética do Novo Testamento (Faculdade Internacional Cidade Viva). Graduada em ciências contábeis, com interesse de pesquisa na contabilidade no período da escravidão, na contabilização, mercantilização e objetificação dos escravizados. Palestrante. @jacirapvm.


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