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Opinião

Consequências irreparáveis da tragédia em Mariana

Por Marcelo Renan D. Santos

Faz dois anos que a barragem de Fundão se rompeu em Mariana, MG. Os prejuízos foram incalculáveis. A própria Renova, fundação criada para executar as ações de reparação e compensação, reconhece que esta foi a maior tragédia ambiental da história do país e a maior do mundo na mineração.

Desde o acidente, a empresa Samarco continua sem operar, com milhares de trabalhadores desempregados e municípios que dependiam das atividades da empresa estão com sérios problemas financeiros. O rio Doce e seus afluentes continuam contaminados, porém, a lama não é mais tão visível. A cor da água parece normal, mas o fundo de lama alaranjada revela a tragédia ambiental. Apesar de muitas ações reparatórias feitas pela empresa e de muita propaganda nas redes sociais, aquilo que é irreparável continua como ferida aberta na vida das pessoas diretamente atingidas.

As famílias das vítimas fatais foram “compensadas” com valores em dinheiro. Os que perderam suas casas receberam um pagamento pela perda do imóvel. Mas quanto custa a história de vida de pessoas de vilas rurais, que tinham nas galinhas, no pé de manga e na horta a sua estabilidade emocional, paz de espírito e segurança? Histórias como a de uma gestante que perdeu o bebê após ser arrastada pela lama, por um quilômetro. Ela luta para que esse aborto seja considerado a vigésima vítima fatal da tragédia, pois seu “caso” não está incluído no pacote de compensações às vítimas [1].

As ruínas das cidades destruídas não podem ser demolidas ou reconstruídas pois são a prova do crime. Pessoas da roça, transferidas para Mariana, aguardam a restauração de suas casas e vilas prometida para 2019. Na nova cidade têm sido hostilizadas e consideradas culpadas pelo desemprego [2]. São chamadas de “pé-de-lama” que recebem o “bolsa lama”. Não é à toa que muitos delas estão em depressão, sem segurança nas expectativas e promessas [3].

A pesca ainda está proibida em partes da bacia do rio Doce e na sua foz deixando pescadores dependentes de um cartão de benefício emergencial muito aquém da renda média obtida com a atividade. Agora terão que criar peixes de menor valor comercial em tanques para obterem renda. Para um bom comedor de moqueca como eu, a troca de peixes do mar como badejo, pescadinha ou robalo por tilápia não faz o menor sentido, e isso se reflete no valor que as diferentes espécies de peixe têm no mercado.

A recuperação ambiental ainda está muito longe de ser realidade. Um relatório do IBAMA [4] mostra que a maior parte dos danos ambientais ainda não foi reparada e que as ações que já foram feitas ainda estão em fase inicial ou insuficiente. Qualquer ação de reparação de danos deve ser pensada a longo prazo e especialmente no sentido de aumentar a capacidade de auto recuperação da natureza.

A Renova espera cadastrar até o próximo ano aproximadamente 25 mil pessoas como afetadas pela tragédia. Apesar da imensidão de danos e prejuízos [5], qual a posição que os órgãos fiscalizadores e as empresas mineradoras têm assumido para impedir que novas tragédias como essa ocorram? Existem centenas de outras barragens de rejeitos em todas as áreas de mineração do país. O que impede novas tragédias como essa? Estamos seguros? Certamente não.

Porém, o mais urgente ainda é cuidar das pessoas. Os pobres que não podem pagar advogados estão à mercê do que os dirigentes das empresas envolvidas acham que é justo. E quem poderá defendê-los e zelar pelos seus direitos? Como as igrejas cristãs têm se posicionado a respeito dessa tragédia? Com que atitudes? Não basta tocar sinos em protesto ou homenagens póstumas no aniversário da tragédia. A igreja de Cristo deve contribuir, especialmente buscando as pessoas que são vítimas e oferecendo aquilo que possa dividir. Além disso, cada pessoa, especialmente os seguidores de Jesus devem repensar o modo como vivem nesse mundo do consumo. Siga os passos do Mestre. Lembre-se de como Jesus vivia em relação aos bens que ele poderia ter tido enquanto esteve entre nós. Jesus fez a escolha certa de viver com o que tinha. E se não tivesse nada, tudo bem.

Tragédias como a de Mariana têm como pano de fundo uma sociedade de consumo baseada em “quanto mais, melhor”. O uso de recursos naturais como os minérios de forma tão intensa e sem ações efetivas de zelo pela natureza e pelas pessoas leva a tragédias, mas é justificado pela satisfação da demanda do mercado e pela geração de “riquezas” para o país. A morte de pessoas, a destruição da natureza e o desrespeito pela criação divina são danos colaterais toleráveis para o mercado. São parte do risco aceitável.

Não podemos nos conformar com esse mundo insustentável. Precisamos renovar o nosso entendimento sobre as consequências do nosso estilo de vida consumista (Rm 12:2). Não podemos tolerar tragédias cotidianas ou eventuais como um risco aceitável para obtermos os bens materiais que buscamos e que, em muitos casos, cremos consciente ou inconscientemente, depender deles para sermos felizes. O consumo sem limites leva à morte e é um problema de nós todos. Eu sinto que tenho uma parcela de culpa pelos mortos de Mariana e pelo rio Doce. E você? Tem mortos na sua conta?

Notas:
1.
Acesse aqui a matéria sobre o aborto.
2.
Acesse aqui a matéria sobre o preconceito para com as vítimas da tragédia de Mariana.
3.
Acesse aqui inúmeras histórias das pessoas que sobreviveram à tragédia.
4.
Acesse aqui o resumo do relatório do IBAMA sobre a reparação ambiental.
5.
Acesse aqui diversos infográficos com dados sobre a tragédia.

• Marcelo Renan D. Santos, médico veterinário e ecólogo, congrega na Igreja Batista da Praia do Canto, Vitória, ES.

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Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil (07/11/2015)

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