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Capa

Um jantar conturbado

Por Klênia Fassoni

Anfitrião notável
Simão, fariseu, cumpridor da Lei
convidados à mesa
vinte? trinta?
entre eles, gente fina, Jesus e seus discípulos

Jantar servido
beleza que enche os olhos
aromas que despertam o apetite

Súbito, entra uma mulher
é Mulher, tão conhecida na cidade
[não era para ela estar aqui!]

Aproxima-se de Jesus
abaixa-se e se coloca aos seus pés
derrama neles um frasco de perfume caro
[atrevida!]

Ela chora muito
(queria tanto encontrar Jesus!)
suas lágrimas se juntam ao perfume
[extravagante!]

Solta seus longos cabelos
com eles enxuga os pés de Jesus
e beija-os insistentemente
[indecente!]

Jesus, quieto, se deixa tocar
[ah! Se ele soubesse quem é Mulher…]

O perfume se mistura aos aromas dos pratos
Mal-estar, constrangimento
[estraga-prazeres!]

Jesus ouve o que Simão apenas pensou
e lhe conta uma enxuta história

Um banqueiro, dois devedores
duas dívidas impagáveis
uma dez vezes maior que a outra
ambos perdoados

“Quem será o mais grato?”
“o que recebeu perdão maior”, responde Simão
“tem razão”
“vê essa mulher?”
[é claro que vejo!]

Então, numa atitude inapropriada para um convidado
Jesus critica o anfitrião
e evoca a atitude de Mulher como modelo
[e essa agora!]

Com nova indelicadeza
Jesus reforça “o muito pecado” de Mulher
é ela quem tinha a dívida maior
[agora sim!]

Em seguida destaca:
“é ela que recebeu maior perdão”
“é ela a mais grata”
“é ela que percebeu a que vim”

E ignorando os demais
Jesus se dirige à mulher:
“eu perdoo seus pecados”
[quem ele pensa que é para perdoar pecados?!]

Ela – mesmo tão exposta – continua ali
até ouvir de Jesus:
“sua fé a salvou. Vá em paz”
fim do jantar
[que fiasco!]

Início de uma nova vida para ela
Mulher – em certo sentido – é a mesma
mas é também uma nova mulher
sabe-se perdoada e está em paz

Agora segue Jesus
junto a outros seguidores e seguidoras
todos pecadores, todos perdoados.

Escrito com base em João 12.1-8.

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