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Opinião

Como lidar com traumas e lembranças ruins do passado

Por Maria Luiza Rückert

O Prêmio Nobel da Paz de 2018 foi concedido a Denis Mukwege e Nadia Murad.

Ele é um médico ginecologista do Congo, que se dedicou a recuperar a vida de mulheres vítimas de estupros. Depois de estuprarem as mulheres, os homens disparavam tiros contra a genitália delas, atingindo também as coxas. Uma perversa combinação de sexo e violência. Ao entrarem no hospital, as mulheres estavam mutiladas. Com financiamento da Unicef e doadores, o médico estruturou um hospital com 350 leitos e organizou um sistema para dar suporte para as mulheres recomeçarem as suas vidas. Atendeu mais de 30 mil mulheres vítimas de estupros e torturas. Sofreu um atentado, mas persistiu na sua luta para apoiar mulheres vítimas de violência sexual.

Ela pertence à minoria étnica e religiosa yazidi, no Iraque. O Estado Islâmico matou seu pai e seus irmãos e ela foi levada prisioneira, sendo escrava sexual durante três meses. Estima-se que três mil mulheres e meninas yasidis tenham sido estupradas. Em 2014, ela conseguiu escapar e tornou-se ativista para impedir o tráfico humano. Em 2016, ela foi nomeada embaixadora da Boa Vontade, na ONU.

Os dois tiveram que lutar para superar os traumas do passado. Quando ouvimos esse tipo de relatos ou vemos filmes como A lista de Schindler e O menino do pijama listrado, então constatamos que os piores traumas são infligidos por outro ser humano. É dramático quando uma enchente ou um incêndio destroem tudo o que se construiu e até acabam com a vida de um familiar. Mas é incomparavelmente mais dramático o que aconteceu nos campos de concentração e o que continua acontecendo numa guerra.

Se o ser humano é o brutal algoz de outro ser humano, resta a pergunta: Onde ficou a imagem de Deus? Ainda podemos ver a imagem de Deus num torturador? Ou estamos diante de uma deformação?

Mas, na medida em que o ser humano pode se tornar uma aberração, Deus também tem suscitado o surgimento de pessoas que dedicam seu conhecimento e sua pesquisa para ajudar o seu semelhante a superar traumas.

Vejamos a superação dos traumas, que pode ser proporcionada pela terapia EMDR, uma sigla em inglês que significa Dessensibilização e Reprocessamento pelo Movimento dos Olhos.

Em 1987, a psicóloga Francine Shapiro estava passeando num parque da Califórnia. Defrontando-se com lembranças desagradáveis e perturbadoras, ela começou a movimentar os olhos para a direita e para a esquerda; é o mesmo movimento que fazemos no sono REM, quando sonhamos. E ela percebeu que estava ocorrendo uma dessensibilização das emoções desagradáveis.

Esse movimento dos olhos estimula os hemisférios cerebrais. No hemisfério direito predominam as emoções. E o hemisfério esquerdo destaca-se pela lógica e pelo raciocínio técnico.

O equilíbrio neurológico possibilita o processamento espontâneo e natural das informações. A informação útil é armazenada e fica disponível na memória. Mas, uma situação perturbadora e traumática pode ocasionar um desequilíbrio no sistema nervoso. Com o processamento de informações prejudicado, permanecem no cérebro emocional as lembranças disfuncionais.

Mediante o movimento dos olhos é acionada a rede neurológica onde a lembrança traumática ficou presa, e o cérebro é estimulado a reorganizar a lembrança disfuncional e processá-la de forma funcional. A partir de então, a rede onde o trauma está arquivado passa a cooperar com a rede que possibilita a compreensão das informações. A dimensão emocional e o conhecimento racional passam a trabalhar juntos.

Enquanto os dois hemisférios do cérebro não estiverem cooperando entre si, as emoções traumáticas permanecem travadas. É preciso promover a conexão entre a dimensão emocional e o conhecimento racional. E essa conexão é efetivada mediante o movimento dos olhos.

Francine Shapiro também observou que sons alternados – da esquerda para a direita – nos fones de ouvido, ou palmadas suaves ora na mão direita, ora na esquerda produzem o mesmo efeito.

A pessoa traumatizada é incentivada e relembrar o episódio perturbador. Enquanto a pessoa evoca uma imagem marcante, ela recebe o estímulo, que pode ser visual, sonoro ou tátil. Acontece, então, uma dessensibilização da lembrança traumática. E, também, um reprocessamento das informações no cérebro.

As pessoas submetidas à terapia do EMDR declaram que a lembrança traumática está lá no passado; ela continua existindo, mas não incomoda mais. Livre da carga disfuncional, a memória traumática perde a potência. E a partir de então, a pessoa está em condições de elaborar uma nova compreensão do ocorrido, um reprocessamento.

Em seu livro Curar, o neurocientista David Servant-Schreiber relata que a revista Journal of Consulting and Clinical Psychology publicou “um estudo com oitenta pacientes com traumas emocionais que foram tratados com EMDR”. O médico prossegue: “Nesse estudo, 80% dos pacientes sentiram recuperação de suas síndromes traumáticas depois de três sessões de noventa minutos. Esse índice de recuperação é comparável ao dos antibióticos no caso de pneumonia”. E o neurocientista conclui: “O mesmo grupo de pacientes foi analisado durante quinze meses e descobriu-se que eles desfrutavam daquele benefício quinze meses após o tratamento”.

Os resultados terapêuticos do EMDR são reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A terapia é breve e eficaz, como mostram os vídeos na internet.

Assim como o corpo pode curar a si mesmo, quando nos machucamos, também a mente pode se restabelecer, afirma Francine Shapiro. E nós acrescentamos: “Graças a Deus”.

• Maria Luiza Rückert, autora de Capelania Hospitalar e Ética do Cuidado, cursou teologia na Escola Superior de Teologia (EST), em São Leopoldo, RS, e aprofundou seus estudos em clínica pastoral no hospital da Universidade de Minnesota, Estados Unidos. Pós-graduada em ética, subjetividade e cidadania, atuou como capelã no Hospital Evangélico de Vila Velha, ES, durante vinte anos. Maria Luiza também preparou mais de uma centena de voluntários para o ministério de visitação em hospitais e capacitou agentes da Pastoral da Saúde. Site: www.capelaniamarialuiza.org/

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