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Opinião

O ano das oportunidades

Por Marcos Simas e Carlos Fernandes

Quando a história debruçar-se sobre este primeiro semestre de 2017, é bem provável que se chegue à conclusão de que o período durou mais, muito mais, do que apenas seis meses, tamanha a quantidade de fatos ocorridos desde janeiro. Entre crises, mudanças radicais e novas realidades, o Brasil e o mundo se perguntam para onde as coisas vão caminhando – e as respostas não são nada fáceis de encontrar. Ao redor do planeta, o fantasma da guerra e a ameaça estridente do terror provocam a maior crise humanitária dos últimos setenta anos, ao mesmo tempo em que o Ocidente vê suas bases sociais e culturais ameaçadas pelo extremismo de matriz religiosa. Aqui, do lado de baixo da linha do Equador, recessão, corrupção e violência são os temas obrigatórios da agenda brasileira. Em um dos momentos mais delicados de sua história, o país se vê às voltas com a erosão ética que afeta os três poderes da República e tem reflexos diretos na economia e na vida das pessoas.

No âmbito internacional, esta primeira parte de 2017 trouxe angústias e temores. O Relatório Global Sobre Deslocamento Forçado, divulgado pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), revela que nada menos que 65,6 milhões de pessoas passaram por deslocamento devido a conflitos, guerras ou, simplesmente, a miséria em suas regiões de origem – quase sempre, o conturbado Oriente Médio e a África. O drama dos refugiados, uma tragédia humanitária que se equipara à provocada pela II Guerra Mundial (1939-1945), desafia o mundo. Quase a metade da população da Síria teve de deixar suas casas devido ao conflito entre o governo do presidente Bashar al-Assad e forças rebeldes, que se arrasta desde 2011 e que já se transformou numa reedição da Guerra Fria, uma vez que Rússia e Estados Unidos se digladiam no apoio aos lados opostos do conflito.

Por conta da crise, levas de refugiados chegam sem parar à Europa. Só nos primeiros seis meses deste ano, foram 60 mil, sendo que cerca de 1,5 mil pereceram na perigosa travessia clandestina do Mediterrâneo. Eles são enviados para centros de detenção antes de serem repatriados para seus países, mas muitos voltam a cair em armadilhas de redes organizadas por traficantes, que os extorquem e praticam atos violentos. Os que conseguem se estabelecer no Ocidente são associados a outros problemas. Enquanto grupos de direita ganham voz pregando a xenofobia, atos de terror perpetrados por simpatizantes do grupo extremista Estado Islâmico (EI) ou mesmo por gente nascida na Europa, mas cooptada pelo radicalismo muçulmano, apavoram o continente. Só na Grã-Bretanha, três atentados deixaram 36 mortos e centenas de feridos entre março e junho. No pior deles, em maio, um suicida detonou uma bomba em um show de rock repleto de adolescentes, em Manchester. Na França, ainda traumatizada pela série de ataques há dois anos, que culminaram no massacre da boate Bataclan, também reivindicados pelos radicais do EI, que deixaram 160 mortos, pequenas ações – como motoristas que atiram carros contra pedestres ou, simplesmente, saem atirando a esmo – revelam o ódio insano de extremistas contra o modo de vida ocidental.

Crise para todo lado

Na sociedade brasileira, a face mais cruel é exposta pela violência. E poucas vezes elas estiveram tão afiadas quanto em 2017. O ano mal começou e rebeliões sangrentas estouraram penitenciárias no Amazonas, Rio Grande do Norte e Maranhão, deixando mais de 200 mortos. Fora das cadeias, é a população civil que se vê refém do crime. Em maio, o Ministério da Saúde divulgou que, a cada ano, 60 mil pessoas são assassinadas no Brasil – situação que faz do país um campeão mundial nessa triste estatística, superando regiões conflagradas como Iraque, Síria e África Subsaariana juntas. De acordo com o Atlas da violência 2017, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, homicídios contra jovens entre 15 e 29 anos – em sua maioria negros ou pardos, habitantes de periferias e com baixa ou nenhuma escolaridade – são 55% do total. “Este panorama compromete não só o cotidiano de cada um, já que o brasileiro vive com medo, mas, também, o futuro do país”, avalia o doutor em Sociologia Eurico Ramos de Oliveira, professor de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP). A outra má notícia revelada pelo estudo é que ficou no passado aquela tranquilidade típica das cidades do interior. A violência ultrapassou os limites das metrópoles e já faz quase o mesmo número de vítimas nas cidades pequenas e nas grandes – mais de 25 mil por ano.

O desemprego, um dos maiores fantasmas que assombram os brasileiros, dá saltos a cada estatística. Em abril, a taxa, que havia batido 12% no fim do governo da presidente Dilma Rousseff, há pouco mais de um ano, encostou nos 13,6% em abril. Desde janeiro, houve um acréscimo de 1,1 milhão de pessoas no número de desempregados, que chegou à cifra recorde de 14 milhões, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, a Pnad. O levantamento leva em conta apenas aquelas pessoas que procuraram ocupação nos dois meses anteriores à pesquisa, ou seja, exclui os chamados “desempregados crônicos” – gente que já desistiu de achar trabalho ou que se mantém com os ganhos incertos da informalidade. “O mercado de trabalho chegou ao fundo do poço”, resume Fernando de Holanda Barbosa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). É o caso de Vicente Almeida de Araújo, que perdeu o emprego de repositor em um supermercado. Desde então, a última anotação em sua Carteira de Trabalho é a baixa, assinada em outubro de 2014. “A gente não consegue mais nada”, desanima-se. Ele tem sustentado a mulher e os dois filhos com o que ganha em biscates. Vicente olha para o futuro de maneira sombria: “Já não sei se, um dia, terei um emprego de verdade de novo.”

Para os analistas, a instabilidade política do país é o maior entrave à recuperação econômica. Empossado em maio de 2016 com uma ampla plataforma de reformas, como as da Previdência, a fiscal e a trabalhista, o presidente Michel Temer tenta se manter no cargo após diversos escândalos de corrupção envolvendo seus ministros e, principalmente, das explosivas denúncias feitas pelo megaempresário Joesley Batista, em maio. Em delação premiada, Batista, que se tornou multimilionário na última década com polpudos investimentos de dinheiro público via Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), revelou que Temer age no submundo da corrupção nacional. A semiparalisia do governo já vem desde 2015, mas, nos últimos meses, o país empacou de vez – derrocada que é sentida de forma aguda em estados como o do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, às voltas com verdadeiras calamidades financeiras.

Enquanto isso, nas igrejas evangélicas, a crise econômica que leva de roldão o emprego e a renda dos fiéis também é sentida – todavia, muitos líderes não estão pessimistas e acreditam que o momento, embora requeira cautela, pode até trazer benefícios. “A crise é real, mas as contribuições não diminuíram”, informa o pastor Levi Araújo, gestor ministerial e administrativo da Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo. De acordo com Araújo, a igreja tem trabalhado com mais austeridade. “O número de desempregados entre os membros aumentou consideravelmente, e temos servido mais organizações e famílias afetadas”. Na mesma linha vai o pastor Carlos Prata, presidente da Igreja Evangélica Congregacional de Bangu, no Rio de Janeiro. “Nós, os líderes, temos adotado uma postura de maior atenção aos gastos. Temos visto a crise como oportunidade de reflexão e mudanças”. Rechaçando a pessimismo, Prata lembra a afirmação bíblica de que o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas sim, paz, justiça e alegria no Espírito Santo. “Sei que é um desafio, mas acreditamos que, com Deus, tudo há de passar.”

Reflexão e mudanças

Neste panorama, não são numerosas as vozes que se levantam para assinalar avanços. Porém, eles existem, e estão à vista de todos. No caso brasileiro, o funcionamento das instituições, em que pesem episódios de impunidade explícita e acobertamento, nunca foi tão evidente, sobretudo na esfera penal. A Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal (PF) em 2014, visa a desmontar um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que movimentou bilhões de reais nas sombras, com o beneplácito de autoridades dos poderes Executivo e Legislativo. A PF apontou o pagamento de propinas astronômicas a agentes políticos, envolvendo executivos de empresas, especialmente empreiteiras, levando à cadeia empresários do porte de Marcelo Odebrecht e Eike Batista – fato inédito na crônica policial nacional. Ao mesmo tempo, políticos de alto coturno, como José Dirceu, do PT, ex-ministro-chefe da Casa Civil nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foram julgados e condenados. No Rio de Janeiro, o ex-governador Sérgio Cabral cumpre a primeira pena, de 14 anos de prisão, a que foi condenado por capitanear a quadrilha que drenou recursos públicos por quase dez anos. Atualmente, cerca de 80 integrantes do Congresso Nacional e três governadores são investigados ou já respondem como réus em ações movidas por suspeita de envolvimento em atos de corrupção. Até o presidente Temer sofre investigações por conta de denúncia da Procuradoria-Geral da República.

A sensação de impunidade, chaga social do brasileiro, já não é tão intensa quanto antes de o juiz federal Sérgio Moro, do Paraná, e os jovens procuradores federais envolvidos nas investigações da Lava Jato, ganharem as páginas do noticiário. Por isso mesmo, cresce o interesse do cidadão comum pelos mecanismos de controle e fiscalização da coisa pública. O Portal da Transparência do Governo Federal registra uma média de quase 1,5 milhão de visitas mensais, o maior desde a criação do site, em novembro de 2004, pela Controladoria-Geral da União (CGU). “A função de controle é central para o aprimoramento institucional da nossa administração pública no âmbito do Poder Executivo federal”, destaca o secretário federal de Controle Interno da CGU, Antônio Eduardo Bessa.

Desespero ou esperança?


Em meio a tantas crises, como os cristãos devem se portar? Sem dúvida, a sensação de caos generalizado é como uma infecção social que tem a capacidade de fazer mal à alma. Nas redes sociais, os comentários a episódios como os que relacionamos aqui, feitos por cristãos, demonstram que muitos ainda não perceberam a rica oportunidade que está diante de nós. Queremos aqui destacar algumas dessas oportunidades. Entre crises e esperanças, a ambiguidade da vida precisa ser encarada. “A vida é ambígua. Há finais indefinidos. É preciso ter maturidade para se viver com a o absurdo e a desorganização”, diz o pastor e escritor Eugene Peterson. “Se nos recusarmos a viver com estes elementos, excluímos algo, que pode muito bem ser o que é essencial e valioso – os perigos da fé, os mistérios de Deus.”

Oferecer nossa vida em serviço àqueles que precisam de nossas ações sociais pode servir como poderoso testemunho de amor ao próximo, conforme 1João 4.7-8. Se o cristão tiver atitudes resultantes de uma vida espiritual autêntica e bíblica, bem como de uma fé verdadeira, as boas notícias do Evangelho chegarão ao povo oprimido, injustiçado, abandonado e assaltado pelas autoridades, mostrando que Jesus é o verdadeiro modelo de integridade para um mundo corrompido em seus delitos e pecados.

Praticar o perdão, conforme preconiza o texto de Colossenses 3.13, pode restaurar vínculos rompidos por causa de conflitos provocados por corações magoados, sofridos e inflamados daqueles que foram injustiçados, ou que perderam seu emprego, interrompendo planos familiares e pessoais e que estão sofrendo, de alguma forma, privações e provações.

Em momentos como o atual, no qual ocorre uma verdadeira avalanche de más notícias, a certeza de que há um Senhor soberano que responde orações, ouve o clamor e faz justiça ao oprimido e necessitado pode renovar forças.

Quem crê no senhorio de Jesus não precisa reagir aos problemas da vida apenas pelo que vê, mas deve sempre olhar além pela fé, aproveitando os tempos difíceis para amadurecer. Devemos clamar por justiça, para que ela seja feita de forma igualitária para todos, sabendo que ela pode e deve expor os pecados de nossa nação (2Crônicas 7.14-15). Porém, não se pode ter a presunção de que apenas políticos, empresários, policiais, ou qualquer outro grupo, são os únicos passíveis de justiça. A proclamação da paz (Mateus 5.9) é o que pode trazer renovo àqueles que vivenciam o clima de guerra e de conflito, presente em nosso dia a dia, respeitando o direito dos outros de fazer suas escolhas – inclusive, religiosas –, da mesma forma que fizemos a nossa.

A Igreja é desafiada a ver além do momento atual e perceber que há um Senhor, um soberano Deus de amor, cujos planos não podem ser frustrados. Acreditar que o Senhor é tudo e que não somos nada (Apocalipse 22.13) é crer que ele é misterioso, inalcançável e incompreensível – Um Deus que nem mesmo a nossa racionalidade cristã consegue compreender toda a sua magnitude (Romanos 11.33-36). Ele tem sempre a primeira e a última palavra, hoje e para sempre.

• Marcos Simas é casado com Alzeli e pai de Pedro e Clara. Trabalha como editor, tendo publicado mais de 400 obras ao longo de mais de 25 anos.
• Carlos Fernandes é jornalista, editor e redator e membro da Igreja Missionária Evangélica Maranata, do Rio de Janeiro.

Créditos das imagens

Imagem (1) em destaque: Andrey Larin/Unplash.com.
Imagem 2: Refugiados recém-chegados acenam ao se aproximarem da costa de Lesbos, ilha na região do Egeu, no norte da Grécia. Foto: UNICEF/Ashley Gilbertson VII
Imagem 3: Marcelo Camargo/ Agência Brasil (14/01/2017).
Imagem 4: Pedro Ventura / Agência Brasília.
Imagem 4: Supremo Tribunal Federal (STF) retoma o julgamento sobre a validade dos termos do acordo de delação premiada da JBS. Foto:Marcelo Camargo/EBC/FotosPúblicas
Imagem 5: Brasília – Máscaras representando parlamentares desonestos são colocadas no gramado em frente ao Congresso Nacional. O ato é realizado pela ONG Rio de Paz. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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